Vladimir Nabokov, genial e magistral escritor russo, pluriexilado de sua terra natal.

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Nabokov foi, sem dúvida, o derradeiro raio de gênio e de luz.

Vladimir Nabokov (Leningrado, 23 de abril de 1899 – Montreux, Suíça, 2 de julho de 1977), genial e magistral escritor russo, pluriexilado de sua terra natal a partir de 1919, costuma ser lembrado apenas como o autor de Lolita, romance inteligente, sensível e bem-humorado.

O estrondoso sucesso de vendas desse romance, publicado em inglês na França em 1955, tornou-o milionário.

Pelos quatro cantos do planeta, plateias inteiras emocionaram-se e explodiram de rir diante daquela tragicomédia: um pedante e maduro professor obcecado por uma jovem americana – uma “ninfeta”.

Nabokov insiste na pessoal interpretção da reviravolta na História de seu país, a partir de 1917, como um momento de irreparável perda – ou melhor, usurpação – de tudo o que ele possuía de mais precioso, a saber: a língua russa, a sua identidade. Os ladrões: Lenin e Stalin. O escritor enfatiza a sua epopéia individual, deixando em segundo plano a carnificina da guerra civil, logo após a Revolução de 1917, e a resistência indônita da União Soviética ao invasor nazista, simbolizada pela Batalha de Stalingrado. Na realidade, Nabokov reforça a tese de Soljenitsin de que nem no tempo dos czares o povo russo foi tão monstruamente subjugado por criminosos como ocorreu a partir da consolidação do partido único.

A natureza no campo russo, o afetuoso ambiente familira, a vida opulenta e privilegiada que ele e a família podiam levar na sua São Petersburgo natal, repentinamente, tudo é destruído sob o furacão da revolução bolchevique.

A vida vira um pesadelo em câmara lenta: o abandono do país amado, o assassinato do pai, que se interpõe entre um amigo e fanáticos czaristas, a ruína financeira, o trauma de um eterno exílio que se esboça.

O escritor reitera que o próprio curso da literatura e da cultura russas foi desviado ao se interromper a crescente marcha rumo à liberdade que cada grande autor, cada artista representava.
Tudo isso o amargurava. Nem a crescente fortuna mudava seu ânimo. No fundo, a riqueza já pouco lhe importava.

Quando ela voltou para suas mãos, graças a Lolita, esse eterno itinerante, que morou duas décadas nos Estados Unidos e se naturalizou em 1945, casado com uma atraente judia, Vera Slonim, limitou-se a ir morar emum grande hotel em Montreux, na idílica Suíça.

Desde sua morte cresce, a cada descoberta de um livro seu, a certeza de que, ao lado de Albert Einstein, jamais o continente americano recebeu um imigrante de tão transcendental importância. Ele provinha do crepúsculo literário da Europa, já sensível a partir da II Guerra Mundial: um ocaso de que Nabokov foi, sem dúvida, o derradeiro raio de gênio e de luz.

(Fonte: Veja, 10 de agosto de 1994 – ANO 27 – N° 32 – Edição 1352 – LIVROS/ Por Leo Gilson Ribeiro – Pág; 118/119)

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