Raoul Walsh, diretor americano, um dos mais respeitados diretores do gênero western.

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Raoul Walsh (Nova York em 11 de março de 1887 – Califórnia em 31 de dezembro de 1980), diretor americano, um dos mais respeitados diretores do gênero western.

Em 1924 foi contratado por Douglas Fairbanks para dirigir “O Ladrão de Bagdá” e a partir daí só parou de dirigir em 1964 quando fez “A Distant Trumpet”.

Walsh era um diretor desinteressado, não dirigindo convenientemente os atores, fazendo tudo às pressas, só se preocupando em terminar logo o trabalho do dia e ir embora dos sets de filmagem. Walsh, que pertenceu à geração de John Ford, realmente não era dado a filigranas como a busca exata da luminosidade ideal ou cansar atores repetindo cenas interminavelmente para extrair deles a a fala e expressão perfeitas. E com seu método quase negligente de filmar instintivamente, idêntico ao de John Ford, realizou filmes memoráveis como “Um Punhado de Bravos” (Objective Burma!), 1945 e “Fúria Sanguinária” (White Heat), 1949. E 1949 foi um grande ano para Walsh pois foi nesse mesmo ano que dirigiu “Golpe de Misericórdia” (Colorado Territory). Esse era um daqueles filmes sempre citados elogiosamente pelos críticos mas que pouca gente havia assistido por não haver circulado na TV brasileira. E a frustração de não conhecer esse filme era ainda maior por ser um western de Raoul Walsh, um dos mais respeitados diretores do gênero.

Filmado inteiramente em locações no Novo México, em Calabazas (Califórnia) e principalmente nos belos e gigantescos cenários naturais de Sedona (Arizona), “Golpe de Misericórdia” conta a história de Wess McQueen (Joel McCrea) homem simples que se afastou da lei e terminou na cadeia, de onde consegue escapar, fugindo para o Território do Colorado (antes de tornar-se Estado da União em 1876). Em seu caminho passa pelo Desfiladeiro da Morte, lugar envolto em lendas e misticismos. McQueen que fora preso por assalto e assassinato, junta-se então a uma quadrilha para praticar um último assalto a um trem que transporta 100 mil dólares. Depois disso pretendia dar novo rumo a sua vida, em direção à decência e à dignidade. Da quadrilha faz parte uma dançarina de saloon chamada Colorado Carson (Virginia Mayo), além de dois outros bandidos. O esconderijo do bando se situa numa missão espanhola abandonada e chamada de Todos os Santos, onde ocorreram desgraças como epidemia de varíola e terremotos. Antes de praticar o assalto, McQueen conhece Julie Ann (Dorothy Malone) e o pai desta, Fred Wislow (Henry Hull), que estão a caminho do Oeste, “onde estão as oportunidades de uma vida melhor”, conforme diz Wislow. Julie Ann passa a ser um motivo a mais para McQueen sonhar com uma vida decente e segura, ainda que fazendo uso do produto do roubo. McQueen e Colorado diferem dos demais bandidos pela lealdade demonstrada e pela nobreza de seus sentimentos recíprocos de amizade. Logo Colorado se apaixona por McQueen enquanto Julie Ann revela um incontido egoísmo e ambição. Após o assalto ao trem, somente McQueen e Colorado escapam, mas ele é ferido gravemente. Na fuga desesperada que empreendem, ele descobre que a ama e juntos enfrentam a patrulha que os encurrala num local montanhoso chamado de Cidade da Lua, onde afinal encontram a morte.

“Golpe de Misericórdia” é uma refilmagem do excelente filme de gangster “Seu Último Refúgio” (High Sierra), de 1941, dirigido pelo próprio Raoul Walsh e estrelado por Humphrey Bogart e Ida Lupino. Porém Walsh consegue com a refilmagem uma atmosfera ainda mais noir que no filme anterior. Em “Golpe de Misericórdia” a morte espreita a todo momento os desesperados personagens, especialmente o trágico par formado por McQueen e Colorado. Os cenáros exteriores são ameaçadores e opressores. As cenas internas são lúgubres e igualmente opressivas. À parte o clima incomum para um faroeste, há cenas de grande qualidade que demonstram o domínio de Walsh para sequências de ação. O assalto ao trem é eletrizante. O final com as mortes de McQueen e Colorado é rodado com incrível perfeição, visão de espaço e uso de zoom. O doloroso desfecho em que McQueen e Colorado encontram a morte na aridez do Desfiladeiro da Morte lembra ligeiramente “Duelo ao Sol” sem o excesso melodramático do filme de King Vidor. A música de David Buttolph pontuava fortemente o desenrolar da tragédia.

Virginia Mayo nunca foi atriz de grandes recursos dramáticos, recursos esses necessários para um melhor desempenho como a sensual mestiça Colorado e que sua voluptuosa e provocante figura não é suficiente para compensar. E Dorothy Malone (Julie Ann), aparece como o oposto da personagem de Virginia Mayo, tanto física quanto moralmente, distante do erotismo, da valentia e da vibrante paixão de Colorado. Mesmo interpretando um personagem fraco, Dorothy deixa entrever a excelente intérprete que se revelaria mais tarde. O elenco tem ainda Henry Hull em desempenho característico, bem como Ian Wolfe e Morris Ankrum, além da presença do bandidão Harry Woods que tantas vezes intimidou os mocinhos dos B-Westerns. John Archer e James Mitchell completam o bando. Mas o filme é um triunfo de Joel McCrea naquela que provavelmente seja a melhor atuação de sua carreira. McCrea Interpreta Wess McQueen de forma contida como sempre, mas expressando a amargura de sua condição e a alma torturada pelo destino do qual não consegue se livrar.

“Golpe de Misericórdia”, western venerado por Martin Scorsese, merece, sem dúvida, a reputação que carregou através dos anos. É a confirmação do talento de Raoul Walsh, diretor capaz de deixar ainda melhor uma refilmagem em gênero diferente, transportando para o western as características fatalísticas dos policiais noir.

(Fonte: Veja, 20 de junho, 1979 –- Edição 563 –- Cinema – Pág; 54/58)
(Fonte: www.cinewesternmania.com)

(Fonte: Veja, 22 de junho de 1994 -– ANO 27 -– N° 25 – Edição 1345 – DATAS – Pág; 124)
(Fonte: Veja, 4 de janeiro de 1978 -– Edição 487 – CINEMA – Pág; 68)

 

 

 

 

 

 

 

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