Sebastião Uchôa Leite, poeta pernambucano, conquistou o Jabuti de poesia em 1980, pelo livro “Antilogia”

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Sebastião Uchôa Leite (Timbaúba (PE), em 31 de janeiro de 1935 – Botafogo, Rio de Janeiro, 27 de novembro de 2003), poeta pernambucano

 

 

Além de poeta, Sebastião Uchoa era também ensaísta e tradutor.

 

Sebastião Uchôa Leite nasceu em Timbaúba (PE), em 31 de janeiro de 1935. Seu primeiro livro, publicado em 1960, foi “Dez Sonetos sem Matéria”. Ao todo, o poeta publicou 12 livros, entre poemas e ensaios.

 

 

Sebastião Uchoa Leite licenciou-se em Direito e em Filosofia pela Universidade de Pernambuco. O seu primeiro livro de poesia, “Dez Sonetos Sem Matéria”, foi publicado em 1960, seguindo-se, entre outras, “A Ficção Vida”, “Uma Incógnita” e “Espreita”.

 

 

Em 1980, ganhou o prêmio Jabuti de Poesia pelo livro “Antilogia” e em 2001 recebeu também o Jabuti de Tradução pela obra “Poesia”, de François Villon.

 

Conquistou o Jabuti de poesia em 1980, pelo livro “Antilogia”, prêmio que ganhou outras duas vezes, na categoria tradução, com “Crônicas Italianas”, de Stendhal, em 98, e com “Poesia”, de François Villon, em 2001.

 

 

Traduziu também obras de A. M. Krich, Angelo M. Ripellino e Julio Cortázar, entre diversos outros.

 

 

Pouco antes de ser internado, Uchôa Leite conquistou o segundo lugar do Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira, com “A Regra Secreta”, pelo qual recebera R$ 30 mil.

 

 

Uchoa Leite escreveu os ensaios “Participação da Palavra Poética”, “Crítica Clandestina” e “Jogos e Enganos” e traduziu livros de autores como Stendhal e Lewis Carroll.

 

O poeta Sebastião Uchôa Leite morreu em 27 de novembro de 2003, no Rio de Janeiro, vítima de insuficiência cardíaca. Ele tinha 68 anos e estava internado desde o último dia 16 no hospital Samaritano, em Botafogo, na zona sul da cidade.

 

A perda foi lamentada pelo meio literário brasileiro. O poeta Ferreira Gullar ressaltou sua ética e o qualificou como “poeta de muito requinte, tradutor excelente e um intelectual competente”. “Era alguém por quem tinha um grande carinho, apesar das discordâncias artísticas”, afirmou.

 

A ética e a competência foram lembradas também pelos poetas Régis Bonvicino e Frederico Barbosa, que editou seu último livro. “Sempre foi um trabalhador intelectual sério e exigente. Considero-o como um dos maiores poetas deste país”, disse Barbosa.

(Fonte: https://www.publico.pt/2003/11/28/culturaipsilon/noticia – CULTURA ÍPSILON / Por LUSA – 28 de Novembro de 2003)

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada – FOLHA DE S.PAULO – ILUSTRADA / DA SUCURSAL DO RIO – São Paulo, 28 de novembro de 2003)

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Crítica: a herança poética de Sebastião Uchoa Leite

‘Poesia completa’ reúne mais de 40 anos de produção do autor pernambucano

 

A publicação de “Poesia completa” de Sebastião Uchoa Leite é significativa para o cenário literário contemporâneo. Não só pela oportunidade de conhecer uma obra com mais de 40 anos de produção — e onze livros publicados — mas, sobretudo, por aquilo que ela ainda tem a oferecer ao presente, uma espécie de herança poética capaz de solicitar certos questionamentos e tensões.

 

Em primeiro lugar, é interessante pensar como, a partir de “Antilogia”, Sebastião problematizou uma “metafísica” da autoria, escrevendo poemas a partir do diálogo com outros textos/autores: de Baudelaire a Manuel Bandeira, passando por Mallarmé e Dashiel Hammett, entra tantas referências incorporadas à sua escritura. Ou de forma bem mais radical no procedimento de escrever poemas a partir do corte e montagem de outros textos. Assim, verbetes de dicionário, textos de divulgação científica, trechos de romance se transformam em poemas, numa problematização instigante da noção de originalidade, antecipando em tempos práticas discursivas que Marjorie Perloff identificou em “O gênio não original” (Editora UFMG). Interessante, também, é pensar que a problematização da autoria se desdobra na problematização do gênero poético, em poemas que não se parecem poemas: desses últimos — escritos a partir de corte/montagem — até outros que se assemelham a pequenos ensaios, como os de Cortes/Toques sobre filmes (“Ela, a pantera”, “Espelho obscuro” e “As relações perigosas” são alguns dos mais instigantes) ou alguns dos poemas da série “Memórias das sensações”, do livro “A regra secreta”.

 

A partir daí, observa-se uma relação que essa poética estabelece com o cinema. Flerte com o procedimento corte/montagem, que remete ao cinema russo de vanguarda e a Godard, com o ensaísmo, que faz referência a Chris Marker e alguns documentaristas, com a incorporação de figuras/personagens dos filmes de terror, suspense e noir. Essas são solicitadas o tempo todo para a figuração da subjetividade poética em relação ao outro. Em “Antilogia” surge a figura do vampiro, não um vampiro pleno de si e de seus atos, mas um vampiro em crise, como os vampiros de “Only lovers left alive”, último filme de Jim Jarmush. “Drácula”, “Metassombro” e “He rides again” são alguns dos exemplos. Problematizando ainda mais a questão das vozes que aí figuram a subjetividade, Sebastião solicita os detetives. Daí uma série de anti-heróis, agentes da lei que arrumam confusão, por exemplo, com a própria lei, como no divertido “Marlowe x Polícia”. A tensão entre essas figuras antitéticas resulta numa figuração em que não há mais como reconhecer claramente perseguidor e perseguido, criminosos e agentes da lei, como se lê no poema “Os assassinos e as vítimas”.

Já nos últimos livros, a solicitação dessas figuras/personagens cessa um pouco, mas o procedimento cinematográfico acaba sendo solicitado de outra forma. Não há como não perceber, a partir de “A uma incógnita”, a presença de poemas em que a experiência da doença — desmaios, internações e a proximidade da morte. Antes de figurá-los como autobiográficos — uma vez que Sebastião, realmente, enfrentou problemas crônicos de saúde nos últimos anos de vida — sua estratégia é montar cada um desses episódios como cenas, onde o próprio doente torna-se espectador da experiência. Há, assim, uma voz que se desdobra em duas, e um espaço que também se desdobra em dois, como no significativo “A ficção morte”.

 

Há outras leituras possíveis da poética de Sebastião Uchoa Leite. Mas a obviedade dessa afirmação, no caso desse autor, não é tão óbvia assim: as tensões colocadas por sua obra — pelos procedimentos utilizados — permitem e, sobretudo, solicitam a releitura das leituras já feitas e isso, na obra de alguém, talvez seja aquilo que poderíamos chamar de criticidade ou de tomada de posição.

(Fonte: https://oglobo.globo.com/cultura/livros – CULTURA / LIVROS / POR FRANKLIN ALVES DASSIE* – 19/03/2016)
Franklin Alves Dassie é professor adjunto de Teoria da Literatura na Universidade Federal Fluminense  

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