O primeiro grande herói mundial

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O primeiro grande herói mundial

Charles Lindbergh, antes de se tornar uma celebridade mundial, já era conhecido nas zonas rurais como o Maluco Voador. Ganhava a vida com espetáculos aéreos, nos quais fazia acrobacias e promovia passeios com as pessoas do lugar. Era uma época em que os aviões ainda causavam um misto de admiração e temor no público comum. Mas foi o correio aéreo que deu a Lindbergh a dose exata de desafio que buscava.

Em 1919, um empresário francês havia proposto um prêmio de 25 000 dólares ao primeiro homem que voasse de Nova York a Paris sem escalas. Para os aviões da época, a tarefa era praticamente impossível. Mas, à medida que a tecnologia avançava, muitos aviadores tentaram conquistar o tal prêmio. Todos fracassaram. Com sua experiência, Lindbergh sentiu que poderia fazê-lo se tivesse o equipamento certo. Nos meses seguintes, gastou seus esforços em busca de patrocínio para construir o avião ideal.

Seis meses depois, tinha conseguido o apoio financeiro para a construção do Spirit of St. Louis, como seria chamado sua aeronave. A máquina havia sido planejada para ser uma extensão do corpo de Lindbergh. Tudo foi minuciosamente calculado para pesar o mínimo possível e garantir gasolina suficiente para chegar a Paris. Outros aviadores estavam prestes a decolar e, pelo que parecia, tinham grandes chances de realizar o feito. Então, na manhã do dia 20 de maio de 1927, Lindbergh partiu de Nova York com destino a Paris, com 1707 litros de combustível a bordo e um único motor.

O maior inimigo de Lindbergh em toda a viagem era o cansaço. Pela primeira vez, estava enfrentando milhares de quilômetros de água, sem nenhum ponto de referência. Mas só quando a noite caiu e tudo ficou escuro ele percebeu quão sozinho estava. Ninguém antes havia empreendido uma prova tão extrema de coragem. Além do sono, era preciso vencer o frio, as temperaturas magnéticas e as alucinações. Quando aterrisou em Paris, às 22h24 do dia 21 de maio, exausto, tinha voado 5 800 quilômetros por 33 horas e meia sem escalas desde Nova York: era a primeira vez na história que alguém realizava esse feito. Na época, Lindbergh não passava de um garoto de 25 anos vindo do interior dos Estados Unidos, de Minnesota. Mais de 150 000 pessoas se aglomeravam na base aérea de Le Bourget, próxima a Paris, naquela noite fria de 1927.

Desde o início, o aviador havia captado a atenção do público e da imprensa por ser o único a tentar a travessia sozinho e pela boa aparência física. Ele não tinha dúvida do impacto que seu voo teria para o mundo, mas nunca imaginou que o tornaria um herói moderno. No instante em que posou, transformou-se num semideus. Lindbergh era uma moda: ganhara músicas em sua homenagem e propostas milionárias para estrelar filmes e anúncios. Dali em diante, seria objeto constante da imprensa, que nunca se cansava de segui-lo por onde quer que fosse. Nenhum homem havia sido tão assediado pela mídia antes.

Nada em sua vida particular seria poupado das manchetes. Nem seu casamento com Anne Morrow, nem o sequestro e a morte do primeiro filho, ainda bebê. Tudo isso era demais para o frio e nórdico Lindbergh. Sempre reservado, a única coisa que buscava era trabalhar pelo bem da aviação. Mas, como com todo ídolo, a queda foi alta. No caso de Lindbergh, aconteceu quando ele visitou a Alemanha de Hitler e manifestou simpatia por seu enorme poder aéreo. Quando a guerra estourou e ele defendeu a não participação dos Estados Unidos, foi imediatamente tachado de pró-nazista. A América perdia seu herói.

Lindbergh morreu em 1974, isolado com sua família no Havaí. Depois de contribuir para a aviação por três décadas, dedicou seus últimos anos à preservação da natureza. Mas o único fato lembrado de sua vida seria o voo transatlântico, tal o impacto na história. Graças à travessia, a aviação comercial decolou com força e viveu seus melhores anos. O que faz de Lindbergh especial é ter se tornado o primeiro grande herói mundial, com tudo o que isso acarretava. No seu voo solitário, porém, ele descobriu que nada disso importava. Sabia que havia vivido o que homem nenhum jamais vivera, mas também que tudo era efêmero. Antes de morrer, escreveu: “Depois da minha morte, as moléculas do meu ser voltarão à Terra e ao céu. Elas vieram das estrelas. Eu sou das estrelas”.

(Fonte: Os Caminhos da Terra – Um Herói Moderno/ Por Xavier Bartaburu – Novembro de 2000 – Ano 9 – N.° 11 – Edição 103 – Pág; 62)

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