Sérgio de Souza Leite, humorista mais conhecido como Serginho Leite.

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Ele ficou conhecido por imitações no rádio e como a voz do Tigre Tony.

Sérgio de Souza Leite, humorista mais conhecido como Serginho Leite.

Leite trabalhou durante três décadas como locutor de rádio e se tornou popular no programa Show de Rádio, da Joven Pan. Ele era conhecido pelas imitações de celebridades, como Pelé e Paulinho da Viola, e por paródias que criava acompanhado do violão.

Outros trabalhos do locutor e humorista que se tornaram conhecidos foram os jingles e comerciais para rádio e TV do personagem Bom de Boca, da Cepacol, do Tigre Tony, do Sucrilhos Kellogg s, e do elefante Jotalhão, do molho de tomate Cica.

Leite também trabalhou na TV Globo, entre 1998 e 2000, no quadro “Retratos de domingo”, do programa “Domingão do Faustão”. Sua última aparição na emissora foi em uma entrevista no “Programa do Jô”, gravada em 2006.

Atualmente, Leite vinha trabalhando com apresentações de seu show de imitações e dublagens.

Morreu dia 12 de abril de 2011, aos 54 anos, de infarto do miocárdio, em São Paulo.
(Fonte: www.g1.globo.com – Pop Arte – 12 de abril de 2011)

É músico, radialista, humorista. Suas paródias, tecem inteligentes e agudas críticas, outras vezes considerações elogiosas a todo tipo de situação e gente. Há três décadas no rádio, o paulistano Serginho Leite, conquistou um espaço que poucos apresentadores conseguem no Brasil: um programa onde o repertório não é escolhido pelas gravadoras de capital estrangeiro, e outros que comandam o rádio por aqui. Depois de quatro anos afastado, volta com o seu Show de Rádio, programa que iniciou sua carreira (então, rádio Capital de São Paulo), para poder fazer rádio do jeito que gosta: futebol misturado com boa música e entrevistas.

Serginho é essencialmente um homem de rádio, mas começou sua carreira, no início da década de 70, como músico profissional, tocando em orquestras e conjuntos de bailes. Além disso, participava de rodas de choro em bares da noite paulistana, mais precisamente a do Bar do Alemão, no bairro de Perdizes, um reduto que freqüenta até hoje informalmente.

— Toco violão de sete cordas. Com 17 anos já tocava profissionalmente em bailes e em orquestras da televisão. Na extinta TV Tupi, por exemplo, participei de muitos programas, fazendo o acompanhamento musical. Trabalhei com grandes mestres como o flautista Altamiro Carrilho e o bandolinista Déo Rian. Com Carlinhos Vergueiro, que é muito meu amigo, ganhei o meu primeiro cachê como músico profissional — conta Serginho.

— Posso dizer que peguei uma época boa da música brasileira, na década de 70, quando existiam muitas orquestras e conjuntos de bailes em eventos e programas de televisão. Fazia também gravações de comerciais e vinhetas. Enfim, existia um mercado muito forte para o músico profissional no país. Atualmente não existe mais, porque tudo se tornou eletrônico, e os músicos foram substituídos pelos DJ, que às vezes não usam nem disco. Daqui há pouco eles é que serão substituídos por DJ eletrônicos,(risos) já vindo tudo mais acabado ainda — acrescenta.

Serginho já teve também algumas participações em televisão, como apresentador, mediador, a maior parte na TV Cultura, de São Paulo, e na Record. Na Globo, participou de um programa de entretenimentos de domingo à tarde, fazendo um quadro chamado Retratos de Domingo, em que, em clima de excelente humor, revelava o domingo de uma família pobre, outra intermediária e mais uma, a rica.

— Brincávamos com isso, sempre fazendo a paródia de uma música para retratar a situação. Mas para mim é muito ruim fazer TV, porque não dá tempo de aprender fazendo, tendo uma cobrança muito imediatista -declara taxativamente.

