Zanine Caldas, trabalhou como desenhista com o arquiteto Severo Vilas, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer

0
Powered by Rock Convert

José Zanine Caldas (Belmonte, 1919 – Vitória, 20 de dezembro de 2001), artista da arquitetura, foi arquiteto autodidata e maquetista.

Autodidata, o arquiteto conquistou reconhecimento internacional após ter sua obra exposta no Museu de Arte Decorativa do Louvre, em Paris, em 89. Trabalhou como desenhista com o arquiteto Severo Vilas nos anos 30 e, em seguida, com Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Há dois anos vivia com a mulher, Lourdes Madeiras, em Vitória.

A arquitetura tropical tem uma dívida com José Zanine Caldas. O estilo surgiu a partir de suas criações artísticas com madeira, ponto de partida de seu notório fazer e material principal do artesão que explorava a natureza aproveitando o que existia na região, da matéria-prima à mão-de-obra.

Autor clássico que utilizou a influência nativa torna-se um traço importante nos móveis do baiano. De aspecto brutalista, suas peças estão no limite entre o móvel e a escultura.

O aspecto rústico dos móveis de Zanine custou-lhe uma polêmica com a arquiteta Lina Bo Bardi nos anos 50. Recém-chegada da Europa, Lina dizia que os móveis de Zanine eram mal-acabados e desconfortáveis.

Para fazer uma cadeira namoradeira, um móvel para dois assentos em que uma pessoa se senta de frente para a outra, o artista vale-se de uma técnica – a escavação – usada pelos índios no passado colonial.

Zanine era chamado de artista da arquitetura por uma questão corporativa entre arquitetos, já que ele nunca cursou faculdade, embora tenha lecionado na Universidade de Brasília, no Rio e em Grenoble, na França, já mais velho. Nascido em Belmonte, sul da Bahia, desde criança se revelou um apaixonado por construções, madeira e serrarias.

Filho de um médico, com 13 anos começou a fazer pequenos presépios com caixas de papelão em Pitangueiras (SP), onde a família morou entre 1928 e 1936. Autodidata, depois de um curto período em que teve aulas de desenho foi para São Paulo, onde conseguiu emprego como desenhista em uma construtora. Tinha pouco mais de 20 anos quando se mudou para o Rio de Janeiro, para abrir um escritório de maquetes.

Zanine revolucionou o ofício, ao utilizar materiais antes descartados, como madeira e isopor, no lugar do gesso. Foi assim que conheceu expoentes do modernismo como Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Alcides da Rocha Miranda, para os quais fazia miniaturas de seus projetos nos anos 40.

Rocha Miranda o levou para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, para comandar o Departamento de Maquete nos anos 50. Em 1958, estava com Lucio Costa e Niemeyer na construção de Brasília. Viveu na capital federal até 1964, quando fugiu da repressão política ao ser cassado como professor universitário – era membro do Partido Comunista.

Depois de perambular pelo país, morou no Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca, mas seu desejo era viver em uma casa. Fez a primeira construção em Joatinga, litoral sul do Rio, utilizando exclusivamente madeira. A partir do fim dos anos 60, apareceram outras casas zaninianas no Rio de Janeiro, Recife, Brasília, Salvador, Nova Viçosa (BA), onde morou, além de Guarapari (ES) e Domingos Martins (ES).

Por não ter formação acadêmica, não podia assinar os projetos, problema resolvido pelos amigos arquitetos. Em 1989, o Museu do Louvre, em Paris, expôs maquetes e móveis concebidos por Zanine. Durante 40 dias, seus trabalhos foram mais visitados do que as obras de Picasso nas salas ao lado.

No Brasil, sua genialidade conquistou admiradores como Tom Jobim, que compôs a trilha sonora para um documentário sobre seu trabalho, em 1976. O compositor, aliás, em determinada época, só concedia entrevistas para a TV se fossem realizadas em uma casa feita por Zanine.

Suas construções não ficaram isentas de críticas. As mais comuns eram a falta de acabamento interno, pouca funcionalidade, durabilidade da madeira, cupins etc. E Zanine as rebateu: “As pessoas precisam entender o que é uma arquitetura rústica”, “me preocupo com decoração, pois a pessoa que vai morar determina como quer banheiros ou cozinha; o acabamento faço até com ouro, senão uso material de demolição”, “madeira bem tratada pode durar séculos; existem estudos que apontam que construções de concreto não durarão 200 anos”.

O pensamento de Zanine pode ser resumido na frase que costumava repetir: “Mais importante do que o notório saber é o notório fazer”.

José Zanine Caldas, 82, morreu em 20 de dezembro de 2001, no Vitória Apart Hospital, em Vitória, vítima de infarto. Zanine apresentou complicações cardíacas no último sábado e precisou ser levado para a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo). 

(Forte: http://www.dgabc.com.br/Noticia/157802 – Cultura & Lazer – Alessandro Soares Do Diário do Grande ABC – 21 de dezembro de 2001)

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2212200125 – FOLHA DE S. PAULO – ILUSTRADA – ARQUITETURA – 22 de dezembro de 2001)

(Fonte: Veja, 15 de dezembro de 1993 – ANO 26 – Nº 50 – Edição 1318 – ARTE/Por Ângela Pimenta – Pág: 152/153)

Powered by Rock Convert
Share.