Waldir Azevedo, grande compositor, instrumentista, mestre do cavaquinho

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Waldir Azevedo (Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 1923 – São Paulo, 20 de setembro de 1980), carioca de Piedade. Grande compositor, instrumentista, mestre do cavaquinho, era considerado único nas suas interpretações de chorinho.

Com 123 músicas gravadas, entre as quais algumas que já nasceram clássicas, como “Brasileirinho” ou o baião “Delicado”, admitia, divertido, ter se esquecido da metade delas – evidentemente não “Meu Pecadinho de Céu”, chorinho que o acompanhou ao túmulo, de acordo com seu antigo desejo.

Waldir Azevedo faleceu dia 20 de setembro de 1980, aos 57 anos, de aneurisma na aorta, em São Paulo.
(Fonte: Veja, 1° de outubro de 1980 – Edição 630 – DATAS – Pág; 130)

 

Waldir Azevedo, possibilitou a introdução do cavaquinho como instrumento solista (Foto: de Valdir Azevedo. FOTO:REPRODUÇÃO)

Waldir Azevedo, possibilitou a introdução do cavaquinho como instrumento solista (Foto: de Valdir Azevedo. FOTO:REPRODUÇÃO)

 

Waldir Azevedo
Por volta de 1935, começou a se entusiasmar pelos instrumentos de corda, quando ouviu o famoso “moleque Diabo”, fuzileiro naval e multi-instrumentista da época, exímio na execução do violão, do banjo, do bandolim e do cavaquinho. A partir dessa época e das façanhas desse endiabrado instrumentista, Waldir Azevedo foi tomando gosto pela música e trocando a flautinha por um violão, assumindo mais tarde, o bandolim, a viola americana de quatro cordas, o banjo e o cavaquinho.

Waldir Azevedo, por volta de 1940, improvisou um conjunto Regional e passou a participar de vários programas de calouros existentes na cidade do Rio de Janeiro, atuando com grande êxito em alguns deles.

Em 1942, ganhou os concursos de calouros da rádio Cruzeiro do Sul, bem como, o da Rádio Guanabara, conseguindo nota máxima executando ao violão o chorinho “Cambucá” de Pascoal de Barros, que gravaria algum tempo mais tarde; e logo passou a integrar a equipe de artistas daquela emissora. Nessa mesma época, trabalhou no Cassino Copacabana e na Rádio Clube do Brasil.Waldir Azevedo acometido de um pequeno problema no coração, atribuído ao excesso de exercícios de ginástica que praticava, decidiu não investir em sua carreira na Aeronáutica, o que estimulou e despertou mais o seu desejo de dedicar-se à música.
Por volta de 1943, torna-se profissional trabalhando no Conjunto Regional de César Moreno, na Rádio Mayrink Veiga, em, função da vaga aberta por Gumercindo Silva (Gugu); este ao ingressar na Orquestra de Dja1nla Ferreira onde era tocador de Cavaquinho e depois passou ao contra-baixo, tocando inclusive, no conjunto do próprio Waldir Azevedo.

Em1945, estava recém-casado com Olinda com quem teve duas filhas e desfrutando de bom emprego- Em um momento em que a música se definia em sua vida como diletantismo, surge a concretização da profissionalização por convite do violonista Dilermando Reis para integrar o conjunto Regional, recentemente formado, que iria atuar na PRA-3, Rádio Clube do .Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, quando aderiu definitivamente ao cavaquinho. O Regional de Dilermando Rei estava encarregado de substituir o Regional de Benedito Lacerda ao acompanhamento de cantores da Rádio Clube do Brasil.

Nos quatro anos seguintes, Waldir Azevedo, participaria com muito destaque neste Regional, sendo que nos dois últimos anos passou a dirigi-lo em substituição a Dilermando Reis. Nesta época, a Rádio Clube do Brasil funcionava no mesmo prédio da Gravadora Continental, oportunidade em que Waldir Azevedo pôde ser ouvido, quando da execução de suas composições, pelo diretor artístico da gravafiora, o famoso e reconhecido compositor João de Barro (Braguinha), partindo daí o convite para gravar seu primeiro disco. Waldir Azevedo, iniciou-se coma compositor de forma inusitada, para contei as lágrimas de um sobrinho que o visitava e desejava ouvir o tio tocar cavaquinho. Foi quando começou a improvisar algumas notas musicais, no único instrumento que estava a mão, um cavaquinho quê possuía, somente a corda ré. E foi brincando nesta cordel que nasciam os primeiros acordes de um dos chorinhos mais famosos de todos os tempos: o “Brasileirinho”. Algum tempo mais tarde, ficou pronta a segunda parte do saltitante chorinho “Brasileirinho” que passou a integrar repertório de Waldir Azevedo, sempre com sucesso.

