Allan Kaprow, artista pioneiro que definiu o conceito de happening em eventos que combinavam pintura, escultura e teatro

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Artista Allan Kaprow

Artista Allan Kaprow

 

Allan Kaprow o inventor dos happenings

O artista norte-americano procurou sempre uma solução para o dilema da separação da arte e da vida

Allan Kaprow (Atlantic City, Nova Jérsey, 23 de agosto de 1927 – Encinitas, Califórnia, 5 de abril de 2006), artista pioneiro norte-americano que no final da década de 50 definiu o conceito de happening em eventos que combinavam pintura, escultura e teatro.

A importância e influência de Allan Kaprow para a arte do final do século XX foi tremenda; ao longo de décadas de actividade artística, e também na sua longa carreira lectiva e académica, experimentou e misturou as mais diversas formas de expressão, numa busca incessante por uma solução para o dilema da separação da arte e da vida.

“Os artistas contemporâneos não trabalham para suplantar a recente arte moderna por uma outra forma melhor ou superior. Trabalham para reflectir sobre o que pode ser a arte. A arte e a vida não estão simplesmente misturadas. A identidade de cada uma permanece incerta”, disse em 1966.

Allan Kaprow nasceu a 23 de agosto de 1927 em Atlantic City, Nova Jérsia, e chegou a Nova York nos anos 40, para estudar história da Arte na New York University e posteriormente na Columbia University.

Duas poderosas influências determinaram o seu percurso artístico: o livro de John Dewey Art as Experience, e o movimento Expressionista Abstrato, particularmente a pintura de Jackson Pollock, que assumia a criação artística como um acontecimento físico e não como um mero processo de produção de um objeto.

Mas para o seu trabalho futuro foi também decisiva a influência do compositor e músico John Cage, com quem Kaprow estudou na New School for Social Research de Nova York no final dos anos 50, e de quem “aproveitou” o papel do acaso como um dos intervenientes do processo artístico.

Nas suas primeiras experiências artísticas, que batizou como action collages, Kaprow procurou ir mais além do que os seus mestres, compondo peças que simplesmente eliminavam a tela como o “meio” da comunicação artística e promoviam a fisicalidade dos materiais, dispostos de forma teatral, para denunciar uma determinada ação.

Foi em Outubro de 1959 que Kaprow iniciaria um novo conceito artístico, com um trabalho na sua Reuben Gallery de Nova York – Eighteen Happenings In Six Parts, uma experiência celebratória do vulgar e do extraordinário que atribuía ao público o papel central: os espectadores eram convidados a movimentar-se e intervir numa “coreografia” que os levava a observar, em simultâneo, pintores em processo criativo e mulheres a fazer sumo de laranja.

O evento, o primeiro classificado como um happening, misturava peças artísticas, música, luz, odores e movimento; o que o artista pretendia era criar ambientes nos quais a audiência pudesse “fundir-se” com a obra de arte.

Nas décadas seguintes, Kaprow foi apurando o conceito. Em 1961, em A Spring Happening, os espectadores eram bombardeados por estímulos luminosos ou sonoros que os levavam a movimentar-se pelo espaço da exposição – uma ventoinha simulava uma brisa primaveril que “empurrava” as pessoas numa direção, forçando-os depois a fugir quando o barulho de um cortador de relva os ameaçava pelo caminho.

Kaprow evoluiu depois para a composição de eventos de larga escala e de grande espectacularidade: cenas bizarras encenadas em espaços “reais” do quotidiano e dependentes da colaboração das pessoas que se encontram no mesmo espaço (happened to be there).

O mais célebre terá sido um happening em Times Square, no qual os transeuntes era convidados a esperar no passeio por um sinal luminoso a partir de uma janela. Ao sinal, os transeuntes deitavam-se no chão, e nesse momento eram “carregados” para dentro de um camião desaparecendo misteriosamente da vista das pessoas que assistiam.

Kaprow entendia os happenings como momentos de verdadeira democratização da experiência artística. O papel do artista, bem como da audiência, era reduzido a uma insignificância, o que sobrava era, como dizia, “mímica, circo, carnaval”.

Já no final da sua carreira, trocou os grandes espaços por eventos mais íntimos que definiu como ativities – algumas solitárias (como a sua série que refletia sobre a rotina quotidiana de lavar os dentes), outras a requerer o diálogo e negociação entre dois intervenientes (uma pessoa que tinha como missão estar permanentemente dentro da sombra de uma outra).

Allan Kaprow morreu aos 78 anos na sua casa de Encinitas, na Califórnia, dia 5 de abril de 2006.

“Em vez de fazer grandiosas obras de arte, Allan considerava a grandeza das coisas vulgares. Tudo podia ser inspirador e transcendente”, recordou Steve Fagin, o diretor do Departamento de Artes Visuais da Universidade da Califórnia em San Diego, que foi fundado por Kaprow.

(Fonte: http://www.publico.pt/culturaipsilon/jornal/allan-kaprow -72979 – RITA SIZA, WASHINGTON – 11/04/2006)

 

 

 

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