Otto Rank, psicanalista, professor e psicólogo austríaco.

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Otto Rank (Viena, 22 de abril de 1884 – Nova York, 31 de outubro de 1939), psicanalista, professor e psicólogo austríaco.

Rank era um estudante de 21 anos quando encontrou Sigmund Freud. Rank seguiu adiante para fazer um doutorado em psicologia e por fim tornar-se par de Freud. Ele via cada pessoa como um artista cuja tarefa final é a criação de uma personalidade individual. Para Rank, o neurótico é um artiste manque, uma pessoa cujo forte impulso criativo é frustrado pelo uso negativo da vontade.

DIALÉTICA RANKIANA. A base para o seu rompimento com Freud foi a visão de Rank de que o trauma do nascimento é mais importante do que o conflito edípico. Segundo Rank, as experiências físicas e psicológicas do nascimento dão lugar a uma ansiedade primal que é lidada através de repressão primal. O conflito intrapsíquico crucial que ocorre em todas as fases desenvolvimentais é o conflito entre manter a bem-aventurança primal do apego e experimentar a excitação e o medo associados à separação.

A união posiciona-se em contraste à separação; semelhança posiciona-se em contraste com diferença. União-separação e semelhança-diferença são polaridades mantidas em tensão. Na fase adulta, o movimento em direção a uma outra pessoa é possível apenas se a pessoa sabe quem é, o que pode ocorrer apenas através de ter experimentado separação. O movimento em direção à autonomia é possível apenas após a pessoa ter estabelecido o senso de pertencer e autovalor que deriva da experiência de pertencer.

Mover em direção à união ou separação não é um processo biológico inato. Ele é, ao contrário, um ato de vontade. Ao mover-se em direção e engajar-se com um outro, todas as pessoas experimentam sua necessidade de pertencer. Afastar-se de outros permite a pessoa experimentar sua singularidade. A maturidade é, em certo sentido, o triunfo da vontade sobre as forças – culpa, medo da morte e medo da vida – que inibem o movimento tanto em direção como para longe dos outros.

Rank via a culpa como o preço a ser pago por qualquer ato de vontade. Mover-se em direção à união causa culpa sobre estar necessitado; afastar-se causa culpa de abandonar a outra pessoa. Medo de morte é o medo de perder a indentidade fundindo-se com uma outra pessoa. Quanto mais fraca é a identidade pessoal de alguém, mais forte é o medo de morte. Medo de vida, por contraste é o medo de perder todas as ligações no processo de tornar-se separado. Cada pessoa experimenta o ciclo do movimento de união para a separação novamente como parte do processo da vida. O movimento ocorre em diversos níveis: familiar, social, artístico e espiritual. A cada nível, há um ou mais movimentos em direção à união e renascimento. Cada pessoa, por exemplo, em geral cede a uma experiência de amor na qual diferenças pessoais são colocadas de lado para experimentar unidade um com ou outro, para experimentar autovalor e ser aliviado do sentimento de diferença. A submissão para um outro termina quando a vontade afirma sua separação e uma nova afirmação de individualidade ocorre.

Vontade, o motor primário na dialética rankiana, é uma força criativa irredutível. Ela não é somente uma agência para a expressão de impulsos sexuais ou agressivos freudianos; nem ela é uma vontade de poder no sentido adieriano. O começo da vontade está no “não” da criança, uma asserção do que ela não fará. Na maturação, a vontade torna-se uma força positiva. Pessoas neuróticas, no entanto, negam sua vontade devido às culpa em relação ao que elas desejam. Elas lidam com esta culpa usando mecanismos de defesa como projeção e racionalização. Visto desta perspectiva, as pessoas neuróticas têm vontade forte e não podem reconhecer o que elas desejam e sequer que elas desejam. Em decorrência, elas não podem usar sua vontade construtivamente a serviço de suas maiores criações artísticas potências, suas próprias personalidades.

TRATAMENTO. A psicoterapia rankiana é uma interação aqui e agora com o terapeuta que mobiliza a vontade do paciente e resulta em uma experiência de renascimento. O tratamento, que tem tempo limitado, é focalizado no relacionamento com o terapueta. No relacionamento terapeuta-paciente, são reencenadas lutas de vida anteriores, especialmente lutas envolvendo intimidade. Após os pacientes serem fortalecidos através da aceitação do terapeuta, eles iniciam um processo de asserção de vontade negativa que é visto como resistência na análise clássica. Rank considerou a asserção de vontade negativa como indicativa de crescimento e a apoiava. Uma vez capaz de prover auto-afirmação por conta própria, os pacientes liberam-se do terapeuta e começam a individuar-se. Eles superam o medo da vida vivendo à altura do seu potencial total.

A terapia não visa reconstruir história pessoal. Ela é uma luta no aqui e agora entre o terapeuta como um representante de objetos de transferência e da realidade. A meta da terapia é liberar a vontade do paciente.

O processo terapêutico forma um paralelo com o processo do crescimento da personalidade. A princípio, o relacionamento terapêutico recapitula relacionamentos prototípicos iniciais. A primeira experiência de renascimento para pacientes é reivindicar suas próprias personalidades individuais e sua singularidade como seres humanos. A segunda fase é a sua descoberta do universo físico e sua semelhança com ele. Posteriormente, eles reivindicam sua distinção como criadores de si mesmos. Com a emergência do self, os pacientes unem-se com a realidade ideológica, filosófica e espiritual e experimentam o nascimento final da pessoa ideal, uma pessoa autopreenchida que não mais precisa criar para justificar sua existência.

(Fonte: Veja, 3 de dezembro de 1980 – Edição nº 639 – LIVROS/ Por Caio Fernando Abreu – Pág; 113)
(Fonte: http://www.psiquiatriageral.com.br/psicoterapia/otto)

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