Foi durante uma gravação para um filme que conheceu pessoas ligadas ao programa Show de Rádio — que na época, final da década de setenta, fazia um imenso sucesso na Rádio Jovem Pan, de São Paulo. O programa comentava a rodada de futebol, de forma caricata, cheia de muito humor bem crítico. Acabou sendo um grande sucesso do rádio brasileiro, com altos índices de audiência, claro.

Serginho, que costumava fazer brincadeiras entre amigos, já era conhecido nas rodas de choro e samba, por essa característica, encaixava-se totalmente dentro do perfil do programa e, por isso, foi convidado para participar informalmente. A idéia era mandar paródias, piadas, o que ele quisesse, ao ar.

— Aceitei na hora o convite e lá estava eu, comentando junto com a equipe. Para mim foi maravilhoso, porque, inclusive, eu era fã do programa — confessa Serginho.

— Era tudo feito ao vivo, em uma mesa enorme cheia de gente. Durante o jogo, o pessoal escrevia as paródias onde aparecia cada time com o seu segmento de torcedores, o que era bem comum no Brasil há alguns anos, mas desapareceu. Hoje a torcida de futebol é igual no país inteiro. Mas naquele tempo, existia uma segmentação: o palmeirense era o italiano; o corintiano era o maloqueiro, o favelado; a torcida do São Paulo era os pó de arroz, e assim por diante — conta.

-O Show de Rádio ficou sendo durante muitos anos a única “escola de rádio e humor”, que existia aqui em São Paulo, fazendo um trabalho super popular. Passou pelo programa grande parte da turma que hoje se vê trabalhando com humor em rádio, e mesmo no teatro — continua.
Talento reconhecido

Esse trabalho foi totalmente bem recebido pelos ouvintes, que faziam elogios constantes às paródias de Serginho, a ponto da rádio convidá-lo para participar mais frequentemente do programa e, mais tarde, em 1978, contratá-lo de fato, como rádio-humorista.

— Nesta época, os conjuntos de bailes e as orquestras já estavam em queda, e para sobreviver eu tinha que me desdobrar. E como rádio era uma “praga” para pagar (risos), sai aquele dinheirinho, que é dinheirinho mesmo, acabei trabalhando paralelamente como locutor na Rádio Cidade FM, de São Paulo, do Sistema JB de rádio, que estava começando, fazendo as folgas dos locutores da casa, nos finais de semana e na madrugada, isso já em 1981— conta bem humorado.

— Detalhe: era uma rádio que pagava um salário que nenhuma outra pagava, porque rádio não paga, já disse, (risos), além de inovar no esquema de apresentação dos programas, sendo o próprio locutor quem operava a mesa. Já tinham algumas FMs em São Paulo, mas todas com programação tipo “música de elevador ou de consultório médico”, sem apresentador. A Cidade foi a primeira que entrou ao vivo — explica.

Mas na Rádio Cidade, ele não podia fazer nada de humor, por ter um contrato de rádio-humorista com a Jovem Pan. Geralmente tinha que ler as últimas notícias, as mais leves, dar a previsão do tempo e outras coisas mais, além de anunciar as músicas tocadas e fazer pequenos comentários, um trabalho de locutor.

— Ah!,mas não aguentava, porque o humor é do meu jeito mesmo de ser, de falar, e brincava quando ia ler as notícias, interpretando-as — revela o humorista.

Além disso, a própria condição do trabalho era engraçada. A locução era feita em um prédio onde havia um único porteiro. Quando caía a transmissão — e caiu duas vezes no seu horário — tinha o próprio Serginho que sair do prédio, atravessar a Avenida Paulista, em plena madrugada, geralmente às 3:30 h e ir à cobertura do prédio em frente, onde ficava a sucursal da rádio, para ligar o transmissor, em meio a muitos cabos estranhos para ele.

