Paulinho Paiakã, liderança caiapó, era conhecido internacionalmente como defensor da exploração sustentável da Amazônia. Ele ganhou destaque no Encontro de Povos Indígenas do Xingu

0
Powered by Rock Convert

Indígena ajudou a demarcar terras de seu povo, liderou ato contra garimpeiros, mas teve seu nome envolvido em estupro

 

Paulinho Payakan

Paulinho Paiakan líder indígena conhecido internacionalmente como defensor da exploração sustentável da Amazônia. (Foto: Bruno Santos/Folhapress)

 

 

Benkaroty Kayapó (1952-2020), mais conhecido como Paulinho Payakan, líder indígena e liderança caiapó.

 

Ele foi uma das vozes mais importantes do movimento indígena no período da redemocratização, mas caiu no ostracismo após envolvimento em um rumoroso caso de estupro.

 

Ao lado de nomes como Mario Juruna, Tuíra Kayapó, Ailton Krenak, Álvaro Tukano e Raoni Metuktire, Paiakan atuou como árduo defensor da demarcação das terras indígenas e da expulsão de garimpeiros e madeireiros. Essas lideranças tiveram papel decisivo no processo da Constituição de 1988, que consagrou aos povos indígenas o direito ao território.

 

Payakan era conhecido internacionalmente como defensor da exploração sustentável da Amazônia. Ele ganhou destaque no Encontro de Povos Indígenas do Xingu, em 1989.

 

Levado por missionários a Altamira quando era adolescente, Paiakan se tornou um dos primeiros caiapós a aprender português e a conhecer o mundo dos brancos. Em 1972, o jovem foi contratado pela Funai (Fundação Nacional do Índio) para ajudar na aproximação com indígenas que estavam no caminho da construção da Transamazônica.

 

Por que estão fazendo uma estrada aqui? Por que tenho de facilitar o contato com outros índios? Perguntava sem parar, mas ninguém sabia me explicar nada, disse Paiakan, em entrevista para o livro “Caminhos de Liberdade”, do escritor espanhol Javier Moro, que narra seu período de formação.

Depois dessa experiência, Paiakan voltou à sua aldeia, Aukre, onde escreveu o primeiro livro publicado por um caiapó, sobre o que viu na Transamazônica. Era o começo de seu papel de intermediário entre o mundo branco e indígena.

 

Como liderança, uma de suas ações mais importantes foi a expulsão de 5.000 garimpeiros concentrados no garimpo Maria Bonita, em 1985. Mesmo contando com apenas cem guerreiros, Paiakan marchou com seu grupo até o local pintado para a guerra.

 

Para criar a ilusão de que havia mais guerreiros, Paiakan orientou que o grupo se postasse parado sobre um morro antes de negociar com os garimpeiros e um pequeno contingente da Polícia Federal. Somos milhares. Se não fizermos algo, haverá uma matança”, blefou o líder, conforme o relato de Moro.

 

A estratégia deu certo e, ao longo dos próximos dias, todos os garimpeiros deixaram Maria Bonita. Até então, foi um dos raros episódios em que os indígenas conseguiram expulsar tantos invasores de suas terras.

 

Outro marco importante da trajetória de Paiakan foi a lutra contra a construção de usinas hidrelétricas no rio Xingu. Em 1988, ele e Kube-i, outra liderança caiapó, estiveram em Washington, onde se reuniram com representantes do Banco Mundial para o projeto, só retomado no governo Dilma Rousseff (PT), com a construção da usina Belo Monte.

 

Furioso com a repercussão da visita, o governo José Sarney reagiu. Na volta ao Brasil, Posey e os caiapós foram detidos e interrogados pela Polícia Federal, sob a acusação de terem causado danos à imagem do país no exterior.

 

Meses depois, os três foram indiciados pelo Estatuto do Estrangeiro, legislação criada pela ditadura militar.  Nunca antes, em quase 500 anos de história de relações entre brancos e índios no Brasil, os ameríndios haviam sido processados como estrangeiros em sua própria terra”, escreveu Posey à época.

 

A repercussão negativa contra o governo foi imediata. Mesmo assim, o processo prosseguiu. Em 1989, todos foram absolvidos pelo Supremo Tribunal Federal.

 

As maiores conquistas da luta de Paiakan, Raoni e de outras lideranças caiapós foram a homologação, em 1991, da Terra Indígena Kayapó, com 3,3 milhões de hectares, e da Terra Indígena Baú, em 2008, com 1,5 milhão de hectares. Os caiapós somam hoje cerca de 12 mil pessoas.

 

A trajetória de liderança acabou abreviada em 1992, quando foi acusado de estupro pela estudante Sílvia Letícia da Luz Ferreira, à época com 18 anos, em Redenção. O depoimento foi revelado pela revista Veja, que estampou na capa a foto de Paiakan com o título: O Selvagem”.

 

A notícia saiu durante a realização da ECO-92, Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, no Rio de Janeiro, e acabou tendo grande repercussão internacional.

O processo judicial gerou uma acirrada batalha judicial em torno da imputabilidade do indígena. Ele acabou condenado a seis anos de prisão em regime fechado, mas ficou apensa dois anos e quatro meses em prisão domiciliar em sua aldeia, para onde se mudou de volta após o crime.

 

Condenado

Em 1992, Paulinho Payakan foi acusado de ter estuprado a estudante Sílvia Letícia da Luz Ferreira. Ele ficou preso preventivamente até 1994, quando foi solto por falta de provas. O Ministério Público Federal entrou com recurso e o indígena, em 1998, acabou sendo condenado a seis anos de reclusão em regime fechado pelo crime. Com a condenação, Payakan deixou sua residência no município de Redenção e passou a morar na aldeia Kayapó Ulkré, em Ourilândia do Norte.

Paulinho Payakan faleceu em 16 de junho de 2020, com cerca de 68 anos – ele não tinha registro de nascimento.

O indígena estava internado no Hospital Regional Público do Araguaia, no sudeste do Pará, desde o dia 9 de junho, onde recebia tratamento da Covid-19.

A Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sespa) lamentou a morte do líder indígena e informou que Paulinho Payakan apresentava o quadro de insuficiência respiratória e resultado positivo para o novo coronavírus.

(Fonte: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2020/06/17 – PARÁ / NOTÍCIA / Por G1 PA — Belém – 17/06/2020)
(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/06 – FOLHA DE S.PAULO / COTIDIANO / Por Fabiano Maisonnave / MANAUS – 17.jun.2020)
Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados.
Powered by Rock Convert
Share.