O maior combate aéreo da História

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O maior combate aéreo da História.
A Grande Batalha. Durante a Segunda Guerra, centenas de bombardeiros B-17 sobrevoaram a Alemanha para destruir alvos militares, protagonizando o maior combate aéreo da História. Bombas antiaéreas, tiros e explosões riscavam o céu de todas as formas. Aviões partidos ao meio despencavam de 4.000 pés de altura e pedaços de fuselagem rasgavam o horizonte em uma incandescente chuva de ferro e fogo sobre a cidade de Schweinfurt, na região da Bavária, Alemanha.
Naquele 14 de outubro de 1943, a Segunda Guerra Mundial produziu o maior combate aéreo que o mundo já conheceu. Frente a frente estavam mais de duas centenas de pesados bombardeiros B-17, todos da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), contra dezenas de caças alemães Messerschmitt 109 e Focke Wulf 190. Sobreviver para qualquer lado, já seria uma grande conquista – principalmente para os americanos. Mas isso não seria tão simples. Os pilotos alemães da Luftwaffe estavam empenhados em repelir o ataque aliado
de qualquer forma, lançando mão de perseguições intermináveis para além da fronteira do Reich. No final, a destruição foi tão grande que o episódio entrou para a História e ficou conhecido como Black Thursday (Quinta-feira Negra), por causa do grande número de vidas e aeronaves perdidas.
A pequena Schweinfurt era um importante centro industrial da Alemanha nazista, sobretudo de componentes para maquinaria bélica. Suas unidades produziam mais de 40% dos rolamentos e bolas de baixa fricção utilizados pelos alemães em diversos tipos de armas e aviões. Para os aliados, a cidade era um alvo tão estratégico que ficava atrás apenas das fábricas de aeronaves e produção de petróleo. Mais do que um tiro certeiro na indústria aeronáutica local, destruí-la significaria uma ducha de água fria nos esforços de Hitler para alimentar sua máquina de guerra. Nada mais natural, portanto, que os cinco parques industriais de Schweinfurt aparecessem como alvo potencial das missões de bombardeio da 8ª Força Aérea da USAF.
A primeira grande investida contra a cidade aconteceu dois meses antes da Black Thursday e, em termos estratégicos, foi quase tão catastrófico quanto a segunda, apesar das baixas bem menores. Naquela época, os comandantes americanos acreditavam que os bombardeios diurnos poderiam ser precisos e eficientes mesmo sem escolta. Para eles, a formação em quadrado (“caixas de combate”) dos B-17 “Flying Fortress” seria suficiente para segurar os ataques alemães sem o auxílio de caças de apoio. Mas não foi bem isso o que a prática mostrou. Por causa da sua importância militar, Schweinfurt era uma área muito bem organizada defensivamente, com diversas posições de bateria antiaérea espalhadas ao redor da cidade – já no final da guerra, foram encontradas 140 armas do gênero entrincheiradas na região.
Nem mesmo a experiência da britânica RAF (Royal Air Force) nos anos anteriores serviu de alerta para os americanos. Havia muito tempo que a força aérea britânica deixara de bombardear os alemães durante o dia por causa do alto número de perdas que obtiveram neste tipo de combate. Entre 1942 e 1943, a expectativa de sobrevivência da tripulação aliada em bombardeios sem escolta não passava de 15 missões – dez anos a menos do que a média de 25 operações realizadas por pessoa. Ou seja, as chances de sucesso da 8ª Força Aérea sem perdas expressivas, ao contrário do que imaginavam os americanos, eram bem pequenas.
Para piorar a situação, o otimismo do general Ira C. Eaker, comandante da unidade, tinha um fundamento que também não se sustentava na prática. Sua esperança baseava-se em dados maquiados e superestimados pelos próprios atiradores americanos, segundo os quais, durante as batalhas nos Países Baixos, o número de perdas se deu em uma razão de seis alemães para cada americano. Além disso, a leitura equivocada que Eaker fez da estratégia de defesa inimiga contribuiu para o fracasso de seus homens. Ao contrário de uma única linha de defesa na costa, como ele deduziu erroneamente, a Luftwaffe posicionou-se em cinco zonas defensivas, estabelecendo uma capacidade de cobertura de 100 milhas continente adentro, a partir da costa.