— Nunca caiu com ninguém, só comigo (risos). Ficava morrendo de medo de levar um choque. Enquanto pensava no telefone tocando sem parar no estúdio, porque a audiência da madrugada é imensa. Ninguém imagina o tanto de solidão que existe na cidade, o tanto de gente que passa a noite acordada — declara.

Em 1982 a Rádio Jovem Pan FM o contratou para fazer, além do Show de Rádio na AM, um programa de músicas, sendo exclusivo da casa. Por causa do grande sucesso desse programa, como afirma, “estourou” mesmo como humorista.

Veio a censura

Serginho podia livremente fazer as suas brincadeiras, paródias, e falar o que quisesse, em seu programa musical, mesmo que por isso tivesse problemas com a censura, o que aconteceu várias vezes.

— Era milico de toda parte, querendo me prender (risos). Mesmo assim, continuei a fazer muitas paródias com política, economia, e tudo mais que causava problemas. Muitas vezes, acabava o programa e já tinha uma viatura me esperando na portaria do prédio, para me levar para prestar esclarecimento — lembra.

Serginho conta que no final de 1983 o programa tinha mais audiência que todo o horário das AM somadas. Muitas das suas paródias faziam tanto sucesso que ele tinha que apresentá-las na televisão, em programas como os de Flávio Cavalcanti e J. Silvestre.

— Eles não paravam de me convidar para os seus programas. Eu é que não queria me expor demais, para não perder o mistério que existe em torno da imagem de um apresentador de rádio. A graça do rádio também é essa. E eu não sei fazer televisão. Além disso, a minha paixão é mesmo o rádio.

A ordem e o “jabá”

Segundo Serginho, desde que começou como locutor teve que se deparar com o “jabá” no rádio brasileiro, nome dado ao ato de pagar para que uma rádio toque determinadas músicas, fazendo parecer que é o desejo do povo que está sendo atendido. Já na década de 40/50 esse “serviço” existia, mas diretamente entre assessores ou empresários de artistas e rádio. Mais tarde, e principalmente nos dias atuais, passou a ser feito diretamente entre grandes gravadoras de capital estrangeiro e rádio.

Neste caso, como afirma, o locutor não interfere em nada naquilo que vai tocar, já recebendo uma programação. Assim, o público, ao ligar e pedir uma música, quando há participação ao vivo, tem que escolher “sua” música de uma lista que faz parte da programação da rádio. É como em uma eleição: o eleitor tem que “escolher” o candidato que figura numa lista de políticos já definidos, sem a sua interferência.

Essa “músicas”, na sua grande maioria, jingles, comerciais da pior qualidade, descartáveis, burras, decadentes, são feitas com ritmos espúrios, disfarçados ou não — o que aborrece qualquer apresentador brasileiro honesto.

— No mundo dos negócios, se alguém tem em suas mãos uma rádio em primeiro lugar na audiência, tem um tesouro nas mãos. E com certeza os donos de rádio, sempre se aproveitaram muito bem disso — diz Serginho Leite.

— Sou exigente com relação à música, porque sou músico. Logo, não aguento música ruim. Mas era obrigado a colocar “jabá dos brabos”. O máximo de liberdade que me davam era a de tirar duas tolices, por hora, e substituí-las por outras músicas, que também estivessem na lista. Além disso, como o meu horário era de bastante sucesso, quando tinha uma entrevista marcada com algum cantor que estava visitando a rádio, eles queriam fazer no meu horário. Então eu fazia uma pequena selecionada nesses “convidados” (risos).

— Mas nunca chegou às minhas mãos dinheiro algum dos jabás. Por conta disso, fiquei por anos fora do rádio, justamente por ter sido intransigente e, talvez, consiga ter um bom trânsito em qualquer veículo exatamente por ser um sujeito acima dessas coisas — afirma.
Diversão e pouco dinheiro

Além do jabá, o profissional de rádio enfrenta o salário ruim e a falta de emprego. No Brasil o profissional tem que trabalhar muito para conseguir sobreviver, e para manter uma equipe.

