Stig Bergling, um dos mais notórios espiões suecos da Guerra Fria, que fugiu da prisão em 1987 durante uma visita íntima

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O espião sueco Stig Bergling, ao deixar a prisão em liberdade condiconal em 1997 (Foto Anders Wiklund - 16 julho de 1997/Associated Press)

O espião sueco Stig Bergling, ao deixar a prisão em liberdade condiconal em 1997 (Foto Anders Wiklund – 16 julho de 1997/Associated Press)

 

Stig Bergling (Estocolmo, 1º de março de 1937 – Estocolmo, 24 de janeiro de 2015), um dos mais notórios espiões suecos da Guerra Fria, que fugiu da prisão em 1987 durante uma visita íntima

Ex-agente da polícia de segurança nacional sueca, Bergling foi julgado em 1979 pela acusação de vender segredos militares à União Soviética. Foi condenado à prisão perpétua.

O que ocorreu a seguir – incluindo a fuga de Bergling (inadvertidamente auxiliada pelas autoridades suecas); uma caçada internacional (inadvertidamente auxiliada pelos soviéticos); seus anos na clandestinidade, entre boatos cíclicos sobre seu paradeiro; e seu retorno voluntário à Suécia, com nova prisão e mais tarde liberdade condicional – foi uma farsa absurdista e sombria, que ganhou manchetes ao redor do mundo.

A fuga de Bergling da custódia foi um grande escândalo na Suécia, país conhecido por seu regime penal ao mesmo tempo liberal e eficaz. No amplo consenso da mídia internacional, o que possibilitou a fuga do espião foi muito do primeiro e pouco do segundo.

Stig Eugen Bergling nasceu numa família de classe média em Estocolmo, em março de 1937: seu pai trabalhava com seguros, sua mãe era secretária. No final da década de 1950 ele se tornou um policial; uma década depois, foi nomeado para a polícia de segurança, uma agência de inteligência cujos atributos incluem contraespionagem e combate ao terrorismo.

O trabalho de Bergling lhe deu acesso a alguns dos mais sigilosos documentos militares da Suécia, e na década de 70 ele teria vendido quase 15 000 deles para os soviéticos. Mais tarde, ele diria que foi a ganância, e não a ideologia, que o levou à espionagem.

Em 1979, Bergling foi preso em Tel Aviv e extraditado para a Suécia. No julgamento, surgiu uma narrativa de espionagem que com todos os seus detalhes próprios do século 20 – micropontos, comunicações via rádio, cartas em tinta invisível – parece quase ingênua hoje em dia.

Embora ele tenha sido condenado à prisão perpétua, sob as leis penais suecas que enfatizam mais a reabilitação do que a punição, Bergling poderia ganhar liberdade condicional após 15 anos.

Em 1986, quando cumpria pena em Norrkoping, no leste da Suécia, Bergling casou com uma velha amiga, Elizabeth Sandberg. No ano seguinte, ele ganhou o direito de fazer uma série de visitas íntimas ao apartamento dela, num subúrbio de Estocolmo, incluindo a de 1987 – cuidadosamente planejada pelo casal.

Naquele outono, a mulher de Bergling alugou vários automóveis sob seu próprio nome e tomou um empréstimo bancário de cerca de US$ 12 mil. As autoridades suecas sem querer ajudaram no plano permitindo que Bergling – que disse esperar a liberdade condicional para recomeçar a vida – mudasse de nome para Eugen Sandberg. Ele conseguiu fazer até um novo passaporte com esse nome.

Na tarde de 6 de outubro de 1987, um segurança desarmado escoltou Bergling até a casa de sua mulher para uma visita íntima de rotina. Para não constranger o casal, o segurança foi passar a noite num hotel próximo. Em 7 de outubro, quando o guarda foi bater à porta do apartamento, o casal havia desaparecido. De acordo com a descrição posterior de Bergling, eles haviam escapado pela porta dos fundos no início da manhã, vestidos com abrigos de corrida, pegaram ao menos um dos carros que esperavam, atravessaram a fronteira com a Finlândia e de lá partiram para a União Soviética.

Demorou mais de 10 horas para as autoridades suecas lançarem um alerta oficial sobre a fuga de Bergling, em parte porque eles estavam confusos quanto ao nome que deveria ser procurado. Àquela altura, Bergling já tinha atravessado a fronteira como Eugen Sandberg, sem ser molestado. Houve um furor internacional. Em 19 de outubro, Sten Wickbom, ministro da Justiça da Suécia, renunciou por causa da fuga.

Pelos sete anos seguintes, quando as polícias federais de 70 países permaneceram em alerta para sua fuga, Bergling e sua mulher teriam viajado pelo Leste Europeu e pelo Oriente Médio. Em meio a uma série de boatos – inclusive o de que ele havia feito cirurgia plástica e vivia em Viena, como corretor de imóveis -, eles conseguiram escapar da perseguição.

Em 1991, ainda com os fugitivos ainda à solta, uma estação sueca de TV escreveu às autoridades soviéticas, alertando-as para a suspeita de presença em seu país de um foragido sueco chamado Eugen Sandberg. (A carta omitiu a precisa natureza de seus crimes.)

Acreditando que Sandberg seria uma espécie de ladrão de galinhas, o ministro do Interior soviético foi ao rádio e à TV pedir que o público procurasse por ele. Mas isto, também, não ajudou muito. Em 1994, dizendo ter saudade da família, Bergling e sua mulher voltaram por conta própria à Suécia. Bergling voltou ao xadrez; sua mulher, que não sofreu acusações, morreu de câncer em 1997.

Bergling, que recebeu liberdade condicional por motivos de saúde no mesmo ano, teria casado e se divorciado ao menos mais uma vez desde então. Nos últimos anos, ele vivia sob o sobrenome Sydholt.

Após a prisão de Bergling, a Suécia foi forçada a reorganizar suas operações de defesa e segurança, ao custo estimado de US$ 45 milhões, segundo informou em 1987 a United Press International. Tudo indica que o custo de sua fuga, em termos de reputação internacional do país, também foi considerável.

“Exceto se déssemos uma passagem para ele ir a Moscou”, disse uma autoridade sueca ao jornal australiano “The Courier-Mail” em 1987, não havia muito mais que poderíamos fazer.”

Stig Bergling faleceu em 24 de janeiro de 2015, em Estocolmo, numa casa de repouso, aos 77 anos, do mal de Parkinson.

 

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/02/1583684- MUNDO – DO “THE NEW YORK TIMES” – 01/02/2015)

(Fonte: Zero Hora – ANO 51 – Nº 18.009 – TRIBUTO – 2 de fevereiro de 2015 – Pág: 31)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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