Assim, poderiam atacar os aviões aliados antes e depois dos bombardeiros chegarem ao alvo. À queima-roupa.
Em junho de 1943, ingleses e americanos unificaram suas estratégias de combate e formalizaram a Operação Pointblank (à queima-roupa, em inglês), que estabeleceu como alvo prioritário a resistência da Luftwaffe. O objetivo era obter a superioridade aérea na Europa e destruir a indústria aeronáutica alemã, para abrir caminho para uma eventual invasão por terra. Sistemas de transporte e sítios petrolíferos agora eram alvos secundários, e as fábricas que produziam peças para aviões e armamentos passaram a ocupar o topo da lista.
Os primeiros ataques começaram pela parte ocidental do continente e, inicialmente, serviram para desviar as atenções da Luftwaffe para as operações antibombardeios. A instabilidade do clima e a falta de tripulantes capacitados limitaram o número de missões aliadas durante o verão daquele ano, mas a chegada de 17 grupos adicionais de B-17 levaram Eaker a organizar incursões maiores ao território alemão. A primeira grande ofensiva aconteceu no dia 17 de agosto de 1943, quando 315 bombardeiros tomaram o rumo de Schweinfurt e Regensburg, este último um grande centro de montagem de aeronaves. Os B-17 conseguiram destruir instalações de porte, mas a investida custou 60 aeronaves e a vida de 600 combatentes à USAF.
O resultado não mudou os planos da Força Aérea Norte-Americana. Após ataques sucessivos de menor escala a cidades estratégicas do Reich, havia chegado a hora de uma grande investida. Em 14 de outubro de 1943, 291 B-17 e 103 P-47 Thunderbolts decolaram de 16 bases na Inglaterra em direção ao território alemão. O objetivo da missão 115 era voltar a Schweinfurt e, dessa vez, aniquilar as fábricas de componentes para aviões e armas pesadas. Enquanto a formação se organizava sobre o Canal da Mancha, alguns caças ingleses Spitfires decolaram para apoiá-los no trajeto até o continente, como combinado previamente em uma difícil negociação com os ingleses. Mesmo com os novos tanques de combustível auxiliares, os P-47 não tinham autonomia para ir muito longe. Quando o grupo chegou à fronteira, perto de Aachen, os aviões de escolta tiveram de voltar para suas bases, pois seria impossível chegarem até Schweinfurt. A partir dali, os bombardeiros seguiriam por sua própria conta e risco. Durante três horas, eles rumariam ao destino planejado sem escolta.
Os primeiros combates aconteceram ainda na fase de aproximação dos alvos e foram se tornando cada vez mais violentos. Alguns grupos foram praticamente dizimados ao longo da batalha. O mais prejudicado foi o 305º, que perdeu 13 dos 15 aviões que entraram no espaço aéreo alemão. Os resultados mostraram-se catastróficos em todos os níveis. Dos 291 bombardeiros que decolaram na Inglaterra, 257 cruzaram a fronteira alemã. Desses, 60 foram derrubados – pouco mais de 20% do total de aeronaves. – e 229 conseguiram chegar a Schweinfurt e despejar suas bombas; apenas 197 retornaram para as bases aliadas após a missão e cinco caíram antes de aterrisarem em solo britânico. Outros 17 pousaram a salvo, mas estavam tão danificados que nunca mais voltaram a voar. Ao todo, perderam-se 82 B 17, ou 28% do total. Dos 175 que restaram no final da jornada, 142 tinham algum tipo de avaria e apenas 33 (12%) pousaram ilesos.
As baixas de combatentes foram igualmente pesadas. Cinco equipes de tripulantes completas foram mortas em ação, dez acabaram seriamente feridas e 33 sofreram ferimentos leves. No total, 594 homens foram perdidos em combate – muitos deles mortos – e o total de baixas (que inclui os feridos) chegou a 642 (mais de 18%, ou o dobro das faixas do lado alemão).
Os riscos da missão eram conhecidos pelas autoridades aliadas e não foram subestimados pelos combatentes da 8ª Força Aérea. Mas a importância de destruir a principal região produtoras de peças para a indústria bélica alemã estava acima do prejuízo que o ataque poderia gerar. Ironicamente, mais tarde essa perspectiva também se revelaria equivocada. Depois da guerra, espcialistas alemães avaliaram que a destruição completa das indústrias de Schweinfurt não teria o impacto que os americanos imaginavam, pois as fábricas poderiam ser reconstruídas em apenas quatro meses a partir do zero.
