Thomas Harlan, diretor alemão do emblemático documentário “Torre Bela”, um filme sobre a mítica ocupação da herdade dos Duques de Lafões, no Ribatejo, em abril de 1975

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Thomas Harlan, diretor da Torre Bela

Thomas Harlan (Berlim, 19 de fevereiro de 1929 – Schönau, 16 de outubro de 2010), filho do cineasta nazi Veit Harlan,

“Torre Bela”, considerado por muitos o filme mais relevante que se fez em Portugal sobre o PREC (Processo Revolucionário em Curso), retrata a ocupação da herdade dos Duques de Lafões por camponeses, habitantes das aldeias à volta e desempregados, o dia-a-dia dos ocupantes, a sua interação com os militares e com os rostos da revolução. Zeca Afonso e Vitorino são vistos no documentário a cantar o Grândola Vila Morena, numa sessão de esclarecimento no pátio da herdade. A câmara de Harlan capta desde plenários caóticos, a pequenas discussões entre os ocupantes, até à invasão da casa principal da herdade, propriedade de D. Miguel de Bragança, duque de Lafões, que é entrevistado no início do filme.

O cineasta Thomas Harlan, nascido em Berlim em 1929, chegou a Portugal em Março de 1975, empenhado em retratar as consequências da Revolução dos Cravos, e no mês seguinte já filmava a ocupação da herdade ribatejana, que ocorre em 23 de abril de 1975. É um filme de caráter excecional por várias razões, nomeadamente o tempo de rodagem (oito meses), como também o espaço em que a equipa de filmagem se movimenta, já que Harlan, dadas as boas relações com o Movimento das Forças Armadas (MFA), teve acesso a espaços restritos, como, por exemplo, a sede da Polícia Militar. Mas não só, a ocupação é no Ribatejo, mais ligada às correntes de direita, e não no Alentejo, espaço então dominado pelos comunistas.

 

DOCUMENTÁRIO DO CINEASTA PORTUGUÊS

 

O filme está agora a ser alvo de um documentário do cineasta português, José Filipe Costa, que entrevistou Thomas Harlan duas vezes, a última em Agosto deste ano, na Alemanha. José Filipe Costa está a fazer um doutoramento no Royal College of Art (Londres) sobre o cinema em Portugal e o PREC, tendo como caso de estudo o filme “Torre Bela”. No doutoramento, o cineasta revisita o documentário de Harlan, a sua história de produção, os seus protagonistas e o impacto que ainda tem hoje sobre a memória da ocupação e da formação de uma cooperativa na Torre Bela.

José Filipe Costa espera ter o documentário pronto em Maio de 2011. “Escolhi o filme de Harlan porque de todos os documentários o de Harlan foi aquele que seguiu mais sistematicamente, de forma mais profunda e prolongada no tempo uma experiência como aquela que se viveu na Torre Bela”, explica.

Thomas Harlan, cujo pai é conhecido pela proximidade ao nazismo e a Adolfo Hitler e que chega mesmo a ser comandante da marinha da juventude hitelariana, em 1948 faz um duro corte com o passado e a ideologia nazi, e parte para França. Anos mais tarde (1959 a 1964) faz trabalhos sobre criminosos de guerra nazis. Em França faz amizade com Gilles Deleuze, Michel Tournier e Klaus Kinski. Além de cinema, escreveu peças de teatro, poesia e prosa. Vive entre Itália e França e viaja pelo mundo para países onde ativistas de esquerda lutam contra o colonialismo e assume-se também como um militante opositor da ditadura e do fascismo.

Thomas Harlan faleceu em Schönau, em 16 de outubro de 2010. Tinha 81 anos, sofria de uma doença respiratória e estava internado desde 2001.

(Fonte: http://expresso.sapo.pt/sociedade – SOCIEDADE/ Por ANABELA CAMPOS – 18.10.2010)

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