O primeiro trabalho brasileiro em caricatura e charge

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A Companhia e o Cujo, primeiro trabalho brasileiro em caricatura e charge, por Manoel de Araújo Porto-Alegre, em 1837.

BURLESCO E SATÍRICO

O pioneirismo de Araújo Porto-Alegre

O gaúcho Manoel de Araújo Porto-Alegre (Rio Pardo, 29 de novembro de 1806 – Lisboa, 29 de dezembro de 1879) é sistematicamente apontado como o primeiro caricaturista brasileiro. Autor nascido em Rio Pardo, em 1806, foi alvo de ataques de outros caricaturistas, foi o marco inaugural do gênero no Brasil.

Autor, pintor retratista e artista plástico brasileiro nascido em Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, que como artista, deixou inúmeros trabalhos em pintura, arquitetura e escultura, principalmente retratos dos Imperadores Pedro I e Pedro II, e de figuras ligadas ao Governo Imperial.

Araújo Porto-Alegre tinha uma produção sistemática e seus trabalhos mostram um domínio maduro tanto na charge quanto do retrato caricatural.

Porto-Alegre, que ostentava o título de Barão de Santo Ângelo, mudou-se para o Rio de Janeiro na juventude e lá estudou com o francês Jean-Baptiste Debret – mais tarde, em 1831, acompanharia o professor no regresso à Europa, graças ao patrocímio dos irmãos Andradas. Influenciado inicialmente pelo romantismo europeu, Porto-Alegre retornou ao Brasil depois de seis anos de viagens por França, Itália, Inglaterra e Países Baixos. No Brasil, tomou para si a tarefa de fazer florescer no Brasil as artes que viviam um período de ebulição lá fora. Foi assim que se dedicou, além da pintura e do jornalismo, à caricatura. Produziu uma série de litografias que eram vendidas de modo avulso pelas ruas do Rio de Janeiro, satirizando adversários políticos, como o jornalista Justiniano José da Rocha, a quem Porto-Alegre considerava umm vendido por aceitar a direção do jornal oficial da corte. Também foi o idealizador, junto com seu amigo e discípulo, o catarinense Rafael Mendes de Carvalho, da Lanterna Mágica, periódico satírico e seminal que circulou de 1844 e 1845.

– Ele tinha um espírito filiado ao romantismo brasileiro, o de querer promover a autonomia de uma arte nacional. Mas ele se diferenciava desse espírito por não ser ufanista, por ter um olhar ácido e muito crítico sobre as mazelas do país, algumas delas ainda hoje em pauta, como a corrupção política.

Ironicamente, depois de consolidada a caricatura na imprensa brasileira, muito por causa de seus esforços, o gaúcho tornou-se ele próprio o primeiro humorista vítima da nova arte. Datado provavelmente do período em que um consagrado Araújo Porto-Alegre dirigia a Academia Imperial de Belas-Artes, entre 1854 e 1857, um álbum anônimo com 15 estampas caricatas retratavam o gaúcho como o ridículo “Pintamos”, piada para “pinta macacos”. De autoria anônima, o álbum provavelmente é de autoria de Joaquim Lopes de Barros Cabral Teive (1816-1863), ex-discípulo e então desafeto de Porto-Alegre. Outros apontam que a autoria seria de René Moreau (1807-1860), francês radicado no Brasil e outro artista brigado com o gaúcho.

Aluísio Azevedo (1857-1913), fez trabalho artístico lembrado em suas obras literárias de O Cortiço e Casa de Pensão, que teve caricaturas e charges editadas em jornais como O Fígaro, em 1876, e O Mequetrefe, em 1877.

Raul Pompeia (1863-1895), autor de outro clássico brasileiro do século 19, O Ateneu, também atuou como chargista e caricaturista, com trabalhos publicados sob o pseudônimo de Rapp a partir de 1881. Seus desenhos, clássicos e detalhistas, foram mais de uma vez colocados a serviço de causas políticas, como o abolicionismo, a República e o nacionalismo exaltado.
Esta é outra característica da caricatura presente já desde as origens: sua natureza de arte política, voltada para a crítica, por vezes demolidora, dos personagens retratados. Portanto não é estranho que muitas figuras de autoridade dominem os trabalhos reproduzidos na bem cuidada edição. De políticos das assembleias provinciais, à figura do imperador Dom Pedro II, passando por seus ministros e por seus adversários, sobrava escracho para todo o mundo. Dom Pedro II, em particular, passa a ser alvo de ataques em tom cada vez mais ácido depois da Guerra do Paraguai (1864-1970), da qual voltaram como heróis da pátria homens negros cujas famílias ainda viviam na escravidão – escancarando as contradições e perversões do regime escravista. Mas, por uma contradição bastante típica da política nacional, os chargistas se viram em mais apuros durante a nascente, porém autoritária, república do que no período em que o Brasil era governado por um monarca satirizado pela pena de homens como Bordalo e Agostini.
Dom Pedro II era um soberano tolerante com a liberdade de imprensa como veículo para circulação de ideia. Ele tinha uma noção bastante moderna de que uma imprensa livre servia para informar até mesmo a ele próprio sobre os movimentos sociais que estavam ocorrendo no país. Ele gostava das caricaturas que o Agostini fazia dele, ele escreveu isso expressamente, porque sabia também que a caricatura, mesmo crítica, servia para espalhar a imagem dele, em uma época em que a fotografia não havia se incorporado à imprensa. Na República, ao contrário, a tensão entre o governo e os humoristas se tornou mais acentuada.

Lançou no Rio de Janeiro (1855), juntamente com um grupo de literatos, sob a direção de Joaquim Manuel de Macedo e Gonçalves Dias, a Guanabara, revista mensal, artística, científica e literária. Foi nomeado Cônsul do Brasil em Berlim (1859) e, mais tarde, Cônsul em Lisboa (1867), cidade onde veio a falecer, com o título de Barão de Santo Ângelo, concedido pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1874).

(Fonte: Zero Hora – ANO 49 – N° 17.276 – CULTURA/ Por Francisco Dalcol – 26 de janeiro de 2013 – Pág; 4/5)

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