União Europeia: 60 anos de avanços e crises
Do Tratado de Roma até Maastricht, passando pela criação do euro e pela crise migratória, esses são os momentos que marcaram os 60 anos de construção europeia.
– Ata de nascimento –
Em 9 de maio de 1950 Robert Schuman (1886—1963), ministro francês de Relações Exteriores, coloca a pedra fundamental europeia ao propor à Alemanha, apenas cinco anos após o fim da guerra, integrara produção franco-alemã de carvão e aço em uma organização aberta a todos os países da Europa.
Um ano depois é assinado o Tratado de Paris, que criou a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), pela Alemanha, Bélgica, França, Holanda, Itália e Luxemburgo.
Em 25 de março de 1957 os seis países assinam em Roma o Tratado de Fundação da Europa Política e Econômica, que institui a Comunidade Econômica Europeia (CEE), mercado comum baseado na livre circulação com a o fim das barreiras alfandegárias entre os Estados-membros.
No início de 1958 são criadas instituições comunitárias: o Conselho, a Comissão e a Assembleia Parlamentar.
– A CEE cresce –
Em janeiro de 1973 o Reino Unido, a Dinamarca e a Irlanda se unem à CEE, seguidos pela Grécia (1981), Espanha e Portugal (1986), Áustria, Finlândia e Suécia (1995).
O Tratado de Maastricht (Holanda), segunda ata de fundação da construção europeia, é assinado em 7 de fevereiro de 1992. O acordo estipula a adoção da moeda única e instaura a União Europeia.
Desde janeiro de 1993 o Mercado Único se transforma em realidade com a libre circulação das mercadorias, serviços, pessoal e capital. Apenas em março de 1995 os acordos de Schengen (Luxemburgo) permitem aos cidadãos membros da UE de viajarem sem controles fronteiriços.
Em 1 de janeiro de 2002 o euro entra na vida cotidiana de cerca de 300 milhões de pessoas. Somente Grã-Bretanha, Dinamarca e Suécia optam por conservar suas moedas nacionais.
No dia seguinte da queda do muro de Berlim, em 1989, e com a subsequente desintegração da União Soviética, os países do leste europeu começam o processo de adesão à UE.
Em maio de 2004 o bloco abre suas portas para Polônia, República Tcheca, Hungria, Eslováquia, Lituânia, Letônia, Estônia, Eslovênia, mas também para Malta e Chipre.
Bulgária e Romênia entram em 2007 e a Croácia em 2013.
– Tempos de crise –
Na primavera de 2005 a recusa a uma constituição europeia pelos eleitores franceses e holandeses mergulha a UE em uma crise institucional.
O Tratado de Lisboa, destinado a melhorar o funcionamento das instituições de uma UE ampliada, tenta tirar o bloco da crise. Foi ratificado com dificuldade em 2009.
Nesse mesmo ano o governo grego anuncia um forte aumento de seu déficit, primeira sinal de alarme de uma grande crise financeira. Grécia, Irlanda, Espanha, Portugal e Chipre pedem ajuda a seus sócios e ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que impõe drástricas medidas de austeridade.
Em plena crise financeira, a crise da dívida derruba um a um dos governos europeus, aumentando a desconfiança com a UE.
Recém saída da crise financeira, a UE enfrenta sua pior crise migratória desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com a chegada de milhares de solicitantes de asilo. A UE fracassa na implementação de um plano de ação para conter a crise.
Em setembro de 2015 a Alemanha, que abriu suas portas aos imigrantes, reinicia o controle de fronteiras. A decisão de Berlim repercute em outros países, principalmente da Europa central, que não querem receber refugiados.
A crise do Brexit foi um novo golpe na União Europeia, já debilitada pelo avanço das formações antieuropeias. Em junho de 2016 cerca de 17,4 milhões de britânicos, 51,9% dos eleitores, votam a favor da saída do Reino Unido da UE, algo nunca imaginado.
(Fonte: http://istoe.com.br – EDIÇÃO Nº 2467 – União Europeia – NOTÍCIAS – ARTIGOS – AFP – 25.03.17)
UE: a história do sonho europeu em sete capítulos
A União Europeia, criada pelo Tratado de Roma há 60 anos e ameaçada pela separação do Reino Unido, é a última tentativa na longa e sangrenta história da unificação do continente europeu.
Estas foram as tentativas de unificar, sob a mesma bandeira, povo ou nação, mais notáveis da história do Velho Continente.
– Império Romano –
QUANDO: 27 a.c.- 476, e sua queda ante os povos germânicos.
ONDE: Desde o norte da Inglaterra até o norte da África, da costa atlântica europeia até o Oriente Médio.
A visão de uma Europa unida tem estado ancorada no tempo. Há séculos imperadores expandiram a sua influência através de um território ainda maior do que o atual da UE.