 
Em 1949, gravaria seu primeiro disco, em 78 r.p.m., na Gravadora Continental, sob o número 16.189189, formado por dois choros de sua autoria “Carioquinha” no lado A e “Brasileirinho” no lado B, que até hoje compõem o repertório básico de qualquer chorão e sempre são lembrados para novas gravações. Este primeiro disco que Waldir Azevedo gravou como solista de cavaquinho, foi lançado em 05 de Maio de 1949. Desde então, o Brasil passou a conviver com dois marcos importantes, sendo em primeiro lugar a extraordinária aceitação do choro “Brasileirinho “, por todo o público do Brasil, como poucas vezes ocorreu na música instrumental de nosso país e em segundo, o cavaquinho ,se apresentando destacadamente com o instrumento solista e não somente como instrumento de acompanhamento, tornando-se assim, um dos instrumentos mais apropriados para refletir o sentimento do Choro, que caracteriza o mais elaborado e refinado momento dai Música Popular Brasileileira. Waldir Azevedo e seu choro “Brasileirinho”, conheceram momentos de glória,- este recebeu letra de Pereira da Costa, passou pelas mãos de Carmen Miranda, Percy Faith, Ademilde Fonseca, Orquestra Filarmônica de Boston, Baby Consuelo, entre tantos instrumentistas do Brasil, além de ser trilha sonora para campanha política.

 
Em 1950 e em campanha publicitária para empresa automobilística coreana em 1997. Com este espantoso sucesso seguiram-se um segundo disco com as músicas “Cinco Malucos ” e “O que é que há ” e terceiro disco com “Quitandinha ” e “Vai por mim “. É no quarto disco, lançado em dezembro de 1950, que surgiu outro sucesso impressionante; o baião “Delicado “, de sua autoria no disco da Gravadora Continental sob o número 1 6.314, que vendeu no Brasil mais de 500 mil cópias.

 
Em 1957, o Baião Delicado se tornou na música brasileira, recorde absoluto em venda e de execuções nas rádios em todo Brasil, tendo recebido várias gravações na Europa e Estados Unidos, passando pelas mãos de Percy Faith, Ray Connjf e tantos outros instrumentistas do Brasil e do mundo. WaldirAzevedo e Jacob do Bandolim, ao longo dos anos 50, estiveram no centro de uma calorosa e agitada discussão no meio musical brasileiro, que tentava eleger o melhor instrumentista do Brasil. Tal fato, não gerou vencedor mas fixou com clareza as diferenças existentes entre ambos e os seus respectivos instrumentos, pois Jacob do Bandolim era solista de um instrumento mais complexo, possuindo quatro cordas duplas, enquanto Waldir Azevedo era solista de um instrumento menos complexo, possuindo quatro cordas simples, o que o conduzia a dar maior velocidade de interpretação às suas composições. Waldir Azevedo a partir dos sucessos de “Brasileirinho ” e “Carioquinha ” em 1949 e os sucessos de “Cinco Malucos “, “O que é que há”, “Quitandinha “, “Vai por Mim “, “Delicado” e “Vê se gostas” em 1950, continuou gravando pela Continental como acompanhante com seu conjunto para outros solistas ou cantores. Mas, em outras oportunidades reeditaria o sucesso alcançado em 1950, gravando sucessos como “Pedacinhos do Céu ” e “Camundongo” (1951 ), “Vai Levando” (1952), “Queira-me Bem” (1953) “Amigos do samba ” (1955) e “Jogadinho” (1961) entre tantos outros.

 
Waldir Azevedo durante onze anos percorre com seu cavaquinho a América do Sul e a Europa, incluindo duas excursões patrocinadas pelo ltamarati na chamada Caravana da Música Brasileira, bem como, esteve no Oriente Médio com Poly, o multi-instrumentista das cordas, e participou de programa na BBC de Londres-Inglaterra, transmitido para 52 países. Em suas viagens por quase todo o mundo, encantou com seu talento na execução do cavaquinho, e sempre tinha que explicar sobre a sua “pequena guitarra”.

 
Sempre com paciência e bom humor as explicações ocorriam de forma a esclarecer de que não se tratava de uma pequena guitarra, pois, a forma de afinação era diferente e que além dos solos que executava, também era importante para o acompanhamento. Assim, podemos constatar que Waldir Azevedo com seu cavaquinho divulgou diante das mais diferentes plateias não só a sua arte maravilhosa, mas também o choro, nossa primeira expressão musical instrumental genuinamente brasileira.

