Ulysses Guimarães, é o recordista de vitórias em eleições para a Câmara Federal.

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Manual da liberdade

No bem mais precioso de sua herança política, Ulysses Guimarães deixou uma história de vida forjada na luta pela democracia

Ulysses Guimarães (Rio Claro, São Paulo, 6 de outubro de 1916 – Angra dos Reis, Rio de Janeiro, 12 de outubro de 1992), advogado e político brasileiro falecido em Angra dos Reis.

O paulista Ulysses Guimarães é o recordista de vitórias em eleições para a Câmara Federal. Ele exerceu 11 mandatos, de 1950 a 1992, quando morreu num trágico acidente de helicóptero.

Afastou-se apenas uma vez, em 1961, para assumir o cargo de Ministro da Indústria e Comércio no regime parlamentarista instituído depois da renúncia de Jânio Quadros. Ulysses também é famoso por ter sido um dos fundadores do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), que existe até hoje.

Sua matéria-prima era a pólítica. Sua arma, o verbo. Sua musa, a democracia. Sua obra, o MDB, o velho MDB da resistência à ditadura. Ulysses Guimarães foi a alma do MDB, fazendo a mediação entre autênticos e moderados. Sua morte marca o fim da longa agonia do partido. Primeiro, saíram alguns, como Eduardo Suplicy, para entrar no Partido dos Trabalhadores. Depois, os comunistas, caso de Roberto Freire, puderam assumir suas identidades. Por fim, uma ala inteirra debandou no governo Sarney para fundar o PSDB. Ulysses continuou no barco, mas já não era o capitão.

O partido de Franco Montoro, que quando governador enfrentou a derrubada das grades do Palácio dos Bandeirantes sem deixar que se disparasse um único tiro, é dirigido pelo Luiz Antonio Fleury Filho que tentou acobertar o massacre no presídio do Carandiru. O MDB presidido por Ulysses virou outra coisa nas mãos de seu atual presidente, Orestes Quércia.

Nos tempos de Ulysses, o MDB e, depois, o PMDB escreveram algumas das mais belas páginas da História brasileira. Eis sete delas, que revelam o estilo de Ulysses:

EM SEGREDO, A CONVERSA COM GOLBERY

Ulysses guardou para os amigos muito íntimos um encontro com o general Golbery do Couto e Silva, no início do governo de Ernesto Geisel. Convidados por Golbery, então na chefia da Casa Civil, Ulysses e Thales Ramalho foram encontrá-lo na residência de seu genro, num apartamento em Brasília. Somente os três. Ulysses tinha um critério matemático para separar as conversas importantes das inúteis – o tempo. Se duravam quinze minutos, nem prestava atenção no assunto. Se prolongavam-se por uma hora, achava que poderiam levar a algum lugar. O encontro com Golbery durou cinco horas.

“Estou aqui em nome do presidente Geisel e quando sair relatarei nossa conversa para ele”, disse Golbery logo nas apresentações. “Essa poderá ser a primeira de uma série de reuniões que devem mudar um pouco as coisas no país.”

Surgiu, na mesa, um esboço da abertura lenta e gradual. Golbery ofereceu uma anistia ampla aos políticos exilados e outras medidas que levariam à liberalização do regime. “Não se falou em nenhum tipo de veto a quem fora cassado, nem a Brizola”. Em troca, Golbery pediu apoio a um pacote de emndas políticas que, duas décadas mais tarde, o próprio Ulysses apoiaria de olhos fechados. Queria criar um regime parlamentarista, o voto distrital misto e também promover uma reforma fiscal. “Isso é complicado”, respondeu Ulysses, presidencialista convicto até a eleição de Collor. “Vamos consultar, vamos analisar, mas essa é uma primeira conversa”. Dois dias depois do encontro, um amigo comum enviou uma mensagem de Geisel a Thales Ramalho. O presidente gostara do teor da conversa e tinha esperança de que se chegasse a resultados melhores nos próximos encontros.

Não houve novas conversas. A distensão política entrou num ritmo mais lento que gradual. Em agosto de 1975, Geisel fez um pronunciamento duro pela televisão. Em resposta, Ulysses assinou a célebre nota na qual fazia uma referência a Uganda. “É obvio que a oposição não iria importar o modelo adotado por Idi Amim Dada, pois nada mais ultrapassado do que o governo baseado na força”, escreveu. A frase poderia ter-lhe custado o mandato numa época em que parlamentares eram despachados para a rua da amargura com um simples autógrafo presidencial. Ainda que irritado, Geisel considerou a frase grosseira uma ofensa pessoal, e não um ataque ao regime. Por isso, não revidou. Ulysses salvou-se.

