“Quanto maior o artista, maior a dúvida. A confiança total é concedida aos menos talentosos como prêmio de consolação.” Robert Hughes (1938-2012), foi um crítico de arte, escritor e produtor de documentários de televisão

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Ser objeto de uma das suas críticas era certamente uma experiência. Foi ele que escreveu:

“Quanto maior o artista, maior a dúvida. A confiança total é concedida aos menos talentosos como prêmio de consolação.”

Robert Hughes (1938-2012), foi um crítico de arte, escritor e produtor de documentários de televisão australiano, brilhante e combativo, genial sobretudo quando se irritava com um artista qualquer. Em 1997, o escritor Robert S. Boynton chamou-lhe o crítico de arte mais famoso do mundo” e, na cabeça de muitos, o rótulo colou.

Uma referência na forma de comunicar a arte e os artistas, que chegou ao grande público durante décadas através da revista Time, de que era o principal crítico de arte, e da televisão, sob a forma de um documentário de oito episódios em que Hughes traçava a história do modernismo, desde os impressionistas até Andy Warhol. The Shock of the New, que passou na BBC e na PBS, foi visto por mais de 25 milhões de pessoas e veio a ter uma versão em livro que se tornou um gigantesco sucesso de vendas.

Foi precisamente Warhol, um dos artistas mais influentes do século XX, que mereceu alguns dos maiores ataques de Robert Hughes, o que não é dizer pouco já que, com o seu estilo contundente, o crítico nascido na Austrália era conhecido por não fazer prisioneiros, escreve hoje o diário norte-americano The New York Times. Chamando-lhe “o Genet da pintura”, Hughes defendeu muitas vezes que Warhol teve apenas uma mão cheia de bons anos de criação e que a sombra que lançou sobre a arte contemporânea foi mais prejudicial do que benéfica. “A sua sociedade ideal cristalizou à volta dele”, escreveu em 1975 sobre o patrão da Factory. Em relação aos sucedâneos de Warhol, como Jeff Koons, era ainda mais cáustico. Damien Hirst foi outro dos seus alvos mais mediáticos.

Se não poupava diatribes quando um artista não lhe agradava, por mais que lhe reconhecesse o papel determinante, é bem verdade que também não poupava elogios quando outro entrava para o lote dos seus preferidos. Lucian Freud era um deles. Sobre a sua pintura, escreveu nas páginas do jornal britânico The Guardian, em 2004: “Cada centímetro da superfície [da tela]tem de ser conquistado”, o que não acontece com “Warhol ou Gilbert & George, ou quaisquer outros carniceiros e recicladores da imagem que infestam a floresta de estilos, já miserável e decadente, do pós-modernismo”.

Goya era outros dos eleitos, mas quando se dedicava a escrever livros, Robert Hughes podia interessar-se também pela arte americana em geral, pelas cidades de Barcelona ou de Roma, e até pela pesca. O seu maior best-seller talvez tenha sido a história que escreveu, no final da década de 80, sobre a Austrália, país que deixou em 1964 – The Fatal Shore. Entre as suas obras mais lidas está o livro de memórias Things I Didn’t Know (2006), escrito depois de um acidente de carro que o deixou em coma, em 1999, e o arrastou para uma longa batalha nos tribunais (foi acusado de condução perigosa).

A arte era o seu principal território, mas a política americana também o fascinava e o seu ensaio de 1993 Culture of Complaint: The Fraying of America valeu-lhe duras críticas de democratas e republicanos, lembra hoje outro crítico e analista, Michael McNay, no Guardian.

(Fonte: http://www.publico.pt/Cultura / Por PÚBLICO – 07.08.2012)

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