MAIS CRONOLOGIA

Em 1964 sofre um grande golpe com a morte de uma das filhas, instante em que ocorre diminuição de suas atividades artísticas. Entre 1967 e 1968, gravou dois LPs para a Gravadora Odeon, sendo que o primeiro deles foi gravado no estúdio carioca da gravadora em 23 de julho de 1967. É um dos últimos grandes momentos individuais deste notável cavaquinhista no final dos anos 60. Waldir Azevedo trabalhou na concessionária inglesa de energia elétrica Light no Rio de Janeiro e se aposentou em 1970 na Rádio Clube do Brasil como diretor artístico. Waldir Azevedo, Em 1971, sai do Rio de Janeiro, sua cidade natal, para fixar residência na Capital da Esperança, a cidade de Brasília, onde sofre um sério acidente ao manusear um cortador de grama e tem parte de seu dedo anelar da mão esquerda decepado. No hospital foi constatada a falta da falange. Com á localização da falange dentro de um cesto de lixo de sua casa e a realização de cirurgia para o reimplante entre outras cirurgias de caráter corretivo, bem como com cansativos exercícios de fisioterapia, conseguiu o que parecia impossível: voltar a tocar plenamente o seu cavaquinho e retornar a música brasileira.

 

Em 1976, grava o LP “Minhas Mãos, Meu Cavaquinho” pelo selo Chantecler sob o número 2.04.405.070, em agradecimento à pintora Novelino, de nome Cléa Maria Novelino, por ter pintado um quadro inspirado no instrumentista, ao retratar um cavaquinho sobre a grama de um jardim e sob o toque das mãos de seu melhor intérprete. Este quadro nasceu com o título de “Minhas Mãos, Meu Cavaquinho – Waldir Azevedo” e foi premiado com o “Medalhão Bronzeado – Yorth for Understanding”, no XI Salão Feminino da Sociedade Brasileira de Belas Artes.Sensibilizado e agradecido com a homenagem recebida da pintora Novelino. Waldir Azevedo compôs um choro com o mesmo nome e título do quadro. Por outro lado, Waldir Azevedo acrescentou ao final do choro “Minhas Mãos, Meu Cavaquinho” os acordes da “Ave Maria” de Gonoud, em agradecimento a Deus por ter permitido que retornasse a executar o cavaquinho, após o acidente em que perdeu falange do seu dedo anelar da mão esquerda e com o respectivo reimplante, pois tudo indicava para o encerramento da carreira. Waldir Azevedo, ainda em Brasília, passou a conviver com vários chorões da cidade e foi um dos fundadores do Clube do Choro de Brasília e participando de todas as rodas de choro.

 

Vivendo há seis anos em Brasília, Em 1977, o cavaquinista grava um LP sob o número 1.01-404 168 para Continental sob o título “Waldir Azevedo”, oportunidade em que presta sua homenagem a todo o Brasil, da melhor maneira que sabia, por meio do som de seu cavaquinho. Neste disco Waldir Azevedo faz um relato sobre a sua composição chamada “Flor do Cerrado” dando conta que “Flor do Cerrado é a minha mais recente composição. Foi feita exatamente no dia 20 de setembro de 1977, à bordo do avião que me levava de Brasília à São Paulo, dia em que iniciamos a gravação deste LP. Na verdade, acabei de compô-la já no estúdio da Gravodisc, alguns minutos antes de gravá-la. O título foi dado pelo produtor do disco, Waldyr Santos, na hora em que ouvi o choro terminado. É uma homenagem a Brasília, terra que me acolheu e onde vivo. A flor do Cerrado é um tipo de flor muito procurada pelos turistas como souvenir da Capital do Brasil”. em 1979, foi homenageado com show pelos seus 30 anos de carreira na gravadora Continental, tendo a participação de amigos e admiradores. Foi uma roda de choro, onde o calor humano, o sentimento e a emoção, nasceram puros e simples, sem estrelismos e nem truques. Uma festa para Waldir Azevedo por tudo que ele fez pelo seu público e pela música brasileira.