SILÊNCIO PARA NÃO APOIAR EULER BENTES

Ulysses aprendeu com os próprios erros a lição de que o melhor endereço dos militares é o quartel. Apoiou o golpe de 1964, confiou na promessa de que a ditadura seria passageira e nenhuma liberdade seria desrespeitada. Descobriu a verdade dois meses depois, quando Juscelino Kubitschek foi cassado. “Ele já era um ministro, mas entrou numa fase de total discrição por quase uma década. Depois disso Ulysses nunca mais prestou atenção a generais dissidentes, evitava conversar com a tropa de pijama que rondava os caciques da oposição e tornou-se o mais empenhado articulador de uma saída civil. Em 1978, o atual ministro Fernando Henrique Cardoso foi procura-lo em busca de apoio ao general Euler Bentes Monteiro, candidato contra João Figueiredo. “Acho que devemos apoiá-lo”, disse Fernando Henrique. “Mas você sabe que São Paulo tem uma consciência civilista”, rebateu Ulysses. Fernando Henrique ponderou que Euler era uma fenda que se abria no bloco militar e que, na sua opinião, caberia ao MDB estimular essa divisão. Horrorizado com a teoria, a mesma que, com sinais invertidos, fora aplicada em 1964, Ulysses ouviu-o com paciência e disse: “Vou pensar. Uma decisão dessa importância tenho que assumir sozinho”. O máximo que fez por Euler foi ficar quieto.

OS TRÊS MESES DO SENHOR DIRETAS

Em maio de 1983, Ulysses reuniu um grupo de amigos para debater as diretas para presidente. Estavam lá, entre outros, o advogado Miguel Reale Junior, Fernando Henrique e o economista Luciano Coutinho. A conversa caminhou para a necessidade de organizar atos públicos, começando por São Paulo. A primeira ideia de Ulysses foi realizar um ato para 2 000 pessoas. Miguel Reale, que presidia a Fundação Pedroso Horta, o grupo de estudos do PMDB, reservou o ginásio de esportes do Pacembu. Dias depois, Reale conseguiu então o Clube Pinheiros. Mais alguns dias e, em novo telefonema, Ulysses, eufórico, exigiu um espaço para 10 000 pessoas. Reale chegou então ao estádio do Palmeiras. Mas o tempo passou, Ulysses resolveu não arriscar. O ato acabou sendo realizado na Assembleia Lesgislativa. No dia 1° de outubro de 1983, apenas 100 pessoas estiveram lá, entre elas Tancredo, Severo Gomes, Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos. Ulysses consolou Reale: “Não desanime. Esse é o nosso filão”.

Atento aos acontecimentos e também ao seu lugar no futuro, foi em Goiânia que um orador, em tom de homenagem despretenciosa, o chamou de Senhor Diretas. Mas Ulysses notou e, no comício seguinte, em Olinda, pediu a um de seus assessores, o jornalista Luiz Roberto Serrano, que soprasse o apelido no ouvido de um dos locutores: “Fala para o apresentador me chamar como Ulysses Guimarães, o Senhor Diretas”, pediu. O Senhor Diretas entrou para a História, ainda que tenha sido um fenômeno que durou três meses, de janeiro de 1984 até a votação no Congresso, que decidiu pelo Colégio Eleitoral. Ulysses foi trocado por Tancredo, o PFL rachou e apareceu a Aliança Democrática. Lula procurou o Senhor Diretas para sugerir que se boicotasse a votação indireta. “Eu sei quando sou derrotado”, respondeu.

“ME DÃO COMIDA E ME CHAMAM DE ESTADISTA”

Pela sua condição de símbolo e emblema de campanhas e instituições, de quatro em quatro anos Ulysses batia perna pelo país afora falando dos outros candidatos – e acabava se esquecendo dele mesmo. Sempre jurou, no entanto, que não era esquecimento algum: “Minha campanha é o partido e o espaço do partido é o meu território pessoal. Quero fazer esse cruzamento entre candidato e partido. Sou um pai que tem muitos filhos e algumas ovelhas negras para criar”. No início de 1986, na condição de multipresidente – do PMDB, da Câmara e por isso vice-presidente da República -, o deputado Ulysses nem por isso estava isento de ir à luta, caçando votos como qualquer outro candidato. Era coisa rara, mas acontecia. Ele partiu em pregrinação pelo interior em causa própria. Esteve em nove municípios em três dias e em todos falou primeiro de Quércia, candidato do PMDB em baixa nas pesquisas, em seguida dos candidatos locais e, quando lembrava, no alto de caminhões em praça pública, concluía: “A propósito, eu também sou candidato. Se vocês me honraram com seus votos…”

