Papillon, escritor francês Henri Charrière (borboleta, em francês)

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DA CELA AO BEST-SELLER

Papillon (Saint-Étienne-de-Lugdarès, Ardèche 16 de novembro de 1906 – Madri, 29 de julho de 1973), escritor francês Henri Charrière (“borboleta”, em francês). O escritor francês François Mauriac e o argentino Jorge Luis Borges chegaram a entusiamar-se com a prosa picaresca de Papillon. Seu livro “Papillon” – relato de treze anos de prisão na Guiana Francesa, oito tentativas de fuga, temporada numa colônia de leprosos, 46 meses numa jaula de tigre, algum tempo entre os índios guajiros (que lhe forneceram duas belas esposas), além de uma jornada pelo ar cheio de tubarões numa jangada feita de cocos secos -havia vendido razoáveis 300 000 exemplares em alguns meses, ao fim do primeiro semestre de 1969.

Mas então o autor apareceu em público, afirmando que toda a história era verdadeira e que se tratava de sua própria vida. Foi a consagração: 1 milhão de exemplares vendidos na França, 4 milhões nos Estados Unidos, no total quase 10 milhões no mundo inteiro. Sua fortuna superou 9 milhões de cruzeiros; Papillon tornou-se amigo de Françoise Sagan e Brigitte Bardot e tomava chá com Simone de Beauvoir. Em 1970, o governo francês lhe concedeu o perdão judicial – pois parte de sua história é efetivamente verdadeira.

Filho de professores primários do Departamento de Ardèche, no interior da França, Henri Charrière perdeu a mãe aos onze anos. Aos dezessete, estudante secundário em Crest, bateu-se em duelo, a golpes de compasso, quase matamdo com a ponta seca um colega de classe. Para não se internado num instituto correcional, Charrière engajou-se na Marinha. Servindo na Córsega, envolveu-se com o baixo mundo local, até que, numa obra de terraplenagem no quartel, teve o polegar esquerdo esmagado e a Marinha o dispensou. De volta à casa do pai, inscreveu-se num curso de artes e ofícios e tentou um posto nos Correios, que o rejeitaram por causa de sua má ficha no serviço militar.

Assim, aos vinte anos, Charrière partiu para Paris, logo transformando-se em proxeneta e arrombador de cofres. Três anos depois, em 1931, foi condenado à prisão perpétua com trabalhos forçados, pelo assassínio do malfeitor René Legrand, que, segundo a promotoria, acusara Charrière de não passar de um alcaguete da polícia. Charrière sempre negou ter cometido o crime: de qualquer forma, foi enviado à Guiana.

O resto de de sua vida está no seu livro – mas, segundo o próprio Papillon acabou confessando, “75% é verdade e 25% é imaginação”, embora muitos pesquisadores tenham chegado à conclusão de que a proporção de imaginação é bem maior. Após suas aventuras, estabelecido com um restaurante em Caracas e naturalizado venezuelano, Charrière enviou treze cadernos manuscritos a editores franceses – que trataram logo de publicá-los.

Depois da glória, atuou em um filme, “Popsy Pop”, com roteiro seu, em que contracenava com Claudia Cardinale. Foi um fracasso cinematográfico. Em 1972, lançou outro livro, “Banco”, em que defendia o trinômio Trabalho, Família e Pátria, elogiava os pobres da Venezuela por se contentarem com “a fatalidade das condições de vida infra-humanas”, aplaudia Israel e afirmava que os árabes são subdesenvolvidos por causa de sua preguiça inata, declarava que a sociedade estabelece oportunidades iguais para todois e que, se Deus criou o melão com estrias, foi evidentemente para que a fruta pudesse ser dividida em paz entre os membros da família. Foi um fracasso de imaginação e vendagem.

Concluído o filme “Papillon”, rodado com Steve McQueen na Espanha e na Jamaica. E, se depois Mauriac se tornou mais comedido no julgamento sobre o valor literário de Papillon, seu êxito introduziu pelo menos um novo hábito na vida editorial francesa: a busca anual do “livro de verão”, para ser lido na praia. Mas não surgiu outro “Papillon”: apenas “O Pequeno Princípe”, de Saint-Exupéry, vendeu tanto na França até hoje.

Papillon morreu no dia 29 de julho de 1973, aos 66 anos, numa clínica de Madri, de parada cardíaca, após a segunda operação de câncer na garganta em três dias.

(Fonte: Veja, 8 de agosto de 1973 -– Edição 257 -– DATAS – Pág; 16)
(Fonte: Veja, 17 de setembro de 1969 – Edição 54 – LITERATURA – Pág; 60)

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