Robert Falcon Scott, explorador que liderou duas expedições à Antártida

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JORNADA TRÁGICA

Os Aniversariantes conta a história do capitão que chegou atrasado ao Pólo Sul e morreu congelado na volta para casa

Robert Falcon Scott (Plymouth, 6 de junho de 1868 – c. 29 de março de 1912), aventureiro, explorador que liderou duas expedições à Antártida: a Expedição Discovery e a Expedição Terra Nova, um oficial da Marinha Real Britânica

Entre junho de 1910 e dezembro de 1912, o explorador Robert Falcon Scott e o norueguês Roald Amundsen travaram uma corrida pela conquista do Pólo Sul. Em meio a nevascas monumentais e temperaturas abaixo de 50 graus negativos, Scott alcançou o objetivo, mas ao chegar no local, encontrou a bandeira norueguesa fincada um mês antes por Amundsen.

Além de perder a disputa, Scott e seus quatro companheiros de jornada morreram congelados ao tentar retornar à base da expedição. Numa história de fracasso, um dos mais trágicos do século 20. Os próprios aventureiros narram sua última viagem, os cinco mortos da aventura fracassada: como o próprio capitão Scott, o médico de bordo Edward Wilson (Tio Bill), os oficiais Henry Bowers (Birdie) e Lawrence Oates e o sargento Edgar Evans (Taff), cada um conta um pedaço da jornada como se escrevesse um diário.

 

(Na realidade, o único diário conhecido da expedição é o qye o próprio Scott deixou.) Há trechos poéticos. Em determinado momento, o oficial Bowers relata uma incursão pela calota polar num dia em que a temperatura bateu em 57 graus negativos: “Numa das nossas paradas nos deitamos no gelo com os braços abertos e contemplamos um céu resplandecendo com a glória da mais extraordinária aurora que eu já vi”.

Os cinco personagens se referem o tempo todo ao seu aniversário e aos dos companheiros de viagem, como a marcar no calendário os dias que lhes restam de vida. Os relatos são carregados de maus presságios. Ao descrever a primeira noite da expedição sobre o gelo da Antártida, o capitão Scott diz: “Havia algo completamente estranho em relação ao lugar, algo sinistro, como se o passado, que até aquele momento permanecera tão congelado quanto aquele pedaço de pão jogado, tivesse finalmente começado a se degelar, libertando espectros de dias idos”.

 

EXPEDIÇÃO ARRISCADA – Compreende-se bem por que Scott perdeu a corrida para Amundsen. Autoritário, invejoso e obcecado, o inglês tinha todos os atributos, menos o de líder de uma expedição tão arriscada.

Mau planejador, zarpou da Inglaterra no comando de um navio em que entrava água por todos os lados. Teve de corromper as autoridades portuárias para fugir da fiscalização que impediria o barco de partir nessas condições.

Na Antártida, a jornada de 3 000 quilômetros no gelo, entre o sopé do vulcão Érebus e o ponto em que todos morreram congelados depois de atingir o Pólo Sul, foi um desastre atrás do outro. Os trenós motorizados pifaram logo no começo, os pôneis que deveriam substituí-los não suportaram o frio e tiveram de ser abatidos.

Os cães foram despachados de volta ao navio com parte da equipe. Sozinhos e a pé, restou aos homens de Scott arrastar seus próprios trenós sobre a neve. Ao atingir o pólo, no dia 18 de janeiro de 1912, depois de 81 dias de jornada, tinham as extremidades dos pés e das mãos gangrenadas pelo frio.

“A mão de Taff estava imensa e púrpura, e quase todas as unhas tinham caído. Havia um talho grande de través nos nós dos dedos, tão aberto que se podia ver o osso. Menos que uma mão, mais parecia uma fruta grotescamente intumescida prestes a explodir em pedaços.”

O sargento Edgar Evans morreu ajoelhado numa geleira. O oficial Oates convenceu o médico a lhe dar uma dose de morfina para suportar a gangrena nos pés e desapareceu no meio de uma tempestade de neve. Sem forças para continuar, os três sobreviventes enfiaram-se num saco de dormir e, sob uma tenda, aguardaram calmamente a morte.

