Primeiro brasileiro produtor de filme nacional que detém a Palma de Ouro

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Primeiro brasileiro produtor de filme nacional que detém a “Palma de Ouro”, o prêmio mais cobiçado do cinema internacional

OSWALDO MASSAINI, O HOMEM DOS CEM FILMES

Enquanto todos os produtores do cinema brasileiro mamavam nas tetas da Embrafilme, Oswaldo Massaini produzia seus filmes com capital próprio.

Produziu 62 filmes e distribuiu dezenas de filmes de outros produtores, superando o número de 100 produções sob o sinete da Cinedistri, empresa por ele fundada nos anos 50.

Neste período praticamente não se fazia cinema em São Paulo e o Rio de Janeiro reinava absoluto com as produções carnavalescas da Atlântida, de Luiz Severiano Ribeiro, as chamadas chanchadas, cujo trunfo era mostrar os grandes cantores do rádio para os fãs todo o Brasil, que não cabiam no auditório da Radio Nacional. Comandados por Watson Macedo, as chanchadas mostravam as estrepolias de Oscarito e Grande Otelo, ao lado da mocinha Eliana Macedo, o vilão José Lewgoy e os galãs Anselmo Duarte e Cyll Farney. Em verdade, eram escada para as apresentações de Francisco Alves, Camélia Alves, as Irmãs Batista, Nelson Gonçalves, Carlos Galhardo, Francisco Carlos, Emilinha Borba e sua grande rival Marlene, e muitos outros. Não havia televisão e o cinema era o único veículo onde podiam ser vistos “ao vivo”, cantando as músicas que esgotavam as bolachas de 78 rotações nas casas de disco. O carnaval era o grande veículo de marketing para estes cantores que disputavam a tapa o direito de cantar no cinema sua novidade para o tríduo de Momo daquele ano.

Na fase pré Hollywood, Carmem e Aurora Miranda participaram de algumas chanchadas que entraram para a história do cinema.

Nascido e tendo formado sua vida profissional em São Paulo, Oswaldo Massaini vislumbrou que a indústria do cinema estava no Rio de Janeiro. E foi para lá, produzir ao lado dos irmãos Alípio e Eurides Ramos dois filmes de Mazzaroppi, o mais paulista dos atores brasileiros: “O noivo da girafa” e “Chico Fumaça”.

Mas tanto Massaini, como Mazzaroppi, concluíram que seu feudo era aqui mesmo em São Paulo e passaram a produzir filmes na Paulicéia.

Massaini fundou a Cinedistri, que distribuiu os 62 filmes de produção própria, mais dezenas de filmes produzidos por terceiros, que mereciam o mesmo tratamento e respeito dos exibidores que os filmes da casa.

Começou com “Rua sem Sol” em 1950 e terminou com “O caçador de Esmeraldas”, em 1970, quando passou o bastão para seu filho Aníbal, que além de um documentário sobre o Rei Pelé produziu vários filmes de sucesso e hoje é ativo na defesa do cinema brasileiro em atividades dos empresários do setor.

Mazzaroppi após um pequeno estágio na Cia. Cinematográfica Vera Cruz, onde participou de três filmes, fundou a Pan Filmes, onde produziu os filmes mais rentáveis do cinema brasileiro da época. Morreu milionário, seus herdeiros delapidaram a fortuna, seus bens foram a leilão.

Oswaldo Massaini sempre deu oportunidades a novos valores. Entregou a Anselmo Duarte a direção de seu filme de estréia “Absolutamente certo” e confiou a ela a direção de “O pagador de promessas”, único filme brasileiro detentor da “Palma de Ouro” do Festival de Cannes, e o mais premiado filme do cinema nacional.

Em 1974 produziu “O marginal”, filme policial que fugia ao estilo de comédia chanchadesca, que era marca registrada da maioria dos filmes brasileiros.

Trouxe do Rio de Janeiro Carlos Manga que dirigiu o filme e gostou de São Paulo, tanto que se mudou para cá e até comprou casa no Guarujá.

Quando percebeu que a Praia de Pernambuco não era a Barra, Manga voltou para o Rio de Janeiro, onde faz trabalhos para a Globo e tem uma produtora de publicidade para filmes comerciais.