A carreata de Ulysses pelo interior do seu Estado era um espanto. Comportava apenas um carro, um Ford Lanadu, dirigido e abastecido pelo dono, o economista Irineu Carvalho, e levando a bordo Oswaldo Dante Manicardi, seu secretário desde 1950, ano em que se elegeu deputado federal pela primeira vez. O então substituto constitucional do presidente José Sarney percorreu quase 1 000 quilômetros sem nenhum esquema de segurança e dentro de um carro desprovido de qualquer tipo de equipamento de comunicação. Impávido, ouviu de pé elogios dos políticos locais chamando-o de “líder extraordinário”, figura maravilhosa”, “patrimônio nacional”, “maior brasileiro vivo”, “figura maior da nossa História”, de cuja boca só saíam “palavras sábias”. Com os braços abertos, devolvia: “Estamos aqui comendo o pão e o sal da fraternidade humana. A democracia nasce em torno da mesa, como disse Platão nos seus Diálogos”.

DONA MORA, A PORTA-VOZ

Noite de 19 de abril de 1989, uma semana antes da convenção que escolheria o candidato do PMDB à Presidência da República. Ulysses recebeu em Brasília um cortejo de onze governadores peemedebistas dispostos a canibalizar sua candidatura e a santificar o então governador de São Paulo, Orestes Quércia. Ao mesmo tempo em que dava entrevistas dizendo que nunca pensara em tomar posse da candidatura de Ulysses, Quércia se articulou com os colegas do Rio de Janeiro, Moreira Franco, e Rio Grande do Sul, Pedro Simon, para aposentar os planos do deputado. Ficou combinado que os dois seriam encarregados de falar, dando conta da insatisfação dos governadores com a candidatura Ulysses. No apartamento brasiliense, porém, os dois peemedebistas não conseguiram cumprir a missão – foram fulminados pelo olhar de Mora Guimarães, a viúva de 26 anos, com quem Ulysses se casou em 1955.

Informada sobre o plano, Mora cobrou a lealdade dos presentes, lembrou que era hora de arregaçar as mangas e ninguém teve coragem de abrir a boca. O estilo franco e direto da mulher liberava Ulysses para um de seus esportes prediletos, a conciliação com os adversários da véspera. Em casos de maior gravidade, Mora é quem demarcava o terreno político do marido. Chegou a ficar quatro anos sem cumprimentar o senador Pedro Simon, inconformada com a facilidade com que ele se convenceu da derrota das diretas já no Congresso e do apoio a Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Mora também não cumprimentava Quércia. Também comprou uma briga de meses com Ibsen Pinheiro depois que o deputado gaúcho ganhou a presidência da Câmara. De olho no cargo, Ulysses ficou abalado por dois dias apenas.

EM CAMPANHA, O ANTIMARKETING

Na corrida pela Presidência, Ulysses gravou um discurso para o programa de TV. “Minhas mãos não estão sujas com o dinheiro da corrupção nem com o sangue da ditadura. Tenho as mãos limpas.” O diretor do programa o interrompeu, pedindo que levantasse apenas a mão esquerda, pois a direita iria atrapalhar sua imagem no vídeo. “De jeito nenhum”, explicou o candidato. “Se o povo me vê dizendo que tenho as mãos limpas e só mostro a esquerda, vai pensar: uma está limpa, mas deve estar roubando com a outra.”

“SUA MAJESTADE, O POVO NA RUA”

Abandonado em 1984, renascido em 1985, entronizado em 1988 na presidência da Constituinte e abandonado de novo em 1989, Ulysses renasceu no impeachment. Distribuía autógrafos no Congresso e era cumprimentado na rua por estudantes e motoristas de táxi. Para tomar essa decisão, Ulysses fez uma caminhada lenta até ouvir a entidade com a qual tomava suas decisões – o povo. Quando o Congresso debatia a CPI de PC Farias, ele se encontrou pelo menos duas vezes com o presidente, uma delas no Palácio da Alvorada para comer macarronada. Saiu reclamando do cardápio político – ele até acreditava na possibilidade de manter Collor no Planalto, submetido a um regime de parlamentarismo branco. “Vamos tomar conta dele como um menino de colégio, que tem de mostrar o boletim a cada quinze dias”, disse o deputado numa conversa com o governador do PFL.

“Estaremos com a palmatória na mão.” Em busca de apoio a sua ideia, reuniu trinta deputados – do PFL ao PT – no restaurante Piantella, em Brasília. Ninguém se animou.