— Estreamos o Show de Rádio sem patrocínio, sendo que para colocar o programa no ar, temos 16 pessoas, até agora, trabalhando fixo, além de três ou quatro estagiários, que pegamos em faculdades. Então o grande problema do rádio é conseguir dinheiro para pôr essa turma para trabalhar — explica.

— Os cursos de comunicação e as escolas de rádio, vão despejando jovens no mercado, mas não ensinam para eles o que é verdadeiramente esse mercado. Não dizem que não há dinheiro para se trabalhar. Nós, daqui do Show de Rádio, a maioria do ramo há muito tempo, já calejados, nomes famosos do rádio inclusive, ficamos quatro anos tentando entrar no ar, e tivemos que inventar um formato para conseguir fechar com uma rádio de ponta -fala.

Serginho conta que atualmente as rádios nem ao menos contratam locutores. Simplesmente fazem um acordo, no qual o locutor ganha através dos anunciantes que seu programa conseguir.

— No passado, o locutor era empregado da rádio. Hoje, ele tem que levar o seu próprio dinheiro para trabalhar; quer dizer, os patrocínios. Então, quem não tem experiência de rádio (ou de “vendas”), por exemplo, tem que torcer para morrer um pastor, porque só aí abre espaço na rádio para ele entrar (risos). Se em São Paulo tem sessenta rádios, oitenta por cento delas está em mãos de pastores evangélicos, que arrendam a rádio inteira -denuncia.

— Quando começou esse modismo horrível das duplas “sertanejas”, tipo Zezé di Camargo e Luciano, eu já estava fora do rádio, felizmente (risos). E junto com o “sertanejo” aconteceu também o grande momento dessas igrejas evangélicas nas rádios. É a música gospel*, ou a música da própria igreja, em rádios arrendadas por pastores. Alguns disfarçam e usam só alguns horários e querem fazer uma rádio de sucesso no meio disso. Não fazem nem uma coisa e nem outra — continua.

— É claro que temos coisas boas, como a rádio USP, por exemplo, com música brasileira de vanguarda e tradicional, ou outra também de bom gosto, que toca choro etc. Se a pessoa procurar muito, encontra, mas a maioria toca mesmo é “jabá” e jingle. Quer dizer, o que não está com o pastor, está tocando outra porcaria. E no dia-a-dia não sobrou espaço para um apresentador de personalidade — constata Serginho.

— Se os donos de rádio quisessem fazer uma rádio legal, difundindo a boa música, o humor, a informação, mesmo contra o meu faturamento, seria maravilhoso, para o povo e para quem ama o rádio. E creio que também daria para ganhar dinheiro assim, porque os anunciadores veriam credibilidade em tais programas. E ouvinte é o que não falta. Só que não se faz isso, não se pratica isso — acrescenta.

Para retornar

O afastamento de Serginho do veículo que ele mais ama começou quando, em 1985, a Jovem Pan passou a não demonstrar interesse em manter os seus locutores e equipes. Serginho se viu sem a maior parte da sua equipe, e tinha que se desdobrar para “tapar buraco”. Acabou aceitando uma proposta do Sistema Globo de Rádio: fazer um programa excelente, em seus moldes, na Globo FM, em São Paulo, mas no último momento, a Globo desistiu e ele se viu obrigado a fazer um outro que só tocava “lixo”:

— Eles resolveram fazer a mesma programação da Rádio 98 FM, do Rio, também do Sistema Globo. Então eu tinha que obedecer: “Você liga e é só sucesso. Basta tocar a programação, totalmente jabá”. Lixo puro. Não dava. Era realmente horrível. E eu fiquei tão irritado com essa história que perdi a vontade de continuar o meu trabalho em rádio — conta.

