Um dos precursores das histórias em quadrinhos

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O impiedoso Busch

Wilhelm Busch (Wiedensahl, 15 de abril de 1832 – Mechtshausen, 9 de janeiro de 1908), artista alemão que publicou as aventuras de dois terríveis garotos, Juca e Chico – ou, no original, Max und Moritz -, deram ao alemão um lugar de destaque entre os precursores das histórias em quadrinhos. Editadas no Brasil em princípios do século 20 pela Francisco Alves, e na década de 1940 pela Melhoramentos, as histórias de Bush fizeram muito sucesso em admiráveis traduções de Olavo Bilac e mais tarde de Guilherme de Almeida. Trinta anos depois (1976), Juca e Chico voltaram às livrarias brasileiras. A história dos peraltas Max e Moritz (Juca e Chico) está entre as obras mais conhecidas da literatura infantil alemã. Esta foi traduzida em quase trezentos idiomas, foi parodiada, dramatizada e sonografada por outros autores.

A receptividade das criações de Bush junto ao público infantil não deixou de ser surpreendente. Em 1870 Wilhelm Busch era já uma celebridade na Alemanha, pelas suas histórias satíricas ilustradas, muito próximas do quotidiano das pessoas, sendo um dos poucos autores deste gênero. Publicou além de “Juca e Chico”, “O Macaco e o Moleque”, “O Fantasma Lambão”, “O Corvo”, “O Camundongo”, “Rico , o Mico”, “A Cartola” e “O Trenó de Joãozinho”.

Filho de uma família de comerciantes, que o entregou aos 9 anos a um tio pastor, e traumatizado pelo afogamento de uma irmã, Bush começou a desenhar muito cedo. Em 1859 já integrava a equipe de ilustradores da revista satírica Fliegende Blatter, onde logo se destacou pelo estilo impiedosamente crítico. Com minúcias sádicas, ele mostrava deficiências, deformidades e vícios de seus contemporâneos. O desenho inspirado incluía detalhes de feroz crueldade: os rostos se retorciam, os narizes eram recurvados e havia uma abundância de membros fraturados e sangrentos; de crianças esmagadas por tonéis e de corvos e demônios deformados.

Em 1865, Busch criou Juca e Chico, dois garotos permanentemente ocupados em trágicas diabruras. As histórias caracterizavam-se por uma avalancha de crueldade e nonsense – galinhas enforcadas, cachorros surrados, um homem que para se salvar tem que ser passado a ferro quente, rostos queimados de pólvora, crianças moídas como trigo. Mas as legendas criativas e o desenho fascinante de Bush nunca deixaram tais monstruosidades resvalarem para o vulgar. Este conteúdo nada reverente só encontrou paralelo na história em quadrinhos diretamente derivada das personagens de Bush: “Os Sobrinhos do Capitão”, de Rudolph Dick, publicada pela primeira vez em 1897.

(Fonte: Veja, 20 de outubro de 1976 –- Edição 424 –- LITERATURA/ Por Nei Duclós -– Pág; 158/159)

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