Vaclav Havel, conquistou reconhecimento internacional como dramaturgo e líder político.

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Vaclav Havel (Praga, 5 de outubro de 1936 – Praga, 18 de dezembro de 2011), intelectual anticomunista, um dos maiores expoentes do movimento de dissidentes que desafiou apenas com palavras a antiga União Soviética. Arte e política foram igualmente importantes. Ou até mais: depois de conquistar reconhecimento internacional como dramaturgo, ainda nos anos 1960, ele tornou-se um líder político tão importante que chegou a ser presidente de seu país na transição da Checoeslováquia para a República Checa, no período entre 1989 e 2003.

Influenciado pelo fato de pertencer a uma família de intelectuais, Havel se desdobrou entre livros de ensaios, obras de ficção, poemas, peças teatrais e até um filme, Odcházení, de 2011, inspirado na peça homônima.

(“A tragédia do homem moderno não é ele saber menos sobre o sentido de sua vida, mas ele se importar menos com isso”) está no livro Cartas a Olga (1988).

(Fonte: Zero Hora – ANO 49 – N.° 17.165 – Almanaque Gaúcho/ Por Ricardo Chaves – Postado por Luís Bissigo – 5 de outubro de 2012)

Vaclav Havel, intelectual anticomunista, ex-presidente tcheco

Havel, líder da “Revolução de veludo”, de 1989, que derrubou o regime comunista, como fonte de inspiração contra a tirania em todo o mundo, um humilde herói cuja resistência ao comunismo ajudou a libertar uma Europa unida, enquanto intelectuais exaltam o escritor e dramaturgo que amava o jazz e o teatro.

Trajetória singular

Havel teve uma trajetória singular. Eleito presidente da República Tcheca, pela Assembleia Federal, em 29 de dezembro de 1989, o dramaturgo e ensaísta, nascido em 1936, em Praga, enfrentou uma terrível contradição. Havia passado apenas dois meses da queda do muro de Berlim, e a Europa Central e Oriental, de obediência comunista, vivia uma explosão de manifestações e protestos a caminho da liberdade. Os movimentos cívicos, que haviam se configurado na oposição mais ativa contra as ditaduras comunistas, se converteram na vanguarda dos movimentos democráticos. Assim, alguns líderes dissidentes foram forçados a tomar o poder. O mais notável foi o de Havel, uma das lideranças da revolução democrática, foi promovido a mais alta autoridade da Tchecoslováquia.

Poucos exemplos existiam na história contemporânea da Europa de escritores que haviam alcançado tal posto de poder, sem tê-lo pretendido. Esta circunstância coincidiu sempre com os períodos revolucionários, de aceleração histórica, para ascensão à sede do Estado ou de governo de figuras populares que tiveram o apoio de sua estatura e sua carreira intelectual, diz o “El País”.

O jornal espanhol lembra que, na Espanha, a ascensão de Havel pode ser comparada à de Manuel Azaña, procedente do movimento antimonárquico e a favor da democracia, que chegou a ser ministro e, mais tarde, primeiro-ministro e presidente da República. Nestes personagens, com seus sucessos e fracassos, sempre prevaleceu a ética política e seus próprios princípios morais sobre os caprichos de oportunismo partidário. São justamente essas contradições que sofreu Havel, de uma forma ou de outra, durante seus 13 anos como chefe da Tchecoslováquia.

Em setembro de 2008, em uma entrevista concedida ao “El País”, em Praga, o político e intelectual, ao responder a pergunta se havia se arrependido de aceitar a presidência tcheca, disse:

– É difícil responder a essa pergunta, porque eu tive que desistir de muitas coisas para mergulhar na política. Foi, sem dúvida, um sacrifício para mim. Agora, reconheço que também significou um presente do destino, porque eu pude influenciar alguns eventos-chave para o meu país e para a Europa.

Desde a fundação da capital tcheca, um Havel amigável, mas sóbrio, definia nestes termos o que deve ser o papel do intelectual:

– Eu acho que um intelectual tem mais responsabilidade com a sociedade do que outros. É claro, a voz de um intelectual é importante e os políticos deveriam ouvir mais os intelectuais porque a reflexão radical é muito necessária para a prossecução de um mundo melhor.

Nascido no seio de uma família burguesa (seu pai era empresário e seu avô materno havia sido um famoso diplomata e jornalista), o jovem Havel teve problemas para cursar os estudos. Finalmente pode matricular-se na faculdade de Economia, em Praga, e, em 1964, casou-se com Olga Splichalova, uma mulher de origem operária. De toda forma, a vocação cultural de Havel estava clara e ele resolveu dedicar-se ao teatro, pôs-se a estudar arte dramática por correspondência.

No começo dos anos de 1970, com as peças “A festa do jardim” e “ O memorando”, o dramaturgo tcheco torna-se uma revelação, tanto em seu país como no exterior. Em 1968, este segundo trabalho é representado em Nova York, o que dá uma projeção notável Havel em todo o mundo.

Enquanto sua obra teatral é reconhecida no exterior, suas peças são proibidas na República Tcheca e o regime comunista impedia a saída de Havel para outros países. Ao lado de seu trabalho intelectual, aumentava seu compromisso político, especialmente depois de seu envolvimento com a chamada “Primavera de Praga”, a experiência do socialismo democrático reprimida pelos tanques soviéticos e que marcou toda uma geração de democratas nos países da região. Com a repressão, Havel se viu forçado a voltar a trabalhar em uma cervejaria, trabalho que mais tarde estaria refletido em sua obra “Audiência”.

Nas décadas dos anos de 1970 e 1980, Havel foi condenado em várias ocasiões pelo regime comunista e passou longos períodos na prisão. Sua mais longa estada na cadeia durou de 1979 a 1984 e é descrita em um ensaio intitulado “Cartas à Olga”, sua esposa na época. Além de sua dramática passagem pela prisão, Havel escreveu ensaios ao longo de sua vida analisando, especialmente, o cotidiano sob o domínio da ditadura e as reações morais e políticas provocadas na sociedade.

Um admirador dos grandes líderes da resistência não-violenta, como Gandhi ou Martin Luther King, o escritor checo tornou-se um respeitado intelectual da resistência contra o comunismo. A crise do bloco de Leste, que resultou na perestroika na URSS, liderado na época pelo presidente Mikhail Gorbachev e culminando com a queda do Muro de Berlim, em 09 de novembro de 1989, transformou-o em um dos líderes da sociedade, já que ele havia liderado a luta anticomunista.

Líder do Fórum Cívico, Havel foi eleito presidente da Tchecoslováquia nos últimos dias de 1989, ano que mudou o mundo. Após um breve hiato, por discordar da separação pacífica da República Tcheca e da Eslováquia, em 1993, Havel ocupou a presidência do país até 2003.

Não foi sem controvérsia que atravessou esse longo período frente a presidência, entre elas a anistia geral declarada logo após sua chegada ao poder. No entanto, a sua autoridade moral permaneceu praticamente intacta e seu talento como integrador, abriu as portas da República Tcheca para o mundo democrático. Casado em 1997 com a atriz Dagmar Veskrnova, após a morte de sua primeira esposa no ano anterior, Havel passou seus últimos anos na liderança de uma fundação cultural em Praga e trabalhando em suas memórias que foram publicadas na Espanha em 2007 sob o título: “Seja breve”.

(Fonte: http://oglobo.globo.com/mundo – MUNDO – PRAGA e LONDRES – 18/12/11)

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