Mas, a vinda de Manga trouxe algo de muito bom. O repatriamento do paulista Silvio de Abreu, seu assistente, que aqui ficou, atendendo a um pedido da Aníbal Massaini para dirigir “Mulher objeto”, história com grandes citações de filmes de Hollywood, sucesso de bilheteria e a consagração de Helena Ramos como o tesão do Brasil.

Silvio aprendeu a gostar de cinema em sua juventude, assistindo aos musicais da Metro no velho cine Itapura, na Baixada do Glicério.

Escreveu algumas novelas em parceria com Rubens Ewald Filho e acabou contratado pela Globo, onde é um dos mais respeitados e competentes novelistas da casa.

Felizmente para nós, optou por não mudar para o Rio e com isto podemos encontrá-lo, sempre ao lado de sua Maria Célia, nas pré estréia de teatro ou no saguão de cinemas que passam os melhores filmes da cidade.

Oswaldo Massaini revelou Carlos Coimbra, que se distinguiu no ciclo cangaço do cinema brasileiro, filmando em locações na cidade de Itu, cujos morros e pedras agrestes se assemelhavam ao nordeste onde o bando de Lampião viveu suas façanhas narradas nos filmes. Era uma réplica aos western americanos e os spaguetti western italianos, muito apreciados pela público que lotava os cinemas onde eram exibidos.

Revelou também Fernando de Barros, que estreou na direção em duas comédias interpretadas por Dercy Gonçalves, “Uma certa Lucrecia” e “A Baronesa Transviada”.

Gostava de filmar com Tarcisio Meira, Gloria Menezes, Dionizio Azevedo, Jofre Soares, John Herbert, Leila Diniz, Dercy Gonçalves, Sergio Cardoso, Leonardo Vilar, Mario Benvenuti, e Taricano, ator bisexto, que entrava nos filmes como mascote, para dar sorte. Estavam presentes em boa parte de seus filmes.

Meticuloso em tudo que fazia, para a produção de “Independência ou morte”, trouxe de Nova York, um ator russo que fez vários filmes no Brasil e mudou-se para os Estados Unidos. Era Victor Merinov, especialista em maquilagem, que garantiu a todos os atores a caracterização de personagens do Brasil Império.

Nos anos 60 e 70, Oswaldo Massaini reunia a nata dos que hoje chamam de célebres e famosos em suas retumbantes festas de reveillon, no casarão da Rua São Salvador, onde morava.

Os convidados eram o “whos s who” do cinema, teatro e televisão do Brasil, o clima era de amizade cordial e todos se divertiam até o sol raiar.

Bebida tinha muito, mas o único pó branco era o açúcar do cafezinho.

Todos seus filmes tinham pré estréia de grandes produções: entrevista para a imprensa, sessões prévias para convidados especiais e um reconhecimento todo especial a seus colaboradores. Após a última sessão no cinema de estréia, um jantar com grandes mesas no Gigetto ou Roperto, para elenco e toda ficha técnica, para o qual, eram convidados, desde o diretor até o mais humilde carregador de holofotes..

E este aparato se repetia no Rio de Janeiro, onde ele instalava seu quartel general no Anexo do Copacabana Palace, o que lhe valeu muitos desafetos, que achavam um acinte aquela demonstração de poder econômico para um cinema pobre de recursos, como eram as produções cariocas no tempo do cinema novo.

Desiludido com o cinema e a própria política da produção cinematográfica,, não produziu mais filmes nos últimos anos de sua vida, mas deixou um legado de mais de cem produções, que seu filho Aníbal disponibilizou para as platéias mais jovens, através da televisão e de VHS, dando crédito a seu pai, mostrando para as novas gerações o trabalho de toda uma vida de um dos pioneiros de nosso cinema.

Oswaldo Massaini, Primeiro e Único brasileiro produtor de filme nacional que detém a “Palma de Ouro”, o prêmio mais cobiçado do cinema internacional, é um vitorioso, mas também um injustiçado, numa terra onde é crime ter sucesso.

(Fonte: http://www.ovadiasaadia.com.br/mauriciokus – OSWALDO MASSAINI, O HOMEM DOS CEM FILMES – 08/10/2009)

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(Fonte: Veja, 1° de junho de 1994 – ANO 27 – N° 22 – Edição n° 1342 – DATAS – Pág; 103)

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