Ulysses ficou impressionado quando teve acesso à documentação levantada sobre a roubalheira no Planalto. “Meu Deus, como é que esse rapaz fez isso? A saída dele é a renúncia.” Nas folgas de Brasília Ulysses 500 cidades pregando o parlamentarismo em comícios e palestras. Antes de tomar a palavra, indagava dos líderes locais: “Qual é a música?” Num desses comícios um correligionário respondeu: “Senta a pua no Collor”. Ulysses entrou no compasso, foi aplaudido como nos velhos tempos e se reconciliou com a vontade daquele que dizia ser “o soberano, sua majestade: o povo na rua”.

(Fonte: www.correiodopovo.com.br – ANO 117 – Nº 6 – Cronologia – 6 de outubro de 2011)
(Fonte: Veja, 21 de outubro de 1992 – Edição n.° 1258 – ANO 25 – N° 43 – Pág; 28)

12 de outubro de 1992 – Queda de helicóptero causa a morte do ex-ministro Severo Gomes e do deputado Ulysses Guimarães.
(Fonte: www.correiodopovo.com.br – ANO 117 – Nº 12 – 12 de outubro de 2011)

A tragédia nacional

De encontro marcado com a morte Ulysses bateu pé para ir a Angra, insistiu em voar de helicóptero e antecipou a volta em uma hora. Foi fatal
Na belíssima região de Angra dos Reis, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, a Capitania dos Portos previra que teria “céu encoberto, com chuvas e trovoadas, e ventos de 15 a 20 nós, com rajadas”. O doutor Ulysses da Silveira Guimarães, aos 76 anos, completados em 6 de outubro, mergulhou para a morte no mar na tarde do Dia da Criança e de Nossa Senhora Aparecida. O Congresso parou, bandeiras desceram a meio pau e os sinos começaram a dobrar pelo deputado. Sua trajetória, de mais de quatro décadas e onze mandatos consecutivos de deputado, serve como um quatro décadas e onze mandatos consecutivos de deputado, serve como um manual de preservação da vida democrática. Sua biografia mostra uma das personalidades mais vigorosas da política brasileira desde o pós-guerra.

O fim de Ulysses começou às 3h20 da tarde. Nessa hora, o helicóptero levantou voo do Hotel Portogalo, próximo da casa do empresário Luís Eduardo Guinle, onde Ulysses passou o feriado. Ele estava a bordo com o piloto Jorge Comeratto, Mora, sua mulher há 37 anos, e um casal de amigos, o ex-senador e ex-ministro Severo Gomes e sua mulher Henriqueta.

Dez minutos mais tarde, o piloto Comeratto, um profissional experiente, desceu no aeroporto de Angra dos Reis, abasteceu e partiu com destino a São Paulo. Antes de completar meia hora de voo, o helicóptero enfrentou chuva com granizo. “Ele vinha costeando o litoral, voando baixo, a uns 50 metros do nível da água, com farol ligado”, conta o industrial Arthur Vicintin Neto, que pescava ali perto.

Foi um fim de semana de amenidades. Ao chegar, Ulysses soube que o presidente Itamar Franco lhe telefonara. Retornou a ligação e falou vinte minutos com Itamar sobre a indicação de Lázaro Barbosa para a Agricultura. No domingo, Ulysses e Severo foram almoçar na casa do empresário Israel Klabin, na Ilha Grande. Escalado para presidir uma conferência sobre meio ambiente em novembro de 1992, em Brasília, Ulysses conversou longamente sobre o assunto com Klabin, outro interessado em questões ecológicas. Na segunda-feira fatal, Ulysses foi o primeiro a acordar. Leu um livro até que os jornais chegassem.

“SENSAÇÃO TERRÍVEL – Eram 17h30 quando Celina ligou para Archer, preocupada com a falta de notícia dos pais. Archer ligou para o hotel em Angra dos Reis para saber se o helicóptero teria retornado em função do mau tempo. A resposta foi negativa, como seriam todas as demais. Em contato com a Líder Táxi Aéreo, pediu que a empresa fizesse um rastreamento para saber onde o PT-HMK estava. A Líder não o localizou. Archer então telefonou para o Salvaero, o órgão do Ministério da Aeronáutica encarregado de operações de salvamento. Itamar Franco foi informado do sumiço do helicóptero. A Câmara dos Deputados suspendeu a sessão do dia. Os corpos começaram a ser encontrados. Os corpos começaram a ser encontrados. Primeiro, foi localizado o do piloto Comeratto, mais tarde, encontrou-se o ex-senador Severo Gomes, enterrado em São Paulo com honras militares. Até a madrugada de sábado, o corpo de Ulysses e o de Henriqueta, mulher de Severo, continuavam desaparecidos.