 

Nesta grande e memorável Roda de Choro teve a participação de Isaias e seus Chorões, Carlos Poyares, Ademilde Fonseca, Paulinho da Viola, Copinha, César Faria (pai de Paulinho da Viola e integrante do conjunto Época de Ouro), Raphael Rabelo, Osmar Macedo 13 (criador do Trio Eléletrico) Aflhur Moreira Lima, Paulo Moura e Celso Machado, bem como, não faltou o famoso brasileiro João de Barro (Braguinha), que em Í949 era o Diretor. Artístico da Continental, o responsável pelo convite a Waldir Azevedo para realizar a sua primeira gravação em disco. Esta comemoração dos 30 anos de Waldir Azevedo na gravadora Continental resultou em um disco gravado ao vivo em 27 de novembro de 1979, no Teatro Municipal de São Paulo, registrando-se, assim, uma justa homenagem ao instrumentista que retirou o cavaquinho do anonimato ao colocá-lo em posição de destaque como instrumento de solo. Em 1980, estava preparando trabalho para a gravação de um novo disco. A medida em que se aproximava a data de sua nova gravação, deixou no ar toda uma preparação, pois Waldir Azevedo era tão minucioso no seu trabalho quanto brilhante. Desta forma, o mestre do cavaquinho, alguns dias antes do início da gravação do disco, gravou em sua casa uma fita cassete com algumas instruções, enviando-as para o coordenador da produção Waldyr Santos sendo parte delas para o maestro Messias e outras para a própria produção, pois pretendia neste seu novo disco incluir alguns detalhes que até então não havia usado, tais como duas faixas com letras e a utilização de 14 algumas cordas em determinadas músicas, entre outros. Assim, seis das músicas mereceriam cuidados especiais por parte de Waldir Azevedo, enquanto as outras seis músicas, que completariam o disco, obedeceriam ao esquema tradicional com o seu cavaquinho no solo e o acompanhamento de um regional. Infelizmente, Waldir Azevedo não pode ver e nem ouvir o seu trabalho realizado.

 

Seu cavaquinho maravilhoso ficou mudo poucos dias antes da data marcada para o início da gravação deste novo disco. Pois faltava pouco mais de duas semanas para que Waldir Azevedo iniciasse as gravações de seu novo disco, quando uma indisposição fez com que deixasse a sua residência em Brasília e antecipando a sua vinda para a cidade de São Paulo, sendo internado para tratamento hospitalar na Beneficência Portuguesa, quando em 20 de setembro de 1980, viria a falecer, retornando a capital Federal somente para as cerimônias fúnebres. Coincidência ou não, cabe ressaltar, que em sua discografia, existe uma única menção sobre a data exata de uma composição, sendo esta “Flor do Cerrado” em 20 de setembro de 1977, onde homenageia a cidade de Brasília e a exatamente 3 anos após esta composição, em 20 de Setembro de 1980, o cavaquinho deste gênio de nossa música popular brasileira cala-se deixando uma obra digna de ser estudada por aqueles que apreciam e cultivam o choro. Cabe destacar que a reconstituição do projeto definido por Waldir Azevedo para esse que seria o seu último disco, recaiu sobre Roberto Barbosa (Canhotinho), por ser uma escolha do próprio Waldir de Azevedo, já que algumas vezes, perante testemunhas, afirmava ser Canhotinho um do seus legítimos sucessores, e um dos poucos músicos do gênero que tinha muito do seu estilo e técnica.

 

E foi o som deste cavaquinho, que pertenceu ao grande mestre da música brasileira que Roberto Barbosa (Canhotinho) utilizou na gravação do LP que Waldir Azevedo não gravou com o título de “Luz e Sombras” e também é o nome de um choro de sua autoria que integra o repertório deste disco. O disco “Luz e Sombras” foi editado pela RGE sob o número 308.6031 inclui as falas explicativas de Waldir Azevedo sobre as músicas que foram realizadas em um gravador cassete, doméstico, sem grandes recursos técnicos, e não se destinando a utilização em disco, o que em alguns instantes apresenta baixa qualidade sonora. Mas, deve se destacar e enaltecer a utilização das falas de Waldir Azevedo por preservar em disco a voz de uma das figuras mais importantes da história de nossa arte e cultura, principalmente liga- dos a música popular brasileira em todos os tempos. Waldir Azevedo participou de momentos decisivos na música brasileira, foi um ser humano de extrema humildade. pois não levava em consideração o vulto excepcional de sua obra e o grande serviço internacional que prestou a Música Popular Brasileira com pelo menos duas composições: Brasileirinho e Delicado. Recebeu homenagens e reconhecimento em vida, como, em 1977 o choro “Brasileirinho” deu nome ao I Festival Nacional do Choro -” Brasileirinho” realizado pela rede Bandeirantes. Waldir Azevedo retirou o cavaquinho do anonimato do acompanhamento para ser valorizado como instrumento solista, estabelecendo um divisor na execução deste instrumento, ou seja, o cavaquinho antes e depois dele. Por tudo isto e muito mais é que Waldir Azevedo e seu cavaquinho estão inseridos na história do Cavaquinho e da Música Brasileira, merecendo, assim, o reconhecimento e o respeito permanente e definitivo do povo do nosso Brasil.

(Fonte: www.samba-choro.com.br/artistas/waldirazevedo)

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