Pioneiro da inteligência artificial (IA)

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Edward Fredkin, pioneiro da IA que pregava que o universo é um grande computador

Edward Fredkin trabalhando em um dos primeiros computadores, o PDP-1, em 1960. Apesar de nunca ter se formado na faculdade, ele se tornou professor no MIT e um pioneiro em inteligência artificial.Crédito...pela Carnegie Mellon University

Edward Fredkin trabalhando em um dos primeiros computadores, o PDP-1, em 1960. Apesar de nunca ter se formado na faculdade, ele se tornou professor no MIT e um pioneiro em inteligência artificial. (Crédito da fotografia: pela Carnegie Mellon University)

 

Edward Fredkin (nasceu em 2 de outubro de 1934, em Los Angeles – 13 de junho de 2023), pioneiro da inteligência artificial (IA) e teórico independente, que defendeu a ideia de que o universo inteiro poderia funcionar como um grande computador. Ele nunca se formou na faculdade, mas tornou-se um influente professor de ciência da computação no Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Alimentado por uma imaginação científica aparentemente ilimitada e uma indiferença despreocupada ao pensamento convencional, o professor Fredkin atravessou uma carreira em constante mutação que poderia parecer tão distorcida quanto as teorias iconoclastas que o tornaram uma força tanto na ciência da computação quanto na física.

Após servir como piloto de caça na Força Aérea no início dos anos 1950, Fredkin tornou-se um renomado, embora pouco convencional, pensador científico. Ele era um amigo próximo e parceiro intelectual do célebre físico Richard Feynman e do cientista da computação Marvin Minsky, um dos pioneiros em inteligência artificial.

Autodidata que deixou a faculdade no primeiro ano, ele se tornou professor titular de ciência da computação no M.I.T. aos 34 anos. Mais tarde, ele lecionou na Carnegie Mellon University em Pittsburgh e na Universidade de Boston.

Em 1962, Fredkin também fundou uma empresa que construiu leitores de filmes programáveis, permitindo que os computadores analisassem dados capturados por câmeras, como informações de radar da Força Aérea.

Essa empresa, Information International Incorporated, abriu capital em 1968, trazendo-lhe uma fortuna. Com sua nova riqueza, ele comprou uma ilha no Caribe, nas Ilhas Virgens Britânicas, para onde viajou em seu hidroavião Cessna 206. A ilha não tinha água potável, então Fredkin desenvolveu uma tecnologia de osmose reversa para dessalinizar a água do mar, que ele transformou em outro negócio.

Eventualmente, ele vendeu a propriedade, Mosquito Island, para o bilionário britânico Richard Branson por US$ 25 milhões.

A vida de Fredkin era cheia de paradoxos, por isso não foi uma surpresa que ele tenha sido creditado com o seu próprio. O paradoxo de Fredkin, como é conhecido, sugere que quando se está decidindo entre duas opções, quanto mais semelhantes elas são, mais tempo se gasta preocupado com a decisão, mesmo que a diferença em escolher uma ou outra seja insignificante. Por outro lado, quando a diferença é mais substancial ou significativa, é provável que se gaste menos tempo decidindo.

Como um dos primeiros pesquisadores em IA meio século atrás, o professor antecipou os debates atuais sobre máquinas hiperinteligentes.

“Isso requer uma combinação de engenharia e ciência, e já temos a engenharia”, disse Fredkin em uma entrevista ao The New York Times em 1977. “Para produzir uma máquina que pense melhor que o homem, não precisamos entender tudo sobre o homem. Ainda não entendemos as penas, mas podemos voar.”

Como ponto de partida, ele ajudou a pavimentar o caminho para máquinas darem xeque-mate nos Bobby Fischers do mundo. Desenvolvedor de um sistema de processamento inicial para xadrez, Fredkin, em 1980, criou o Prêmio Fredkin, uma recompensa de US$100 mil que ele ofereceu a quem pudesse desenvolver o primeiro programa de computador a vencer o campeonato mundial de xadrez.

Em 1997, uma equipe de programadores da IBM fez exatamente isso, levando para casa a recompensa de seis dígitos quando seu computador, Deep Blue, venceu Garry Kasparov, o campeão mundial de xadrez.

“Nunca houve dúvida em minha mente de que um computador acabaria por vencer um campeão mundial de xadrez”, disse Fredkin na época. “A questão sempre foi quando.”

Edward Fredkin nasceu em 2 de outubro de 1934, em Los Angeles, EUA, o mais novo de quatro filhos de imigrantes da Rússia. Seu pai, Manuel Fredkin, administrava uma rede de lojas de rádio que faliu durante a Grande Depressão. Sua mãe, Rose Fredkin, era pianista.

Cerebral e socialmente desajeitado quando jovem, Edward evitava esportes e bailes escolares, preferindo se perder em hobbies como construir foguetes, projetar fogos de artifício e desmontar e remontar relógios antigos. “Eu sempre me dei bem com máquinas”, disse ele à The Atlantic Monthly em 1988.