O impacto do helicóptero de Ulysses com o mar foi brutal. Calcula-se que o choque tenha acontecido a uma velocidade entre 180 e 200 quilômetros por hora.
(Fonte: Veja, 21 de outubro de 1992 – Edição n.° 1258 – ANO 25 – N° 43 – BRASIL/ Por Marcelo Auler, de Angra dos Reis – Pág; 16/19)

A tragédia nacional

De encontro marcado com a morte Ulysses bateu pé para ir a Angra, insistiu em voar de helicóptero e antecipou a volta em uma hora. Foi fatal
Na belíssima região de Angra dos Reis, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, a Capitania dos Portos previra que teria “céu encoberto, com chuvas e trovoadas, e ventos de 15 a 20 nós, com rajadas”.

O doutor Ulysses da Silveira Guimarães, aos 76 anos, completados em 6 de outubro, mergulhou para a morte no mar na tarde do Dia da Criança e de Nossa Senhora Aparecida. O Congresso parou, bandeiras desceram a meio pau e os sinos começaram a dobrar pelo deputado. Sua trajetória, de mais de quatro décadas e onze mandatos consecutivos de deputado, serve como um quatro décadas e onze mandatos consecutivos de deputado, serve como um manual de preservação da vida democrática. Sua biografia mostra uma das personalidades mais vigorosas da política brasileira desde o pós-guerra.

O fim de Ulysses começou às 3h20 da tarde. Nessa hora, o helicóptero levantou voo do Hotel Portogalo, próximo da casa do empresário Luís Eduardo Guinle, onde Ulysses passou o feriado. Ele estava a bordo com o piloto Jorge Comeratto, Mora, sua mulher há 37 anos, e um casal de amigos, o ex-senador e ex-ministro Severo Gomes e sua mulher Henriqueta.

Dez minutos mais tarde, o piloto Comeratto, um profissional experiente, desceu no aeroporto de Angra dos Reis, abasteceu e partiu com destino a São Paulo. Antes de completar meia hora de voo, o helicóptero enfrentou chuva com granizo. “Ele vinha costeando o litoral, voando baixo, a uns 50 metros do nível da água, com farol ligado”, conta o industrial Arthur Vicintin Neto, que pescava ali perto.

Foi um fim de semana de amenidades. Ao chegar, Ulysses soube que o presidente Itamar Franco lhe telefonara. Retornou a ligação e falou vinte minutos com Itamar sobre a indicação de Lázaro Barbosa para a Agricultura. No domingo, Ulysses e Severo foram almoçar na casa do empresário Israel Klabin, na Ilha Grande. Escalado para presidir uma conferência sobre meio ambiente em novembro de 1992, em Brasília, Ulysses conversou longamente sobre o assunto com Klabin, outro interessado em questões ecológicas. Na segunda-feira fatal, Ulysses foi o primeiro a acordar. Leu um livro até que os jornais chegassem.

“SENSAÇÃO TERRÍVEL – Eram 17h30 quando Celina ligou para Archer, preocupada com a falta de notícia dos pais. Archer ligou para o hotel em Angra dos Reis para saber se o helicóptero teria retornado em função do mau tempo. A resposta foi negativa, como seriam todas as demais. Em contato com a Líder Táxi Aéreo, pediu que a empresa fizesse um rastreamento para saber onde o PT-HMK estava. A Líder não o localizou. Archer então telefonou para o Salvaero, o órgão do Ministério da Aeronáutica encarregado de operações de salvamento. Itamar Franco foi informado do sumiço do helicóptero. A Câmara dos Deputados suspendeu a sessão do dia. Os corpos começaram a ser encontrados. Os corpos começaram a ser encontrados. Primeiro, foi localizado o do piloto Comeratto, mais tarde, encontrou-se o ex-senador Severo Gomes, enterrado em São Paulo com honras militares. Até a madrugada de sábado, o corpo de Ulysses e o de Henriqueta, mulher de Severo, continuavam desaparecidos.

O impacto do helicóptero de Ulysses com o mar foi brutal. Calcula-se que o choque tenha acontecido a uma velocidade entre 180 e 200 quilômetros por hora.
(Fonte: Veja, 21 de outubro de 1992 – Edição n.° 1258 – ANO 25 – N° 43 – BRASIL/ Por Marcelo Auler, de Angra dos Reis – Pág; 16/19)

6 de abril de 1987 – O deputado Ulysses Guimarães foi eleito presidente do PMDB pela 8ª vez consecutiva.
(Fonte: http://www.guiadoscuriosos.com.br/fatos_dia – 6 de abril)

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