Rudi Dutschke, o Vermelho, conhecido como um dos grandes líderes estudantis dos anos 60 na Alemanha

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Rudi Dutschke (7 de março de 1940 – 24 de dezembro de 1979), o “Vermelho”, ex-dirigente da Federação de Estudantes Socialistas da Alemanha, conhecido como um dos grandes líderes estudantis dos anos 60 na Alemanha.

Rudi Dutschke foi o mais carismático líder do movimento estudantil alemão dos anos 60. Após sofrer tentativa de assassinato, ele abandonou a Alemanha com a família, para nunca mais voltar.

De acordo com a polícia, uma queda na banheira teria causado a morte aos 39 anos.
(Fonte: Zero Hora – ANO 46 – N° 16.186 – HÁ 30 ANOS EM ZH – 26 de dezembro de 2009 – Pág; 40)

 

 

 

 

1968: Atentado contra Rudi Dutschke

Alemanha 60 Anos: Acontecimentos que marcaram a história do país

Um atentado a tiros contra o líder estudantil alemão Rudi Dutschke, em Berlim Ocidental, a 11 de abril de 1968, desencadeou protestos que culminaram em grandes batalhas campais com a polícia.

Na primavera europeia de 1968, o líder estudantil Rudi Dutschke, sua Oposição Extraparlamentar (Ausserparlamentarische Opposition – APO) e os grupos de esquerda viam a Alemanha Ocidental a caminho de se tornar um Estado policial. Eles responsabilizavam o governo do chanceler federal Kurt Georg Kiesinger e os jornais do grupo editorial Springer pela truculência da polícia e da direita.

Era época da revolta de milhares de estudantes contra a autoridade dos pais, da universidade e do Estado. Dutschke vinha de uma família protestante do leste alemão. Devido à sua confissão religiosa, não recebeu licença para ingressar na universidade na antiga Alemanha comunista, restando-lhe a opção de um curso superior técnico.

Ainda antes da construção do Muro de Berlim, em 1961, emigrou para o lado ocidental, onde começou a estudar Sociologia na Universidade Livre de Berlim. Um ano depois, participou da criação da Ação Subversiva, que mais tarde se aliou à União Universitária Alemã.

Modernizar a ideia da revolução permanente

Em 1965, Dutschke foi eleito para o conselho político da União e a partir daí passou a participar ativamente de manifestações e protestos centrados na crítica ao establishment. Entre os maiores, em Berlim, estiveram a passeata contra a Guerra no Vietnã e a manifestação contra a visita do xá da Pérsia à Alemanha.

Não passava um dia sem que o jornal sensacionalista Bild, do grupo Springer, usasse em suas manchetes a palavra “terrorismo” associada à imagem de Dutschke, então com 28 anos. O estudante pretendia dar uma nova feição à ideia da revolução permanente de Lênin e, principalmente, de Trótski. Além disso, junto com sua Oposição Extraparlamentar e inspirado em Che Guevara, defendia a necessidade de trazer a guerrilha urbana às metrópoles da Europa.

Em abril de 1968 o grupo terrorista alemão Fração do Exército Vermelho (RAF) já detonava suas primeiras bombas. Dutschke, ao contrário, admitia a violência somente em casos extremos. Considerado um teórico do movimento estudantil e da nova esquerda alemã, distanciou-se claramente das ações terroristas, que mais tarde conceituou como “destruição da razão”.

O atentado

Depois da morte do universitário Benno Ohnesorg, baleado por um policial durante uma manifestação em 1967, Dutschke centrou seus protestos no autoritarismo. Além disso, participou da campanha que exigia a desapropriação dos bens de Axel Springer.

No dia 11 de abril de 1968, foi gravemente ferido por um tiro na cabeça, disparado por um operário tido como de extrema direita. No meio estudantil, o grupo Springer foi acusado de instigar o atentado, com suas reportagens tendenciosas. Seguiram-se protestos tanto na Alemanha quanto no exterior.

Após várias cirurgias, Dutschke buscou recuperação na Suíça, na Inglaterra e na Itália. Durante a convalescença, contou com o apoio de intelectuais de esquerda como o compositor Hans Werner Henze, que o hospedou em sua residência na Itália.