Ele teve que ficar até o final do contrato, com validade de dois anos. Uma tortura. O máximo que conseguiu, para atenuar o seu desgosto, foi a transferência para a Excelsior AM, também do Sistema Globo, onde tinha um programa com entrevista para, pelo menos, como diz, praticar um pouco como apresentador. Lá cumpriu o restante do seu contrato e depois desanimou com o rádio.

Serginho passou a viver de seus shows em São Paulo, onde cantava e tocava as suas paródias, juntamente com uma banda. Apresentava personagens, imitações. Começou no início da década de 80, dirigido por Henfil, seu grande amigo, e foi sucesso imenso, incluindo o Anhembi lotado, com recorde de público pagante.
Um Show de Rádio

Serginho fez questão de voltar, em abril deste ano, com um programa que fosse só seu, sem donos ou diretores de rádios para dar “palpites obrigatórios”. O programa é basicamente de esporte com muito humor, mas também repleto de música boa e entrevistas.

— É tudo ao vivo. Estamos fazendo uma pesquisa de músicas bem antigas, marchinhas de carnaval, sambas diversos, enfim, muita música boa para tocar. Também têm convidados dando entrevistas e fãs participando pelo telefone. Enfim, uma superprodução, porque agora tenho esse espaço e desejo tocar o que é bom. Mas para isso eu sou o responsável pela rádio. Quer dizer, eu tive que arrendar a rádio inteira à noite, para poder fazer do jeito que eu quero e tocar o que quero. É como se eu estivesse fazendo a minha rádio. Aí, valeu o tempo que fiquei fora do ar — desabafa.

— E os nossos amigos nos prestigiam. O Carlinhos Vergueiro e o Ruy Faria, por exemplo, são dois artistas que têm tudo a ver com o Show de Rádio: são personalidades da melhor música brasileira (e ambos metidos a jogadores de futebol). Carlinhos só reclama, parece até filho de pai rico que é dono da bola (risos). Joguei bastante com ele no Namorados da Noite — revela.

Serginho foi a única pessoa, entre os que participaram ou tiveram alguma ligação com o primeiro Show de Rádio, exibido nas décadas de 70 e 80, que ficou com o direito de dar continuação ao programa, baseando-se em seus moldes originais, após a morte de Estevam Sangirardi, criador do programa.

— O Sangirardi ganhou o nome Show de Rádio da Jovem Pan, depois de uma pendenga judicial que tiveram para isso, passando a pertencer à família Sangirardi. Após sua morte, Dona Olga, a viúva, me concedeu o direito de utilizá-lo, pedindo somente para que eu destinasse ao asilo que ela tem em Poá, São Paulo, que abriga cinqüenta velhinhos, uma percentagem de cada trabalho que eu fizesse usando o nome. Inclusive, antes de chegar aqui na Rádio Capital, fiz o programa via Internet, e tentei voltar em 1997, pela Rádio Bandeirantes de São Paulo, entre outros em que já utilizei o título — descreve .

— Fizemos esse acordo, porque além de ajudar os velhinhos lá da dona Olga, (risos) eu não podia abrir mão do nome do programa, por ser muito querido e já ter formado muitos profissionais de rádio e esporte atuantes aqui em São Paulo, como em outras partes do país. O Show de Rádio marcou a vida dos paulistanos, e quase todos lembram. Para mim é maravilhoso prosseguir usando esse título — explica o radialista.

Show de Rádio vai ao ar pela Rádio Capital de São Paulo, AM 1.040, de domingo a domingo. De segunda a sábado, das 21h às 23h e aos domingos das 14 h ou 18 h, conforme a partida, até meia-noite, e quando não tiver transmissão de futebol, das 21 às 23h. Às terças e quartas, quando tem transmissão de futebol, entra no ar às 20h e vai até à meia-noite. Sem jogo, o horário é normal.

