Rin Tin Tin, cão pastor-alemão, estrela dos primórdios de Hollywood, foi protagonista de 23 filmes.

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Rin Tin Tin foi um dos primeiros cães a tornar-se “estrela” na América.

Rin Tin Tin (Lorraine, França, 10 de setembro de 1918 – Los Angeles, Califórnia, 10 de agosto de 1932), cão pastor-alemão que foi astro animal do cinema e da TV no século XX.

Rin Tin Tin foi estrela dos primórdios de Hollywood, e que foi capaz de encarnar um ideal de civilização, e que foi protagonista de 23 filmes mudos de sucesso.

Abocanhava um salário oito vezes mais alto que o dos astros humanos do período. Graças a Rin Tin Tin, a Warner se transformou de estúdio de fundo de quintal em superpotência.

O seriado As Aventuras de Rin Tin Tin marcou as gerações que viveram sua infância até o fim dos anos 1970, inclusive no Brasil. A história de superação na orfandade foi tema recorrente nos seus filmes.

Lee Duncan (1893-1960), foi o dono e treinador do cão pastor-alemão Rin Tin Tin.

Abandonado num orfanato pela mãe dos 6 aos 9 anos, Duncam foi um solitário que se agarrou aos bichos. Duncan converteu-se de órfão pobre em milionário extravagante.

A força de Rin Tin Tin vinha do fato de ele não ser mero personagem. Era um cão real com uma história extraordinária – que Lee Duncan tratou de dourar com detalhes de comprovação difícil.

Também dava norte ao seriado dos anos 1950: sobreviventes de uma guerra com os índios, ele e o menino Rusty foram adotados por um regimento da Cavalaria americana. A história do cão-celebridade mostra as mudanças na vida humana, na relação de entretenimento do começo do século XX para cá.

Em 15 de setembro de 1918, quando o Cabo Lee Duncan, da Força Expedicionária dos EUA, sob o comando do Capitão George Bryant, combatia na Primeira Guerra Mundial, encontrou um canil do Exército alemão num lugarejo francês chamado Toul-aux-Lorraine, arrasado por um bombardeio. Entre os cães mortos, ele achou uma fêmea com cinco filhotes, todos vivos.

O regimento os adotou e, quando voltaram para Los Angeles, nos EUA, Duncan ficou com um casal de cãezinhos, que ganharam o nome dos bonecos carregados pelos soldados franceses como talismãs: Rin Tin Tin e Nanette. A cadela morreu cedo. O cão sobrevivente fez história, e Bryant ficou com os outros filhotes e a mãe, dos quais não se ouviu mais falar.

Rin Tin Tin não foi uma exceção animal na Hollywood dos anos 1920. Mais de cinquenta cachorros trabalharam nos filmes mudos americanos. Uma obsessão de Duncan contribuiu para Rin Tin Tin se tornar o único astro canino do período a ter encanto duradouro.

O Rin Tin Tin original espantava as audiências ao subir em árvores e saltar abismos. E era um ator de recursos, digamos, clássicos: as pessoas ficavam boquiabertas de ver como ele expressava emoções e se portava com mais naturalidade que os atores afetados do cinema mudo. Apesar de obediente ao dono, no set de filmagens, o astro era temperamental e rosnava para os artistas do elenco.

Duncan tentou repetir o feito com Rin Tin Tin Junior, mas o herdeiro biológico era desajeitado. A mesma falta de brilho acometeu Rin Tin Tin III – pastor-alemão de pelagem mais clara, que talvez nem tenha sido parente do original. Quando o projeto do seriado recolocou o personagem em voga, o Rin Tin Tin IV servia só de garoto-propaganda. Era tão burro que outro cão foi escalado para o papel.

Lassie, a rival meiga de Rin Tin Tin nos anos 1950, também tinha suas imposturas: era uma fêmea collie na ficção – mas, na prática, foi vivida por machos. Duncan não ligava mais para a autenticidade de seu astro. Ele sabia que Rin Tin Tin havia deixado de ser só um cachorro.

Para além da bravura e da lealdade, ele materializava uma ideia cara ao espírito americano: a de que o progresso e a justiça se fazem pela afirmação do indivíduo. Não raro, Rin Tin Tin ia contra seu bando em nome de objetivos nobres.

A invenção do cinema ocorreu no momento em que os americanos se mudavam do campo para as cidades e os animais viraram uma doce lembrança de outra época. A capacidade de se emocionar com os bichos passou a ser sinal de humanidade.

A transformação de Rin Tin Tin numa relíquia antiquada teve a ver com certa mudança de humor dos americanos. A amizade inocente do cão e do menino celebrada no seriado já não cabia na pauta contestadora que foi se impondo a partir do fim dos anos 1950.

A maldição se estendeu ao ator que fazia Rusty, Lee Aaker: ele nunca mais fez um papel relevante. Na década seguinte, um fato político comprometeria de vez a moral dos pastores-alemães: as imagens dos cães ferozes usados pela polícia para reprimir manifestações pelos direitos civis. No cinema e na TV, Rin Tin Tin foi atingido ainda por outra mudança irresistível: os efeitos especiais tornaram suas façanhas banais.

No processo de divórcio movido pela primeira mulher de Lee Duncan, um cachorro aparecia como corréu – papel costumeiramente reservado às amantes. A esposa queixosa alegava que não conseguia competir com o bicho pela atenção do marido. Nos anos 1920, seria impossível rivalizar com o pastor-alemão Rin Tin Tin.

Em 10 de agosto de 1932, as rádios dos Estados Unidos interromperam a programação para anunciar a morte do cachorro, aos 14 anos.

(Fonte: Veja, 4 de setembro de 2013 – ANO 46 – N° 36 – Edição 2337 – Artes & Espetáculos – LIVRO/ Por Marcelo Marthe – Pág: 100/101/102)

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