Paulo Mendes Campos, o escritor mineiro que se definia como um simples artesão de praça pública

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Adeus ao verso-mamulengo

Campos: mistura de gêneros e boemia

Paulo Campos

Paulo Mendes Campos (Foto: Jornal O Globo/ Reprodução)

Paulo Mendes Campos (Belo Horizonte, 28 de fevereiro de 1922 – Rio de Janeiro, 1° de julho de 1991), escritor mineiro que se definia como um simples artesão de praça pública.

Ao comentar seu papel na literatura, o escritor mineiro Paulo Mendes Campos, costumava dizer: “Na praça pública das letras, não ciceroneio visitantes aos palácios e catedrais – vejo-me apenas como um artesão de mamulengos.” Dos mamulengos deixados por ele em menos de duas dezenas de livros, no entanto, brota uma obra singular e, em alguns momentos, estupenda. Campos também inundou suas crônicas com aquilo que o crítico carioca Antônio Candido chamou de “larga onda lírica”. Por outro lado, seus ensaios jamais trouxeram aquelas torrentes de citações e notas de pé de página tão comuns ao gênero – frequentemente eram chamados até de crônicas. Esse coquetel literário poderia dar a impressão de que Campos não passava de um autor confuso. Na verdade, porém, ele foi uma das melhores vocações do pós-modernismo brasileiro.

Dono de uma sólida cultura literária – que o levou a traduzir alguns dos maiores nomes da poesia universal, como o anglo-americano T.S. Eliot – e de uma autocrítica incomum entre escritores do Brasil, Campos era, na definição de Carlos Drummond de Andrade, “um poeta para poetas”. Verdade, quando se leva em conta que um mestre do verso costuma ser exigente ao ler a poesia de outro. Mas chamar Campos de “um poeta para poetas” tira dele talvez uma de suas maiores qualidades literárias: a facilidade de comunicação com o leitor não iniciado em teorias da literatura. Versos como A adolescência é um tribunal inesperado, incluídos em O Domingo Azul do Mar (1958), trazem um dos temas mais recorrentes da obra de Campos, o tempo e suas armadilhas, e resumem o tom de sua poética – simples na forma e ambiciosa no conteúdo.

Filho de uma poetisa com um dublê de médico e escritor, Campos começou a escrever aos 12 anos de idade. Não demorou a conhecer os escritores Otto Lara Resende, Fernando Sabino e Hélio Pellegrino, com quem formou um badalado grupo de “intelectuais mineiros”, identificados pelo culto às raízes de Minas – ainda que Campos fosse o menos entusiasta da “mineiridade” como um estado especial de espírito. Com eles, solidificaria uma amizade inquebrantável, dessas que lavam um amigo a acompanhar o outro até em casa e este a voltar com ele até sua residência, num vaivém boêmio que só termina às primeiras horas do dia seguinte. Depois de desistir da carreira militar, começar e não concluir os cursos de Direito e Veterinária, Campos decidiu-se pela literatura. Instalou-se no Rio de Janeiro em 1945 e passou a escrever crônicas em jornais e revistas. Também esteve no serviço público. Casou-se em 1951 com a inglesa Joan Abercrombie, mãe de seus dois filhos, Gabriela e Daniel. “Minha vida no Brasil se resumia a Paulinho”, disse ela.

Campos faleceu dia 1° de julho de 1991, aos 69 anos, no bairro carioca do Leblon.

(Fonte: Veja, 10 de julho de 1991 –- ANO 24 – N° 28 – Edição 1 190 – DATAS – Pág; 80)

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