Acontece que no Show de Rádio original, basicamente o ouvinte se encontra com as músicas, entrevistas, e a transmissão ao vivo do futebol. No original, a equipe de comentaristas, ou humoristas, entrava no ar após a transmissão normal do jogo, para fazer seus comentários e sátiras. Agora, a equipe mata as pessoas de rir porque se faz tudo isso durante a transmissão mesma do jogo, ao vivo e também feita de maneira muito profissional, que continua após o término da partida.

— Temos um locutor do futebol, um âncora do esporte, um repórter no campo e um comentarista. São quatro pessoas, só para transmitir a partida, e junto com elas toda a equipe de comentaristas, satiristas do Show de Rádio. Apesar de termos um roteiro para seguir, improvisamos muito, porque não sabemos o que vai acontecer durante o jogo, nem o seu resultado. Vamos fazendo o programa de humor em cima dos fatos — conta.

Serginho Leite não pretende ser original pela forma, mas buscar aquilo que é verdadeiramente popular: a psicologia do povo, suas reais preocupações, devolver a ele a sua voz, suas cadências e poesia, seu humor de fato brasileiro; o espaço que pertence, antes de tudo, ao povo.

— Durante as partidas e depois delas aparecem os personagens típicos ou folclóricos de cada time.O Palmeiras é o time dos italianos. Então, entra uma brincadeira com algum personagem com sotaque italiano. O Corintians é o time dos favelados e aparece alguém para fazer seu comentário. E o São Paulo, o time dos “pó de arroz”, vem um “pó de arroz” comentar a partida, fazer sua reivindicação, sua queixa — continua.

A equipe do Serginho Leite é formada por veteranos do rádio. Vieram nas caravelas do antigo Show de Rádio: Weber Laganá, Luis Henrique Ramagnoli, Norival Rizzo, Babú, Doni Vieira, Olivério Júnior, e o filho de Serginho: Pedro Leite. A grande perda foi a do mestre Fiori Giglioti, que feleceu em 08 de junho deste ano, com 77 anos de idade e 55 de rádio, como narrador esportivo, comentarista e apresentador.

— Convencemos o Fiori a ser a “opinião capital”, porque ele já não aguentava mais narrar futebol. Também tinha um quadro especial chamado “Cantinho da Saudade”, que lembrava antigos jogadores e figuras ligadas ao futebol, desaparecidas, de quem ninguém mais fala. Era algo que o público gostava muito — conta.
Rádio é paixão

Serginho se confessa um apaixonado por futebol e não esconde de ninguém ser um “pó de arroz”, são-paulino, mas afirma que a equipe do Show de Rádio é heterogênea o suficiente para não haver injustiça nos comentários. E entre tantas funções: músico, humorista, rádio-humorista, radialista, etc, se define: é radialista humorista.

— Radialista primeiro, porque gosto muito da responsabilidade de ter um microfone e conduzir um programa, e humorista porque faz parte de mim. Mas insisto em dizer que não suporto música ruim. Bate no meu ouvido e sinto que me prejudica. Sinto-me injuriado. Mesmo assim, ouço de tudo, até porque tenho que ouvir de tudo para poder falar mal — brinca Serginho.

Ele afirma que o amor do povo pelo rádio nunca se esgotou. Muitas pessoas não sabem andar sem o aparelho de rádio.

— O radinho no ouvido continua sendo hábito e a pessoa que gosta mesmo de rádio, costuma ser completamente fanática. Ela pode ir ao estádio, ver o jogo ao vivo que leva o rádio; ela pode assistir pela televisão que fica com o radinho no ouvido. É impressionante. O rádio faz parte dessas coisas que se manifestam no meio do povo. O rádio é apaixonante também por isso. O futebol é a mesma coisa; permitindo facilmente associá-lo com música, com o comportamento das pessoas etc. Por isso, a idéia de fazer o Show de Rádio é maravilhosa para mim — finaliza Serginho Leite.

*gospel— cânticos próprios dos cultos evangélicos que as classes dominantes impõem ao proletariado negro no USA, com influência do blues.

(Fonte: www.anovademocracia.com.br – Rosa Minine)

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