Sylvia Plath, escritora que foi elevada à categoria de uma das maiores poetas americanas do século XX

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Transportou para o romance a força trágica de sua grande poesia

Sylvia Plath (Jamaica Plain, Massachusetts, 27 de outubro de 1932 – Primrose Hill, Londres, 11 de fevereiro de 1963), poeta e escritora que foi elevada à categoria de uma das maiores poetas americanas do século XX.

Enquanto era viva, Sylvia lutou por um reconhecimento que veio em doses modestíssimas. Publicou apenas dois livros em vida, a coletânea de poemas The Colossus, e seu único romance, A Redoma de Vidro. Ao contrário do que se poderia supor, A Redoma de Vidro não é apenas uma investida tateante na prosa de uma autora que se consegrou com versos. É um romance vigoroso, com passagens brilhantes, e um instrumento valioso para se entender a natureza da poesia de Sylvia Plath. Seu pai, um cientista e professor universitário especializado na vida das abelhas, nascido na Alemanha, morreu quando Sylvia tinha 8 anos.

 

OBSESSÃO – A Redoma de Vidro é em grande parte autobiográfico. Assim como ocorreu com a autora na vida real, sua personagem, Esther Greenwood, chega a Nova York no início dos anos 50, junto com outras jovens de diferentes pontos dos Estados Unidos que ganharam um concurso de poesias e contos promovido por uma grande revista feminina.

 

De volta a sua cidade natal, Esther entra em crise ao reencontrar sua rotina provinciana e, tal como aconteceu a Sylvia, se vê cada vez mais acuada dentro de si mesma. Através de um acelerado processo de paranóis, ela passa a enxergar o mundo como um filme longínquo, e sua realidade passa a ser um novelo de mentiras e dramas pessoais fictícios no qual cabe tanto um ódio desmedido à própria mãe quanto uma paixão sem qualquer motivo aparente por um marinheiro pateta e dez anos mais jovem.

Esther passa a frequentar um psiquiatra, mas seu estado piora. Sua obsessão passa a ser imaginar diferentes métodos de suicídio, e ela chega a planejar a própria morte, em detalhes, de oito maneiras diferentes. Por fim, quase consegue, e é internada num hospício. Essa primeira parte da trajetória de Esther Greenwood pode parecer uma prova de resistência para A Redoma de Vidro. Embora conte a história de uma louca suicida, com um certo humor expressionista que faz com que o leitor acabe se sentindo meio cúmplice da personagem.

 

Depois de passar pelo hospício, como sua personagem, Sylvia conseguiu terminar a faculdade como ótima aluna e ganhou uma bolsa da Fundação Fulbright para estudar em Cambridge, na Inglaterra. Lá conheceu o também poeta Ted Hughes, com quem se casou em 1956. Tiveram um casal de filhos, entre 1960 e 1962. Nesse mesmo ano, por iniciativa de Hughes, se separaram, e Sylvia jamais conseguiu se recuperar do fracasso conjugal. Em janeiro do ano seguinte, ela lançaria A Redoma de Vidro, assinado com o pseudônimo de Victoria Lucas.

A princípio, seu objetivo era apenas aventurar-se no terreno dos best-sellers e por isso ocultou sua assinatura. Depois, viu que A Redoma de Vidro trazia um retrato fiel demais a ela própria para ser lançado como obra espúria. Semanas depois do lançamento do livro, Sylvia mergulhou na profunda crise depressiva que a levou ao suicídio. Deixou uma obra pequena, que acabou se multiplicando quando os editores, diante de sua consagração póstuma, correram em busca de originais para lançar no mercado. Rascunhos que ela provavelmente não publicaria chegaram às livrarias aos lotes.

 

À meia-noite de um domingo de fevereiro de 1963, um professor londrino acordou com uma batida inesperada à sua porta. Abriu. Era sua vizinha de cima, pedindo que lhe cedesse alguns selos de correio. “Faço questão de pagar por eles, caso contrário minha consciência não estará limpa diante de Deus”, ele ouviu estupefato.

Dez minutos depois, o professor voltou a abrir a porta e encontrou a vizinha na mesma posição, os olhos esbugalhados. Ofereceu-se para chamar um médico, mas a moça recusou, alegando que estava tendo “um sonho fantástico, uma visão maravilhosa”. Poucas horas depois desse “sonho”, Sylvia Plath foi encontrada morta em seu apartamento. Ela entrara na cozinha, vedara as portas e abrira a torneira de gás. Tinha 30 anos.

Foi um gran finale compreensível para uma poeta que ao longo de toda a vida, na ficção e na realidade, acariciava a loucura e a morte como quem afaga um animal de estimação. Enquanto era viva, Sylvia lutou por um reconhecimento, talvez o mais significativo de sua obra, no entanto, como A Redoma de Vidro, permanece como uma lição de boa recompensa pelo reconhecimento.

 

(Fonte: Veja, 5 de junho de 1991 – ANO – N.º – Edição 1185 – LIVROS/ Por OKKY de SOUZA – Pág: 92/93)

 

 

 

 

 

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