Estavam a 17 quilômetros da base da expedição. Scott anotou no diário: “É uma pena, mas acho que não posso mais escrever”. Depois de assinar “R. Scott”, rabiscou uma última linha: “Pelo amor de Deus, cuidem de nossas famílias”. Oito meses mais tarde, uma equipe de resgate encontrou os três corpos congelados.

Junto das anotações de Scott, havia uma carta que Amundsen lhe deixou sob a bandeira norueguesa no Pólo Sul: “Caro capitão Scott, como provavelmente é o primeiro a alcançar esta área depois de nós, peço-lhe a gentileza de encaminhar esta carta ao rei Haakon VII. Se puder usar algum dos artigos deixados na barraca, por favor não hesite em fazê-lo. Com sinceras saudações, desjo-lhe um retorno seguro. Cordialmente, Roald Amundsen”.

(Fonte: Veja, 24 de janeiro de 1996 – ANO 29 – Nº 4 – Edição 1428 – LIVROS/ Por Laurentino Gomes – Os Aniversariantes, de Beryl Bainbridge – Pág: 98)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1912: Expedição de Robert Falcon Scott ao Polo Sul termina em tragédia

Em 29 de março de 1912, o britânico Robert Falcon Scott escrevia as últimas palavras em seu diário: “O fim não deve demorar”. Era o final trágico de uma expedição que deveria trazer glórias aos exploradores do Polo Sul.

Robert Falcon Scott em 1912 (Foto: DIREITOS RESERVADOS)

 

“Desde o dia 21, há ininterruptamente uma tempestade de oeste-sudoeste e sudoeste. No dia 20 ainda tínhamos combustível para preparar duas xícaras de chá para cada um e alimentos secos para dois dias. Todos os dias estávamos dispostos a marchar os 20 quilômetros até nossa base, mas diante da nossa tenda não se reconhece nada a não ser um turbilhão infernal de neve. Não acredito que possamos aguardar melhoras no tempo. Mas vamos aguentar até o fim. Estamos cada vez mais fracos e a morte não deve demorar. É uma lástima, mas não creio que ainda possa continuar escrevendo.”

 

Uma tragédia humana no continente gelado marcou o dia 29 de março de 1912. O autor desesperado dessas linhas, o britânico Robert Falcon Scott, morreu com dois companheiros de expedição numa pequena barraca, num deserto de gelo. Só uma frase ele ainda conseguiu rascunhar, com os dedos gelados, no diário que testemunhou seu destino:

 

“Pelo amor de Deus, cuidem de nossas famílias!”

 

Scott morreu quando retornava à base de sua expedição, dois meses depois de atingir o Polo Sul. Outra pequena tragédia já havia acontecido no dia 16 de janeiro. Ao chegar ao ponto mais meridional do planeta, a equipe – então ainda com cinco homens – tinha perdido a corrida para o norueguês Roald Amundsen (que atingira o Polo Sul em 14 de dezembro de 1911). A decepção ficou registrada no diário de Scott, no dia 18 de janeiro:

 

“De repente, vimos uma mancha negra! Não podia ser nada natural. Seguimos e vimos tratar-se de uma bandeira preta presa a um esqui. Próximo, um acampamento abandonado, com pegadas de pessoas e cães por todos os lados. Estava claro: os noruegueses chegaram na nossa frente. Amundsen chegou primeiro ao Polo! Depois de tudo que passamos, frio, fome, estamos enfrentando o choque por termos chegado muito tarde. Agora, temos medo de voltar!”

 

O fato de a equipe não conseguir retornar teve várias causas. A nevasca a poucos quilômetros da base foi apenas uma delas. A psicologia abalada por não terem sido os primeiros foi outro motivo. Mas, apesar do planejamento detalhado da expedição, Scott cometeu um erro logo no começo.

Enquanto Amundsen apostou em cães para puxar os trenós, Scott resolveu levar trenós motorizados e pôneis. Desacostumados ao clima, os cavalos logo tiveram que ser executados. Já os trenós não funcionaram no frio antártico.

Triste consolo para o grupo de Scott seria saber que, por causa da tragédia, entrou para a história. Hoje, pelas circunstâncias da morte, os britânicos têm mais carisma que o próprio pioneiro Amundsen.

(Fonte: http://www.dw.com/pt-br – Deutsche Welle – CALENDÁRIO HISTÓRICO / Jochen Kürten – 29 de março de 1912)

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