Viacheslav Molotov (1890-1986), ex-ministro do Exterior e ex-primeiro-ministro da União Soviética

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Viacheslav Molotov (Império Russo, 9 de março de 1890 – Moscou, 8 de novembro de 1986), ex-ministro do Exterior e ex-primeiro-ministro da União Soviética, foi durante mais de trinta anos o número 2 da hierarquia no Kremlin, lugar-tenente de Joseph Stalin desde a subida do ditador ao poder, em 1922. Obediente cumpridor de ordens e um rematado burocrata, Molotov tornou-se mundialmente conhecido por seu ato mais famoso – a assinatura, em 1939, sob as vistas de Stalin, do pacto de não agressão entre a União Soviética e a Alemanha Nazista, representada por seu ministro do Exterior, Von Ribbentropp. Mas tanto naquela como em outras ocasiões, ele nada mais representava do que a vontade do ditador. “A voz de Stalin”, ele era chamado, e o próprio Stalin não perdia oportunidade de colocá-lo em seu devido lugar. “A diplomacia de Molotov vale dois ou três regimentos”, dizia Stalin. “A minha diplomacia vale o Exército inteiro.”

Molotov e Stalin estavam juntos durante os grandes expurgos que, nas décadas de 30 e 40, mandaram mais de 400 000 pessoas para os pelotões de fuzilamento e mais de 4 milhões para campos de trabalhos forçados. Uma delas – episódio exemplar da subserviência do burocrata – foi a própria mulher de Molotov, Pauline, presa em 1948 com o seu consentimento.

CONTRA MULHER – Pauline fazia parte do Comitê Judeu, um grupo de membros ilustres do partido que tinham sido condecorados durante a II Guerra Mundial, mas tornaram-se suspeitos aos olhos de Stalin, que os acusou de conspirar contra ele. Na reunião do Politburo em que Stalin anunciou sua decisão de punilos, Molotov perguntou: “O que acontecerá com Pauline?” “Que pergunta!”, exclamou Stalin. “Viacheslav Mikhailovitch ainda não sabe como o governo soviético trata os espiões imperialistas.” Segundo relato do então chefe da polícia secreta de Stalin, Laurenti Beria, Molotov calou-se e votou a favor da prisão do Comitê Judeu, Pauline inclusive. Ela foi mandada para um campo de trabalhos forçados e libertada somente cinco anos depois, após a morte de Stalin. Beria levou-a pessoalmente à casa de Molotov, que a julgava morta e a recebeu em prantos, embora, um ano após a condenação de Pauline, tivesse escrito uma carta a Stalin dizendo que renegava sua esposa “por razões profissionais”.

O ex-chanceler ingressou no partido bolchevique aos 15 anos de idade, quando abandonou seu nome verdadeiro – Viacheslav Scriabin – para adotar o nome de guerra Molotov (molot é martelo, em russo), e toda a sua carreira, até a morte, foi um exemplo de capacidade de sobrevivência num regime em que os velhos quadros revolucionários foram sendo eliminados um a um. Ele passou incólume por todos os expurgos de Stalin e só foi cair em desgraça em 1961, quando fracassou uma conspiração de que ele fazia parte contra o então secretário-geral Nikita Kruchev. Molotov passou a viver no mais completo ostracismo e sua diversão era jogar dominó com outros aposentados. Só os mais velhos o reconheciam. Em 1972, na fila de uma loja em Moscou, uma senhora o encarou. “Não admito ficar numa fila ao lado de um carrasco”, disse ela. Molotov baixou a cabeça e se retirou. Talvez a única coisa a que Molotov tenha imprimido sua marca pessoal foi uma arma antitanque cuja ideia se atribui a ele durante o esforço de guerra soviético contra o Exército nazista. Era uma garrafa cheia de gasolina com uma mecha de pano, modelo de bomba rudimentar utilizado em manifestações de rua pelo mundo todo com o nome de coquetel-molotov.

Molotov, reabilitado pelo governo soviético em 1984, foi enterrado no dia 12 de novembro de 1986, aos 96 anos, no cemitério de Novodevichy, Moscou, sem honras oficiais, acompanhado apenas por familiares e amigos.

(Fonte: Veja, 19 de novembro, 1986 – Edição 950 – Datas – Pág; 110)

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