O tratado fundador da União Europeia, o Tratado de Roma de 1957, foi assinado em uma cidade que foi a sede da civilização europeia e do poder centralizado por meio milênio.
Roma sobreviveu mais tempo do que qualquer outro regime, ruindo finalmente em meio a lutas internas, suas ambições e invasões bárbaras.
– Carlos Magno –
QUANDO: 768-814
ONDE: do leste europeu ao oeste da França, e uma grande parte da Itália.
Roma foi o centro do projeto europeu lançado por Carlos Magno, o rei dos francos.
Instalado principalmente em Aachen, na Alemanha, Carlos Magno lutou em guerras sem fim para unir seu vasto reino sob um trono e foi coroado imperador de Roma pelo Papa Leão III (750-816), sendo o primeiro desde a queda do Império Romano.
Cristão fervoroso, Carlos Magno impôs sua fé através das fronteiras feudais da Europa, instituindo reformas políticas e um renascimento intelectual.
O Sacro Império Romano perdurou depois de Carlos Magno, mas como uma confederação de ducados alemães e cidades-Estado.
– Carlos V –
QUANDO: 1515-1555
ONDE: Espanha, Itália, Alemanha, Holanda e América do Sul.
O único governante do Sacro Império Romano que procurou a unidade da Europa em uma escala comparável à da União Europeia de hoje foi Carlos de Habsburgo.
Carlos V era um belga francófono, de mãe espanhola e pai flamengo, que tentou construir uma Europa com base em um catolicismo convicto, leis comuns e colonialismo.
Mas os europeus provaram ser muito díspares e pouco dispostos a pagar impostos para um autocrata com sede na Bélgica, com o qual tinha pouco em comum.
Carlos V abdicou depois de governar por 34 anos, aposentando-se em um mosteiro na Espanha
– Napoleão Bonaparte –
QUANDO: 1799-1815
ONDE: Da Espanha até os arredores de Moscou
A Revolução Francesa, filha do Iluminismo, mudou a Europa para sempre, especialmente porque um ditador corsa tentou impor seus valores além do que é a atual UE.
Influenciado pela Roma antiga, Napoleão transformou a Revolução Francesa em um império familiar, e embarcou em uma década de batalhas militares, que terminou com sua derrota final em Waterloo, agora um subúrbio de Bruxelas.
Napoleão sentia profundamente o passado romano da Europa. Deu a Paris um Arco do Triunfo de estilo romano para celebrar seus soldados caídos na guerra e criou a Legião de Honra, uma ordem de distinção, como o Legio Honoratorum romano.
Também evocou Carlos Magno em sua coroação imperial em 1804.
– Victor Hugo –
QUANDO: anos 1840
Após o Congresso de Viena, que marca o fim das guerras napoleônicas, a Europa tornou-se um continente de Estados-nação que trabalham em conjunto de forma prudente para preservar um equilíbrio de poder nas mãos de forças conservadoras.
Contra isso, os intelectuais como o francês Victor Hugo e o italiano Giuseppe Mazzini (1805-1872) defendiam um Estados Unidos da Europa, baseado na paz e num propósito comum que alimentaria as revoluções de 1848, que serviram de base para as visões da Europa posterior à Segunda Guerra Mundial.
– Adolf Hitler –
QUANDO: 1938-1945
ONDE: A maior parte da Europa, partes do Norte da África e Rússia
A visão de Europa de Hitler sob a suástica nazista era menos um sonho do que uma busca distorcida do “Lebensraum” (espaço vital) para uma Grande Alemanha.
Roma voltou a ser uma inspiração, sob a forma da águia nazista e outra iconografia marcial, bem como os grandes projetos de arquitetura de Hitler.
Havia também grandes reminiscências napoleônicas, particularmente no que foi outra tentativa fracassada de conquistar a Rússia.
Boris Johnson, atual ministro britânico de Relações Exteriores, provocou indignação em 2016 quando comparou a UE com Napoleão e Hitler.
– União Europeia –
QUANDO: 1957 – ?
ONDE: Os atuais 28 membros
Em 1950, apenas cinco anos após a Segunda Guerra Mundial, o ministro francês das Relações Exteriores, Robert Schuman, apresentou propostas para uma união econômica entre a França e a Alemanha Ocidental, inspirado pelas ideias do economista Jean Monnet (1888–1979), que durante muito tempo foram consideradas como uma fantasia pacifista.
Um ano depois, seis países – Bélgica, França, Alemanha, Itália, Luxemburgo e Holanda – instituíram a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, com base no Tratado de Roma, assinado em 25 de março de 1957, estabelecendo o precursor da UE.
O Reino Unido tornou-se o primeiro país a deixar a União, mas a UE é um capítulo na história da Europa que permanece inacabado.
(Fonte: http://istoe.com.br – EDIÇÃO Nº 2467 – União Europeia – NOTÍCIAS – ARTIGOS – AFP – 25.03.17)