Vaticano nomeia Wilton Gregory primeiro cardeal afro-americano
No dia 28 de novembro, Wilton Gregory foi o primeiro bispo afro-americano a se ajoelhar diante de um Papa para ser ordenado cardeal. Ele também é o primeiro arcebispo negro de Washington.
Wilton Gregory, de 72 anos, está em quarentena há 10 dias no Vaticano e dá somente entrevistas rápidas pela Internet. As refeições do arcebispo de Washington são deixadas em sua porta. Uma precaução indispensável antes de participar da cerimônia, no sábado (28), que o transformou no primeiro cardeal afro-americano.
O arcebispo é considerado como um homem de diálogo, mas direto. O religioso não poupou, por exemplo, críticas ao presidente Donald Trump pela visita surpresa à igreja Saint John, próxima à Casa Branca, um dia após a dispersão brutal de manifestantes antirracistas, em junho.
A chamada “igreja dos presidentes” sofreu danos durante o protesto. Na época, o arcebispo atacou o que ele julgou ser uma tentativa de Trump de intimidar os manifestantes, instrumentalizando a religião.
A nomeação de Gregory aconteceu em um momento complicado para a Igreja católica americana. A instituição está, atualmente, dividida entre progressistas e ultraconservadores, frequentemente hostis ao Papa e às posições pró-aborto do presidente eleito Joe Biden, que é católico praticante.
Papa Francisco nomeia novos cardeais, incluindo o primeiro afro-americano
Wilton Gregory participou de cerimônia em 28 de novembro no Vaticano. Novos nomes compartilham a visão do pontífice por uma Igreja mais inclusiva.
O Papa Francisco deu posse no sábado (28) a 13 novos cardeais, incluindo o primeiro afro-americano a ocupar o cargo, expandindo ainda mais o impacto do pontífice no grupo que um dia elegerá seu sucessor.
Wilton Gregory é arcebispo de Washington, nos Estados unidos, e tem 72 anos.
Os cardeais foram empossados em uma cerimônia, conhecida como consistório, que foi consideravelmente reduzida por causa da pandemia de Covid-19. Dois deles, inclusive, estiveram ausentes, já que não puderam viajar em razão das restrições de deslocamento.
Os 11 novos cardeais presentes, todos com os trajes litúrgicos vermelhos, acompanharam a cerimônia de máscara e com distanciamento uns dos outros para evitar a propagação do vírus.
Nove dos 13 cardeais têm menos de 80 anos e são elegíveis, segundo a lei da Igreja, para entrar em um conclave secreto para escolher o próximo papa entre eles, depois que Francisco morrer ou renunciar.
Foi o sétimo consistório de Francisco desde sua eleição, em 2013. Ele já nomeou 57% dos 128 cardeais eleitores, a maioria dos quais compartilha sua visão de uma Igreja mais inclusiva.
Até agora, ele nomeou 18 cardeais de países que nunca haviam tido um – quase todos vindos de países em desenvolvimento. No consistório deste sábado, Brunei e Ruanda tiveram seus primeiros cardeais. Além deles, há seis italianos, um mexicano, um maltês, um espanhol, um americano e um filipino.
Embora a Europa ainda tenha a maior parcela de cardeais eleitores, com 41%, esse número caiu em relação aos 52% de 2013, quando Francisco se tornou o primeiro papa latino-americano.
Tentação de cometer ‘corrupção’
Na cerimônia, o papa advertiu os 13 novos cardeais que receberam o título sobre a tentação de cometer atos de “corrupção” durante a vida religiosa e, sobretudo, de sentir-se uma “eminência”.
“Pensem em todos os tipos de corrupção que podem encontrar na vida religiosa”, afirmou o pontífice durante a cerimônia de investidura dos 13 novos cardeais, com dois ausentes, que não conseguiram viajar devido à pandemia de coronavírus.
“Todos amamos Jesus, todos queremos segui-lo, mas devemos estar sempre atentos para seguir em seu caminho.”
Ele advertiu: “Por exemplo, o vermelho púrpura do hábito cardinalício, que é a cor do sangue, pode se tornar, pelo espírito mundano, uma distinção eminente. Assim, a pessoa não se sente mais um pastor, e sim uma eminência. Quando você sentir isso, você se sentirá fora do caminho”.
Francisco entregou em seguida o título cardinalício, assim como o anel e o barrete aos novos cardeais.
Implacável na luta contra a violência sexual
Defensor da política de tolerância zero, Gregory também atua contra os casos de violência sexual na Igreja. Ele foi escolhido para liderar a Igreja Católica na capital americana alguns meses depois ter aceito a demissão do ex-arcebispo de Washington. O cardeal Wuerl foi acusado de ter acobertado padres que cometeram violências sexuais em sua antiga diocese.
O Papa Francisco escolheu um reformador e um homem próximo das minorias. Por esta escolha “muito importante”, a Igreja católica mostra “seu apoio à comunidade afro-americana”, diz o bispo. “Eu sou sozinho, um indivíduo símbolo”, afirma Gregory, que nasceu em Chicago.
Mas ele insiste em lembrar o padre Augustus Tolton, nascido no Missouri de pais escravos, no século 20. Ele foi o primeiro padre afro-americano e teve que ser ordenado em Roma, porque nenhum seminário dos Estados Unidos quis aceitá-lo. Ele poderia ser beatificado, diz Wilton Gregory.