João Havelange, ex-presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e ex-atleta olímpico

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Brasileiro presidiu a Fifa entre 1974 e 1998

Atleta de diferentes modalidades quando jovem, brasileiro virou um dos dirigentes mais influentes do mundo e comandou entidade máxima do futebol por 24 anos

Jean-Marie Faustin Goedefroid de Havelange (Rio de Janeiro, 8 de maio de 1916 – Rio de Janeiro, 16 de agosto de 2016), ex-presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e ex-atleta olímpico, mais conhecido como João Havelange, presidente da Fifa entre 1974 e 1998, foi presidente de honra da entidade até 2013 e figura importante para que o Rio de Janeiro ganhasse, em 2009, o direito de sediar a Olimpíada de 2016.

 

João Havelange - (Foto: Hipólito Pereira / Agência O Globo)

João Havelange – (Foto: Hipólito Pereira / Agência O Globo)

 

Antes de dirigente esportivo, Havelange foi atleta do polo aquático.

Atleta de diferentes modalidades quando jovem, brasileiro virou um dos dirigentes mais influentes do mundo e comandou entidade máxima do futebol por 24 anos

Presidente da Fifa por 24 anos, o carioca, nascido em 8 de maio de 1916, também presidiu a CBD (Confederação Brasileira de Despostos, antecessora da CBF) – que na época congregava 24 esportes – de 1958 a 1974.

Havelange exerceu ainda a função de presidente de honra da Fifa, mas renunciou ao cargo em 2013, após a investigação do caso ISL. Em 2011, ele também havia deixado de ser membro do COI. O brasileiro teve como substituto e pupilo na Fifa justamente Joseph Blatter, afastado recentemente de suas funções também por suspeitas de envolvimento em casos de corrupção.

 

João Havelange, presidente de honra da Fifa, durante entrevista em seu escritório no centro do Rio de Janeiro em fevereiro de 2011 (Foto: Fábio Motta/Estadão Conteúdo/Arquivo)

João Havelange, presidente de honra da Fifa, durante entrevista em seu escritório no centro do Rio de Janeiro em fevereiro de 2011 (Foto: Fábio Motta/Estadão Conteúdo/Arquivo)

 

Legion d’Honneur. Ordem de Mérito Especial em Esportes. Comandante da Ordem do Infante Dom Henrique, Cavaleiro da Ordem de Vasa. Até 2011, João Havelange, era um homem respeitadíssimo. Membro do Comitê Olímpico Internacional por quase 50 anos, ele foi fundamental para trazer a Olimpíada de 2016 para o Rio de Janeiro.

A imagem do “Dirigente do Século” (título que divide com o Barão de Coubertin e Juan Samaranch) ruiu com suspeitas de corrupção que o obrigaram a renunciar naquele ano, anunciando “problemas de saúde”. O comitê de ética do COI havia recebido uma denúncia que poderia resultar em sua condenação e expulsão. Pesava sobre Havelange suspeita de que ele teria recebido 6 milhões de libras esterlinas para ceder direitos de transmissão de TV para a ISL.

 

João Havelange (o último de pé, da esquerda para a direita) integrou a equipe de polo aquático do Brasil nos Jogos de Helsinque (Fonte: Divulgação/Esporte - iG)

João Havelange (o último de pé, da esquerda para a direita) integrou a equipe de polo aquático do Brasil nos Jogos de Helsinque
(Fonte: Divulgação/Esporte – iG)

 

 

Filho de um comerciante belga que fez fortuna no Rio de Janeiro, João Havelange chegou a ser atleta de diferentes modalidades. Mas destacou-se mesmo como dirigente esportivo: primeiro na CBD, depois no COI e por último na Fifa, da qual se tornou um dos presidentes mais emblemáticos.

Havelange foi eleito mandatário da entidade máxima do futebol em 1974, entrando no lugar do inglês Sir Stanley Rous (1895-1986). O brasileiro ficou no cargo mais importante desse esporte centenário até 1998, quando foi substituído pelo suíço Joseph Blatter, que só saiu após a série de denúncias de corrupção na entidade que causou a prisão de dirigentes – inclusive o brasileiro José Maria Marin.

Havelange se elegeu presidente da Fifa graças aos votos africanos e asiáticos, desbancando surpreendentemente Stanley Rous, que foi presidente de 1961 a 1974. Em dois anos, visitou 86 países. Para atrair o apoio dos países da África e da Ásia, deu sua cartada de mestre ao prometer (e cumprir) aumentar o número de participantes da Copa do Mundo, de 16 para 24, a partir de 1982.

