O primeiro galã negro em papel de protagonista nas telenovelas brasileiras

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O primeiro galã negro em papel de protagonista nas telenovelas brasileiras

O que o papel de Lázaro Ramos como um playboy rico e sedutor revela sobre as mudanças sociais que estão ocorrendo no Brasil

Lázaro Ramos do personagem André Gurgel, de Insensato coração. Na novela das 21 horas da TV Globo, o ator encarna um designer famoso, rico e colecionador de mulheres. De jeans, camisa social azul-clara e paletó cinza, Lázaro é o retrato da elegância. Um belo relógio arremata o figurino.
Ele contracena com beldades como Camila Pitanga e Deborah Secco. Abastado, culto e sedutor – assim como arrogante e perverso –, o personagem André Gurgel representa uma enorme novidade.

Ele é o primeiro galã negro em papel de protagonista nas telenovelas brasileiras. Com ele, Lázaro ocupa um espaço que já pertenceu a atores como Tarcísio Meira, Francisco Cuoco e, mais recentemente, José Mayer. Sua presença nesse posto simbólico, com a inevitável carga de polêmica que acarreta, reflete as mudanças profundas que estão em curso não apenas na televisão, mas no interior da sociedade brasileira. Os negros estão ocupando novos lugares.

Desde que a novela estreou, o premiado ator baiano, de 32 anos, virou assunto nacional. Muitos gostaram de vê-lo interpretando um negro como nunca se havia visto na TV.
Como a audiência de Insensato coração segue firme nas médias das últimas novelas do horário – em torno de 35 pontos no Ibope –, e a novela provoca 54% mais de visitas a seu site da internet do que suas duas antecessoras imediatas, esse tipo de rejeição parece ser localizado. Isso foi comprovado por uma pesquisa exclusiva da Retrato Consultoria & Marketing, realizada na semana passada entre 200 telespectadores de Insensato coração no Rio de Janeiro.

Lázaro é aprovado no papel de galã pela vasta maioria dos espectadores: 66,8% dizem que não se surpreenderam com a escolha do ator negro para o papel de André Gurgel.

A aprovação feminina é mais forte, o que é importante na formação de um galã. É verdade que a consulta teve um alcance limitado. Foi feita apenas no Rio, com uma amostragem relativamente pequena de espectadores, e não reflete necessariamente a opinião do brasileiro sobre o assunto. Também é verdade que a desaprovação média ao personagem, em torno de 30%, não é irrelevante. A vasta maioria aprova, mas alguns parecem incomodados com o que veem na TV. É evidente, porém, que o resultado comprova o sucesso do novo galã negro.

No Brasil, onde o número de atores negros é pequeno, poucos poderiam abraçar um personagem difícil como André Gurgel. Não foi por acaso que Lázaro foi escolhido. Cada degrau da escalada profissional de Lazinho, como é chamado pelos amigos, foi amparado por trabalhos únicos. Tornou-se conhecido em 2002, pelos prêmios recebidos pelo filme Madame Satã, em que vivia o papel-título: o lendário transformista, malandro e capoeirista que fez história no Rio na década de 30. Nos anos seguintes, brilhou novamente no cinema, em filmes como Carandiru, Meu tio matou um cara e O homem que copiava. Na televisão, era um dos atores da série cômica Sexo frágil, em que atores homens interpretavam personagens masculinos e femininos.

Em seu primeiro trabalho importante em novelas, concorreu ao prêmio Emmy, o Oscar da televisão americana, com o anti-herói Foguinho, de Cobras&lagartos (2006). Em Duas caras, foi herói da favela e fez par romântico com a rica e branca Debora Falabella – um amor inter-racial que o público aprovou. A credibilidade de Lázaro para encarar papéis polêmicos era clara.

Luiz Lázaro Sacramento Ramos nasceu em Salvador, na Bahia, filho de mãe empregada doméstica e pai operário. Aos 15 anos, levado por colegas de escola, assistiu a uma peça do grupo Bando de Teatro Olodum, formado apenas por negros.

Apaixonou-se pela ideia de ser ator. No dia seguinte, fez um teste e foi aprovado, apesar de, até aquele momento, só aceitarem maiores de idade. Ao mesmo tempo que fazia um curso profissionalizante de patologia, ampliava sua experiência teatral. Trabalhava num hospital para ajudar a mãe, que sofria de uma doença degenerativa que lhe tirou os movimentos até sua morte, há dez anos – pouco antes que o filho se tornasse famoso em território nacional. Uma rotina dura, superada pela disciplina, uma das maiores qualidades de Lázaro, segundo quem já trabalhou com ele. Instintivo e empenhado, não demorou a ganhar destaque. Em 2000, o diretor João Falcão escalou quatro atores baianos para sua peça A máquina. Lázaro era um deles. Os outros três eram Wagner Moura, Vladimir Britcha e Gustavo Falcão. O sucesso abriu portas para todos.

(Fonte: www.revistaepoca.globo.com – ED. 666 – Sociedade/ Por MARTHA MENDONÇA, BRUNO SEGADILHA – 19/02/2011)

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