Alemanha socialista independente

Passou a estudar em Cambridge em 1970, mas foi expulso da Inglaterra por “atividades subversivas”, passando a lecionar na Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Dois anos depois, retornava a Berlim.

Em 1974, publicou uma forma popularizada de sua dissertação sobre o marxista húngaro Georg Lukács. No livro, Dutschke descreveu como imaginava uma Alemanha socialista, sem a ingerência de Moscou, Pequim ou Berlim Oriental.

Por diversas vezes, viajou para a então Alemanha Oriental, a Noruega e a Itália, onde fez palestras sobre direitos humanos e a Europa Oriental. Além disso, Dutschke escreveu para diversas publicações de esquerda, participou de manifestações contra usinas nucleares e engajou-se pelo Partido Verde.

Porém as sequelas do grave atentado de 1968 o consumiram lentamente, enfraquecendo-o até causar sua morte em 24 de dezembro de 1979, aos 39 anos, na Dinamarca. O militante de longos cabelos escuros, o menos dogmático dentre os líderes da esquerda alemã, morreu afogado na banheira, durante um ataque de epilepsia, que desenvolvera em consequência do ferimento na cabeça.
(Fonte: http://www.dw.de/1968-atentado-contra-rudi-dutschke/a-494641 – Calendário Histórico
– DW.DE)

 

 

 

 

 

Há 40 anos, em plena década de 60, a juventude alemã olhava para o eloquente e carismático Rudi Dutschke como porta-voz de seus desejos de mudança para a sociedade alemã. A rebelião corria solta nas ruas da Alemanha.

Falando em nome da União Estudantil Socialista Alemã (SDS), Dutschke denunciava o que ele e outros contestadores consideravam falhas na cultura alemã: as severas reformas antidemocráticas impostas às universidades e à sociedade, a hipocrisia de antigos nazistas em posições de poder dentro do governo, 20 anos após a Segunda Guerra.

Sua esposa, Gretchen Dutschke-Klotz, lembra que Rudi tinha tanto a sagacidade e a suave sinceridade que, combinadas, eram perfeitas para um líder político: “Ele era uma pessoa cheia de energia, preocupado com os outros. Se visse alguém numa situação difícil, já queria ajudar”, descreve Gretchen.

“Um cara muito legal mesmo”

Gretchen Klotz, norte-americana recém-saída da faculdade e em viagem pela Europa, encontrou Dutschke em um café em Berlim, em 1964. “Foi num café com mesas grandes. Havia muita gente sentada ali, mas ele era o único que tinha uma imensa pilha de livros à frente. Então pensei: OK, ele é realmente estudioso. Ele foi muito simpático e amável… Ele era o máximo, um cara muito legal mesmo”, relembra ela, rindo.

Na época, Dutschke estava estudando na Universidade Livre de Berlim. Em 1965, ele aderiu à SDS, que viria a liderar o movimento estudantil durante os anos seguintes. Dutschke e os rebeldes alemães não estavam insatisfeitos só com a Alemanha, mas também se uniam aos protestos internacionais. Em oposição è Guerra do Vietnã, saíam pelas ruas de Berlim entoando o nome do líder comunista vietnamita Ho Chi Minh.

Dutschke era crítico de maneira geral, comenta Gretchen: “Ele criticava muito a forma como a sociedade era organizada. Achava que as estruturas sociais e econômicas foram criadas de modo a favorecer apenas um grupo muito pequeno de pessoas, enquanto o resto estaria fadado a sofrer”.

No entanto, como cristão e pacifista, Dutschke também não acreditava no socialismo à moda soviética, tendo abandonado a Alemanha Oriental um dia antes de o Muro de Berlim começar a ser construído, em 1961, por considerar o país autoritário.

Os estudantes alemães daquela época, e Dutschke em particular, foram profundamente influenciados pelo pensamento filosófico da Escola de Frankfurt e do filósofo alemão Herbert Marcuse, estudioso das estruturas autoritárias da Alemanha que culminaram no nazismo.

