Victor Brecheret, escultor ítalo-brasileiro da primeira metade do século 20

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Brecheret: intuitivo e elegante

Monumento às Bandeiras de Victor Brecheret. Foto: Cecilia Bastos/Jornal da USP.

Monumento às Bandeiras de Victor Brecheret. Foto: Cecilia Bastos/Jornal da USP.

Victor Brecheret (Farnese, Itália, 22 de fevereiro de 1894 – São Paulo, 17 de dezembro de 1955), escultor ítalo-brasileiro da primeira metade do século 20. De formação clássica, viveu o “art-déco” e “noveau”, mas manteve, acima de tudo, um estilo próprio. Fora de São Paulo, cidade onde passou toda a parte brasileira de sua vida, e onde se encontra seu imponente “Monumento das Bandeiras”, no Parque Ibirapuera.

Estágio europeu – “Trata-se, de longe, do mais importante escultor do século 20 no Brasil”. Embora a maior parte dos brasileiros o cite como brasileiro nato, Brecheret nasceu de fato na Itália, em fevereiro de 1894, vindo ainda menino para o Brasil. Muito cedo revelou seu talento artístico, e conseguiu na adolescência que a família se cotizasse para lhe custear uma espécie de bolsa na Europa. Voltou em 1920, escultor formado, e foi logo descoberto pelos modernistas. Exerceu notável magnetismo sobre eles. Oswald de Andrade e Menotti del Picchia usaram-no como personagem em seus romances da época. Todos reconheciam a vitalidade e a atualidade de seu estilo, trazido do estágio europeu. Ao Velho Mundo, aliás, Brecheret voltou entre 1921 e 1925 (suas obras para a Semana de Arte Moderna de 1922 foram deixadas aqui), e depois, na década de 30. Produziu bastante na França, carregando para o Brasil uma infinidade de peças já prontas.

Apesar dessas longas viagens, ele se conservou, sempre, um intuitivo – “um dado essencial para entende-lo”. Interessava-se por tudo quanto via, em matéria de arte – através de seus aspectos formais, e não os teóricos. Nos livros sobre escultura de sua biblioteca, as pranchas com reproduções de obras – assírias, egípcias, gregas arcaicas, etruscas e tudo o mais – tinham sido muito manuseadas, enquanto os textos introdutórios permaneceram intocados.

Amassando o barro – Na mesma medida em que se conservou um intuitivo, Brecheret sempre se permitiu assimilar quaisquer elementos do repertório escultórico, sem se preocupar em ser moderno. “Acho que a arte moderna só pode ser realizada sobre bases clássicas”, dizia numa entrevista dos anos 40. Entendia, com isso, tanto o domínio do desenho preparatório (desenhou muitos, estudos escultóricos) quanto da própria técnica artesanal. Gostava de trabalhar pessoalmente em todas as etapas da criação, inclusive amassando o barro – embora tivesse auxiliares para tanto. Era um artista autêntico. Vendeu muito pouco. Deu muitas obras de presente, porque era generoso. O que não o impediu, certa vez, de discutir com a grande mecenas do modernismo, Olívia Penteado, sobre uma valorização no preço de suas esculturas. Saudavelmente, via seu trabalho artístico como um meio direto de vida.

Marcado, no início da carreira, por escultores como Auguste Rodin (1840-1917) e o iugoslavo Ivan Mestrovic (1883-1962), Brecheret mostrou-se bem sensível, na década de 20, ao estilo então florescente: o “art-déco”. Do geometrismo ornamental e da estilização daquele período nascem algumas de suas peças mais típicas: elegantes figuras femininas, imaginárias (como em “Eva”, “Diana”, “Carregadora de Perfumes”) ou reais, como no busto de uma certa “Daisy”. Brecheret foi, aliás, excelente e fecundo retratista, ao mesmo tempo fiel e criativo.

Não é na inegável e surpreendente elegância de Brecheret, contudo, que reside sua maior qualidade. Parece notável, em primeiro lugar, seu domínio da luz, “que escorre por superfícies polidas e exatas”. E, em segundo, sua incansável procura, ao longo de toda a carreira, de uma “forma escultórica fechada, uma massa em que o vazio possui pouca importância”. A despeito das variações de seu estilo (e o próprio escultor as reconheceu), ele soube conservar sempre, por detrás de tudo, essa espécie de viga-mestre ou linha condutora.

(Fonte: Veja, 14 de janeiro, 1976 -– Edição 384 –- ARTE –- Pág; 96 a 98)

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