Havelange percebeu o óbvio: a Copa era uma verdadeira mina de ouro. Desde 1950, a Coca Cola, por exemplo, já anunciava nos estádios da Copa. Mas a marca de refrigerantes só se tornou parceira oficial da Fifa durante o reinado de Havelange, em 1978.

Muito mais importante foi a parceria com a Adidas, que é fornecedora das bolas da Copa desde 1970, antes de Havelange assumir. O então presidente da Fifa tornou-se amigo de Horst Dassler, filho de Adolf, o fundador da empresa. Horst criou a ISL, que foi a maior empresa de marketing esportivo do mundo, responsável por comercializar os direitos de televisionamento e publicidade das Copas e das Olimpíadas. Foi justamente o envolvimento com Horst Dassler que provocou sua queda.

Havelange, filho do belga Jean-Marie Faustin Goedefroid Havelange, que tinha a representação no Brasil de uma fabricante de armas, praticou natação, inclusive no rio Tietê, e polo aquático. Membro da seleção brasileira desse esporte, ele conquistou o bronze nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México, em 1955. Participou da Olimpíada de 1936, em Berlim, como nadador, e da de 1952 como jogador de polo aquático.

A carreira de dirigente de Havelange se inicia em 1948, à frente da Federação Paulista de natação. Havelange foi morar em São Paulo, pois se tornara sócio da Viação Cometa. Sua entrada no negócio deveu-se a imposições do governo Getúlio Vargas. O dono da empresa, o major italiano Tito Masciolli, foi obrigado a incluir sócios brasileiros para mantê-la aberta durante a Segunda Guerra Mundial.

No comando da Viação Cometa, um hábil negociador é forjado - (Fonte: Divulgação/Esporte - iG)

No comando da Viação Cometa, um hábil negociador é forjado – (Fonte: Divulgação/Esporte – iG)

No comando da Viação Cometa, Havelange desenvolveu as virtudes de hábil negociador, para obter o direito de explorar linhas de ônibus. Ele passou a transitar nas altas esferas do poder político, desenvolvendo relações com políticos do quilate de Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek.

Quando retorna ao Rio de Janeiro, Havelange se torna presidente da Fundação Metropolitana de Natação e vice da Confederação Brasileira de Desportos, que na época geria 24 esportes, incluindo o futebol. As virtudes de bom negociador, desenvolvidas na Cometa, praticadas no âmbito esportivo, forjaram um dirigente à frente de seu tempo, numa época em que o esporte como negócio apenas engatinhava.

Em 56, ele assume a presidência da CBD, cargo que exerceu até 74. Nesse período, o Brasil foi tricampeão mundial, com a conquista das Copas de 58, 62 e 70.

Alçado à presidência da Fifa, Havelange criou o Mundial feminino de futebol, e Mundiais nas categorias infanto-juvenil, juvenil e de juniores. Mesmo com conduta das mais duvidosas, Havelange transformou a face do futebol para sempre, colocando-o em outro patamar. Para o bem e para o mal.

João Havelange comandou a entidade em um “período de profundas mudanças na organização”. Dentre as principais alterações, está o aumento no número de países na Copa do Mundo (de 16 para 32), o aumento do interesse comercial nos eventos e globalização do esporte.

O brasileiro ajudou ainda a criar novas competições de futebol. Entre elas estão os Mundiais Sub-17 e Sub-20, no final da década de 80, e a Copa das Confederações e a Copa do Mundo feminina, no início da década de 90. De acordo com informações da página da Fifa, o número de funcionários da entidade aumentou de 12 para 120 na gestão de Havelange.

 

João Havelange e Blatter em 1994: brasileiro preparou o suíço para substituí-lo na presidência da Fifa (Foto: AP)

João Havelange e Blatter em 1994: brasileiro preparou o suíço para substituí-lo na presidência da Fifa (Foto: AP)

 

Durante a era Havelange, a Fifa organizou seis Copas do Mundo, mas a Seleção Brasileira ganhou apenas uma delas, em 1994, nos Estados Unidos. Além de ter feito parte dessa entidade por 24 anos, o carioca também presidiu a CBD (Confederação Brasileira de Desportos), de 1956 a 1974.