“A geração dos anos 60 na Alemanha tinha que lidar com o fato de que seus pais haviam apoiado Hitler. E não queria que isso jamais viesse a se repetir. Portanto, o que fazer? Essencialmente, a ideia era acabar com as estruturas autoritárias – na família, nas escolas, no ambiente de trabalho, na economia, por toda a parte”, comenta Gretchen Dutschke-Klotz.

“Dutschke para a câmara de gás”

Muita gente diz que o movimento de 68 conseguiu mudar algumas coisas na Alemanha. Mas o êxito teve seu preço. Em junho de 1967, o estudante Benno Ohnesorg foi morto a bala por um policial durante protestos em Berlim.

Parte da sociedade alemã não sabia distinguir os estudantes em protesto, inclusive o líder Dutschke, de outros rebeldes que se radicalizaram e acabaram criando grupos terroristas. Um dos órgãos da imprensa conservadora, o jornal sensacionalista Bild, editado pelo grupo Axel Springer, era acusado pelos estudantes de incitar os ânimos da população contra Rudi Dutschke.

“Penso que ele ficava bravo com isso, mas acho que não sentia nenhuma ameaça. Eu é que sentia (risos), ele não. Mas certamente ele conseguia enxergar que a sociedade estava se polarizando”, conta Gretchen, que a partir de um certo momento começou a se preocupar seriamente com a segurança de seu marido.

“Então, no Natal de 1967, alguém realmente atacou Rudi numa igreja. O homem começou a bater em Rudi com a bengala, e outras pessoas se juntaram e o seguraram, impedindo que ele fugisse ou se defendesse. Esse homem poderia ter simplesmente espancado Rudi até a morte – e isso dentro de uma igreja! Um verdadeiro ultraje!”, narra ela.

A violência começou a aumentar. Passaram a aparecer pichações do tipo “Dutschke para a câmara de gás”. No dia 11 de abril de 1968, Josef Bachmann, que se dizia simpatizante da direita, baleou o líder estudantil. Dutschke conseguiu sobreviver às balas no seu cérebro. Para receber um tratamento médico melhor, Rudi, Gretschen e dois de seus três filhos nascidos até então foram à Itália, e depois à Inglaterra.

“Não retornamos à Alemanha, porque a atmosfera na época era aterrorizante. As pessoas de direita eram contra os estudantes e saíam dizendo coisas como: “Que azar que o Rudi não morreu. Mas da próxima ele não escapa”, lembra Gretchen.

Um complô de esquerda?

A família acabou se estabelecendo na Dinamarca, onde viveu de 1971 a 1979. Dutschke conseguiu recomeçar os estudos e acabou se envolvendo, à distância, com o Partido Verde, embora não tenha deixado de temer um retorno definitivo à Alemanha.

Durante todo esse tempo, ele continuou tendo acessos epilépticos, mesmo que com menor intensidade. O último ocorreu quando ele estava em casa, dentro da banheira, na véspera de Natal de 1979. Ele morreu afogado, 11 anos após a tentativa de assassinato.

“Foi uma absoluta surpresa, porque durante muitos anos ele não tinha tido nenhum acesso tão grave assim. Mesmo que ele sentisse qualquer coisa, não dava para perceber de fora. Durava no máximo alguns segundos, e só ele sentia”, descreve ela.

Nos últimos anos, surgiram suspeitas de que a Stasi, serviço secreto da antiga Alemanha Oriental, pudesse estar envolvida na tentativa de assassinato contra Dutschke, que passara a infância e início da juventude daquele lado da Alemanha.

“Li com meus próprios olhos a ficha dele na Stasi. Eles acreditavam que o Rudi era líder de uma conspiração mundial para derrubar a Alemanha comunista. (risos) Daria para dizer que eles evidentemente estavam com medo dele e interessados em neutralizá-lo”, confirma Gretchen Dutschke-Klotz.

O legado de Rudi Dutschke continua, e muitos dizem que a atuação do líder estudantil ajudou a Alemanha a sair do antigo regime. Sua esposa, Gretchen, mudou com o passar do tempo. Ela escreveu e publicou livros, e agora está desenvolvendo jogos de computador para seus netos. Mas também não perdeu a convicção de que a sociedade ainda precisa passar por uma mudança fundamental.

 

 

(Fonte: http://www.dw.de – Autora: Louisa Schaefer – Revisão: Augusto Valente)

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