Após o ensino médio, ele se matriculou no California Institute of Technology em Pasadena, onde estudou com o químico vencedor do Prêmio Nobel Linus Pauling. Seduzido por seu desejo de voar, no entanto, ele deixou a escola no segundo ano para ingressar na Força Aérea.

Durante a Guerra da Coreia, ele foi treinado para pilotar jatos de combate. Mas suas habilidades prodigiosas com matemática e tecnologia lhe renderam trabalho em sistemas de computador militares em vez de combate. Para aprimorar sua educação em ciência da computação, a Força Aérea eventualmente o enviou para o MIT Lincoln Laboratory, um manancial de inovação tecnológica financiado pelo Pentágono.

Foi o início de uma longa permanência no MIT, onde, na década de 1960, ele ajudou a desenvolver versões iniciais de computadores de acesso múltiplo como parte de um programa financiado pelo Pentágono chamado Project MAC. O programa também explorou a cognição auxiliada por máquina, uma investigação inicial em inteligência artificial.

“Ele foi um dos primeiros programadores de computador do mundo”, disse o professor Sussman.

Edward Fredkin foi escolhido para dirigir o projeto em 1971 e tornou-se membro do corpo docente em tempo integral pouco depois.

Conforme sua carreira se desenvolvia, ele continuava a desafiar o pensamento científico mainstream. Ele fez grandes avanços na computação reversível, um campo esotérico que combina ciência da computação e termodinâmica.

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Foto:© Fornecido por Estadão

Com diversas inovações – o modelo de computador de bola de bilhar, que ele desenvolveu com Tommaso Toffoli, e o Fredkin Gate – ele demonstrou que o cálculo não é inerentemente irreversível. Esses avanços sugerem que o cálculo não precisa consumir energia, sobrescrevendo os resultados intermediários de um cálculo, e que é teoricamente possível construir um computador que não consuma energia ou produza calor.

Mas nenhuma de suas percepções provocou mais debate do que suas famosas teorias sobre física digital, um campo de nicho no qual se tornou um teórico líder.

Sua teoria do universo-como-um-gigante-computador, como descrito pelo autor e escritor de ciências Robert Wright na The Atlantic Monthly em 1988, é baseada na ideia de que “a informação é mais fundamental do que a matéria e a energia”. Fredkin, diz Wright, acreditava que “átomos, elétrons e quarks consistem, em última análise, de bits – unidades binárias de informação, como aquelas que são a moeda de cálculo em um computador pessoal ou calculadora.”

Como foi citado o professor naquele artigo, o DNA, o bloco fundamental de construção da hereditariedade, é “um bom exemplo de informação codificada digitalmente”.

“A informação que implica o que uma criatura ou planta vai ser está codificada”, disse ele. “Tem sua representação no DNA, certo? OK, agora, há um processo que pega essa informação e a transforma na criatura.”

Mesmo uma criatura tão comum quanto um rato, ele concluiu, “é um grande e complicado processo de informação.”

Fredkin e sua primeira esposa, Dorothy Fredkin, se divorciaram em 1980. Além de seu filho Richard, ele deixa sua esposa, Joycelin; um filho, Michael, e duas filhas, Sally e Susan, de seu primeiro casamento; um irmão, Norman; uma irmã, Joan Entz; seis netos; e um bisneto.

Até o final de sua vida, a teoria do universo do professor permaneceu marginal, se intrigante. “A maioria dos físicos não acredita que seja verdade”, disse Sussman. “Não tenho certeza se Fredkin acreditava que era verdade também. Mas certamente há muito a aprender pensando dessa maneira.”

Suas visões iniciais sobre inteligência artificial, em contraste, parecem mais premonitórias a cada dia.

“No futuro distante, não saberemos o que os computadores estão fazendo ou por quê”, disse ele ao The New York Times em 1977. “Se dois deles conversarem, eles dirão em um segundo mais do que todas as palavras faladas durante todas as vidas de todas as pessoas que já viveram neste planeta.”

Mesmo assim, ao contrário de muitos arautos do apocalipse atuais, ele não sentiu um senso de pavor existencial. “Uma vez que existam máquinas claramente inteligentes”, disse ele, “elas não estarão interessadas em roubar nossos brinquedos ou nos dominar, assim como não estariam interessadas em dominar chimpanzés ou tirar nozes de esquilos.”

Fredkin faleceu em 13 de junho aos 88 anos.

“Ed Fredkin tinha mais ideias por dia do que a maioria das pessoas em um mês”, diz Gerald Sussman, professor de engenharia eletrônica e colega de longa data no M.I.T., em uma entrevista por telefone. “A maioria delas era ruim, e ele concordaria comigo sobre isso. Mas entre elas, havia boas ideias. Então, ele teve mais boas ideias em uma vida do que a maioria das pessoas terá.”

(Créditos autorais: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – THE NEW YORK TIMES/ Estadão Conteúdo/ NOTÍCIAS/ BRASIL/ História por Alex Williams – 04/07/23)

/TRADUZIDO POR ALICE LABATE

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