Naquela época, a confederação não cuidava apenas do futebol, mas também de outros 24 esportes. Pode-se dizer, então, que Havelange esteve à frente do futebol brasileiro em sua maior ascensão, nas conquistas das Copas do Mundo de 1958, na Suécia, 1962, no Chile, e 1970, no México.

Em 1963, João Havelange também foi eleito para o COI (Comitê Olímpico Internacional). Em 2011, porém, ele renunciou ao cargo, alegando problemas de saúde.

 

ANTES DOS ESCRITÓRIOS, UM ATLETA VERSÁTIL

 

A presença de João Havelange como dirigente esportivo não foi ocasional. Antes de frequentar escritórios, ele teve vivência assídua em campos, quadras e piscinas. Foi daí que tirou a base para a carreira que viria nos anos seguintes.

 

João Havelange participou dos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, como nadador (Foto: Divulgação)

João Havelange participou dos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, como nadador (Foto: Divulgação)

 

A formação esportiva de Havelange, criado no bairro das Laranjeiras, aconteceu, concomitantemente, no Liceu Francês, onde estudou, e no Fluminense. No clube tricolor, se dividiu entre modalidades variadas. Fez natação e pólo aquático. Foi às quadras para jogar vôlei e basquete. E se aproximou do futebol. Em 1931, foi campeão estadual juvenil pelo Flu.

A aptidão pelo esporte, em especial nas piscinas, levou João Havelange ao universo olímpico. Em 1936, ele participou dos Jogos de Berlim, na competição de natação. Atleta do Espéria, nadou os 400m e os 1.500m. Em 1952, foi a Helsinque, na Finlândia, pela equipe de pólo aquático. Nesta época, já trabalhava como dirigente esportivo, pavimentando o caminho que o levaria à Fifa.

Em 1948, Havelange virou presidente da Federação Paulista de Natação. De volta ao Rio de Janeiro, não deixou os gabinetes. Em 1952, assumiu como presidente da Federação Metropolitana de Natação. Quatro anos depois, já comandava a CBD, gênese da CBF e trampolim para a Fifa.

O CASO ISL E A RENÚNCIA AO COI E À FIFA

Havelange não apenas transformou o futebol em um produto que rende bilhões de dólares anuais. O ex-dirigente também enfrentou acusações de corrupção. Ele estava afastado totalmente do esporte desde abril de 2013, quando, quando renunciou ao cargo de presidente de honra da Fifa. Dois anos antes, ele já havia deixado de ser membro do Comitê Olímpico Internacional (COI). Nos dois casos, Havelange saiu após denúncias durante seu período na Fifa. Ele teria recebido milhões de dólares em propina da ISL em troca de contratos de transmissão para a Copa do Mundo.

O caso, segundo relatório do Comitê de Ética da Fifa, em 2013, ocorreu entre os anos de 1992 e 2000, envolvendo também Ricardo Teixeira, ex-genro de Havelange e presidente da CBF no período em questão. A empresa de marketing esportivo obteve os direitos para várias Copas do Mundo, antes da falência em 2001, pagando comissões a membros da Fifa. O paraguaio Nicolás Leoz, outro citado no episódio, renunciou ao cargo de presidente da Conmebol e deixou o Comitê Executivo da Fifa.

Dois anos após sua saída da entidade máxima do futebol, até o estádio batizado em sua homenagem mudava de nome. Mais conhecido como Engenhão, a arena na Zona Norte do Rio passou a se chamar Estádio Nilton Santos – um pedido do Botafogo, que assumiu a administração do local.

 

João Havelange, ex-presidente da Fifa -  (Foto: Felipe Dana/AP)

João Havelange, ex-presidente da Fifa – (Foto: Felipe Dana/AP)

 

João Havelange morreu em 16 de agosto de 2016, aos 100 anos, no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, de pneumonia. No final de 2015, Havelange foi internado no mesmo hospital em decorrência de problemas pulmonares. Ele completou 100 anos de idade no último dia 8 de maio.

(Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2016/08 – FUTEBOL/ Por GloboEsporte.com – Rio de Janeiro – 16/08/2016)

(Fonte: http://esporte.ig.com.br/futebol/2016-08-16 – ESPORTE – FUTEBOL – Por iG São Paulo – 16/08/2016)

(Fonte: http://oglobo.globo.com/esportes  – ESPORTES/ POR O GLOBO – 16/08/2016)

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