Richard Wagner, gênio musical, criou uma identidade coletiva e influenciou músicos de todos os períodos

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Ecos nazistas

Richard Wagner, compositor favorito de Hitler

Richard Wagner, Adolf Hitler e o teatro de Bayreuth: de mãos dadas, o boçal e o louco

Richard Wagner (Leipzig, 22 de maio de 1813 – Veneza, 13 de fevereiro de 1883), gênio musical, criou uma identidade coletiva e influenciou músicos de todos os períodos, compositor é um caso único na música erudita. Nenhum outro compositor – incluindo-se aí os gênios incontestáveis Bach,  Mozart e Beethoven – tem um festival dedicado unicamente a glorificá-lo. Os fãs de Wagner reúnem-se, todo ano, na cidade alemã de Bayreuth para cultuar sua música.

Na hora de rabiscar partituras, o compositor era um mestre. Seus textos, no entanto, seja tratando de política, seja teorizando sobre estética, são incoerentes e vazios, e em geral advogam em causa própria. A primeira simpatia política de Wagner foi a revolução operária de 1848. Ele aderiu por desagravo: suas óperas eram um fracasso, sentia-se perseguido e queria arranjar uma briga com os poderosos.

Os panfletos anti-semitas vieram mais tarde, inspirados em livros do filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804-1872). Provavelmente por vingança contra o crítico Edward Hanslick (1825-1904), seu feroz opositor, e contra os músicos Mendelssohn e Meyerbeer, seus rivais – os três eram judeus. Seus ensaios sobre estética atacam, com argumentos pedestres, qualquer tipo de música diferente da sua.

Excepcional como compositor, Wagner era, sem dúvida, um mau-caráter. Como filósofo, tratava-se de um boçal. Apropriar-se com fins propagandísticos das ideias de alguém que não sabia pensar diz mais sobre a loucura e a monstruisidade de Adolf Hitler do que sobre Richard Wagner.

Wagner escreveu textos atacando judeus e era o compositor preferido de Adolf Hitler. Por essa razão, existem restrições contra a sua  música em Israel. Em que medida Wagner, com sua influência sobre Hitler, é cúmplice indireto de um dos mais abjetos crimes da História, o holocausto. Sabe-se que o líder nazista viu uma ópera de Wagner pela primeira vez aos 17 anos, em Viena. Deve ter sido uma récita inesquecível, uma vez que o regente dessa montagem de Tristão e Isolda era provavelmente Gustav Mahler, um dos maiores músicos de todos os tempos – e que, ironicamente, era judeu.

Fanático por Wagner, Hitler aproximou-se de seus descendentes. Tornou-se amigo íntimo de Winifred Wagner, foi casada com Siegfried Wagner, filho do compositor Richard Wagner, e diretora, na época, do festival de Bayreuth. No famoso livro Minha Luta, Hitler incluiu vários trechos anti-semitas decalcados de escritos de Wagner. Já no poder, o “Führer” gostava de citar libretos do compositor em seus discursos. Apesar dessas evidências, é um exagero apontar Wagner como mentor intelectual do nazismo.

(Fonte: Veja, 2 de setembro de 1998 – ANO 31 – N° 35 – Edição 1562 – MÚSICA/ Por João Gabriel de Lima – Pág: 141)

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