A segunda incursão a Schweinfurt foi o ponto alto de uma semana em que a Força Aérea dos Estados Unidos registrou baixas importnates de aviões e tripulantes. Entre 8 e 14 de outubro, quatro grandes investidas foram organizadas pela USAF e mobilizaram nada menos que 1.342 bombardeiros. Destes, 152 (mais de 11%) foram derrubados e outros 62, perdidos por causa dos danos severos que sofreram. Somando-se as aeronaves danificadas que voltaram a operar, este número salta para mais da metade do total de aviões despachados para entrar em ação. Com essa taxa, seria preciso requerer um novo bombardeiro a cada três meses para manter a ofensiva de pé. A lição estava clara: seria impossível investir em novos bombardeios diurnos sem escolta.
Com a seqüência de derrotas em outubro, a Força Aérea Norte-Americana suspendeu as incursões ao espaço aéreo alemão até fevereiro de 1944. Nesse período, seus engenheiros voltaram-se para a execução de projetos aeronáuticos que já estavam em andamento ao longo de 1943 e aprimoraram o desempenho de diversos aviões. O Lockheed P-38 Lightning e o próprio P-47 foram adaptados e ganharam tanques maiores, para maior autonomia. O caça americano P-51 Mustang recebeu motor novo da britânica Rolls-Royce e ganhou o alcance dos aviões de combate e escolta, para batalhas ar-ar. Com os projetos correndo de vento em popa, os americanos logo aumentaram o alcance de sua escolta e, já no final de 1943, os bombardeiros poderiam ser acompanhados ao longo de 600 milhas – alcance suficiente para chegar em Berlim.
Para testar esses avanços, os estrategistas americanos montaram uma terceira incursão a Schweinfurt, no início de fevereiro de 1944. Durante a ação, a 8ª Força Aérea perdeu apenas 11 dos 231 bombardeiros que participaram da missão, enquanto três outros ataques tiveram perdas mínimas entre os 600 aviões enviados para o espaço aéreo doTerceiro Reich. Depois da semana negra de outubro de 1943, os Estados Unidos deram a volta por cima e batizaram o período de 22 a 25 de fevereiro de 1944 de “A Grande Semana”, durante a qual realizaram mais de 3.800 bombardeios diurnos a alvos alemães. Perderam 300 aviões, mas despejaram 10 mil toneladas de bombas e destruíram cerca de mil aeronaves inimigas.
Do outro lado do front, a situação também se invertera. Somente em fevereiro daquele ano, a Luftwaffe perdeu 33% de sua frota aérea e 20% de seus pilotos, incluindo vários homens com mais de 100 vitórias ao longo da carreira. Nos quatro primeiros meses do ano, as baixas somaram 1.684 pilotos alemães, contingente reposto com jovens inexperientes, obrigados a lutar contra os já treinados pilotos americanos. Àquela altura, com a derrota alemã em Stalingrado, no front leste, a guerra já estava praticamente definida a favor dos aliados. Mas uma mudança de doutrina na Operação Pointblank enterraria de vez as esperanças do Reich. O objetivo dos combates aéreos agora era destruir a Luftwaffe, para conquistar definitivamente a superioridade no ar e abrir caminho para o Dia D. O controle do espaço aéreo na Europa colocaria as tropas aliadas direto no caminho de Berlim e, por conseqüência, decretaria a derrota derradeira das forças alemãs.

FICHA TÉCNICA
Boeing B-17G “Flying Fortress”
Tipo = Bombardeiro
Motor = Quatro Wright Cyclone R-1820s, de 1.200 hp cada
Performance = 300 mph (velocidade máxima), 35.000 pés (teto de serviço)
Raio de ação = 3.381 km
Peso = 25.000 kg (carregado)
Dimensões = 31,4 m (envergadura), 22,7 m (comprimento) e 5,8 m (altura)
Armamento = 13 metralhadoras calibre .50 e bombas de 2.724 kg cada

(Fonte: Aero Magazine – Ano 13 – Nº 156 – Spring – História – Por Carlos Bourdiel – Pág; 69 à 73)

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