Sir William Wallace, mitológico, transgressor, foi um herói escocês do povo.

0
Powered by Rock Convert

Sir William Wallace (Elderslie, 1270 – Londres, 23 de agosto de 1305), apesar de filho de outro sir, foi um herói escocês do povo. Foi mitológico, transgressor, estóico e atraiçoado, era menino quando viu pai e irmão dependurados numa forca.

Levado para vários lugares por um tio, voltou falando francês e latim e sonhando com um pedacinho de terra, uma boa mulher, quem sabe umas vaquinhas e filhos para pastorear em paz até o fim de seus dias. Tudo em vão.

Um homem tão puro, de propósitos tão bondosos, é arrancado desse estado e transformado em selvagem porque eles, os invasores, querem estuprar e matar a sensacional camponesa com quem se casa em segredo, Murron.

Naquele tempo, os nobres tinham o direito de desfrutar a primeira noite das noivas. Não faziam isso somente por lascívia, mas também por astúcia política do monstruoso rei da Inglaterra Edward Longshanks I, que usa soldados irlandeses como escudos “para economizar material” e que joga pela janela o namorado de seu filho, o príncipe herdeiro.

Há Isabelle, mulher do príncipe e futura rainha, mandada pelo rei para uma missão de traição junto a Wallace, mas que fraqueja na ação política diante da cabeleira e dos olhos azuis do inimigo, com quem dialoga em francês.

Com tais recompensas, ele pretendia atrair para povoar seus domínios “o tipo de homens de que precisamos.” Só não sabia que teria Wallace, pela frente.

Privado da liberdade de ter a mulher só para si, Wallace transforma-se em bicho. Passa a lutar pela liberdade de todos os seus compatriotas, queiram eles ou não. Os escoceses ficam furiosos porque os ingleses são vilões, e os ingleses, por sua vez, se enfurecem porque os escoceses são fedorentos e barbudos e, quer dizer, não são ingleses.

Sob as ordens de Wallace, os bandoleiros libertários vivem uma espécie de socialismo primitivo, desconhecendo o pente, vestindo-se todos do mesmo modo – e compartilhando a riqueza comum, com a propriedade privada inglesa abolida.

As dissensões eram punidas com a morte e vários companheiros de Wallace que se bandeiam para o lado inglês acabam tendo a cabeça esmigalhada.

Wallace, é claro, chega ao fim da linha em situação tão ruim quanto outros mártires, enforcado, decapitado e esquartejado, depois de torturado em praça pública sem perder o fôlego para entoar seu grito libertário.

(Fonte: Veja, 21 de junho de 1995 – Ano 28 – N° 25 – Edição 1397 – CINEMA/ Por Geraldo Mayrink – Pág: 120/121)

Powered by Rock Convert
Share.