Nilo Peçanha, nasceu em 1867, em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro.

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Nilo Peçanha, considerado negro, ou afro-brasileiro. Filho de pai negro e de mãe loira, de olhos claros, Nilo nasceu em 1867, em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Foi descrito por seu biógrafo oficioso Brígido Tinoco como “alto, magro, moreno, cabelos ondulados, pequeno cavanhaque e bigodes, extremamente simpático”. Nilo era símbolo típico da política da época- um período em que menos de 3% da população brasileira votava e não havia sombra de movimentos de direitos civis. Ele se elegeu vice-presidente em 1906. Assumiu a presidência três anos depois, com a morte do então presidente, Afonso Pena.
Nilo passou a infância lendo no balcão da padaria do pai, Sebastião. Aos 12 anos, editou um jornalzinho defendendo a república e a abolição da escravatura. O periódico teve uma edição. Logo foi estudar Direito no Recife, hábito dos bem-nascidos de então. Ao voltar para o Rio, participou da fundação do Partido Republicano ao lado do propagandista Quintino Bocaiúva, que depois seria seu padrinho de casamento. De inexpressivo deputado constituinte, em 1891, Nilo passou a renhido oposicionista do presidente Prudente de Morais a partir de 1894, Acusado – segundo alguns historiadores, injustamente – de participar do atentado á vida de Prudente, Nilo teve de se esconder por alguns meses até que, no mesmo dia em que se entregou exasperado á delegacia, descobriu-se anistiado e, em 1898, voltou á Câmara dos Deputados.
No governo de Campos Sales, Nilo incorporou rapidamente o espírito governista. Excelente orador, foi um dos porta-vozes de Campos Sales na Câmara de Deputados. Foi um feroz defensor do impopular plano econômico do ministro Joaquim Murtinho. Tratava-se de diminuir despesas, decretar impostos, vender ou arrendar bens nacionais, suprimir arsenais de guerra. Tinha 31 anos e era membro da Comissão de Orçamento. Tentava trocar “a preocupação doentia dos partidos pela preocupação elevada das finanças”, como afirmou em discurso. Ele teve, ao longo de sua trajetória, uma preocupação incessante com finanças públicas, algo raríssimo na época. Foi como deputado de oposição, durante o governo de Prudente de Morais, que ameaçou a se preocupar com o tema. Ao analisar o orçamento para o Ministério do Exterior (equivalente ao de Relações Exteriores hoje), esbravejou ao ver jornais franceses contemplados com verbas brasileiras.
Como governador do Rio de Janeiro, em 1903, suas primeira medidas foram demitir 400 servidores, eliminar repartições e rescindir contratos da administração anterior. Cortou o próprio salário em 25%. Depois de 11 anos de déficits no Estado, 1904 terminou em superávit de 1.500 contos de réis.
Nilo beneficiou-se indiretamente da politicagem de sua época, elegantemente chamada por historiadores de “política dos governadores”. Iniciada por Campos Sales, ela consistia num conjunto de normas e práticas políticas informais que estabilizaram o relacionamento entre o poder federal e os Estados. O presidente da República reconhecia e apoiava as oligarquias regionais, atendendo a suas indicações e favores pessoais. Os governadores ganhavam porque podiam, em paz, dominar seus Estados por longos períodos. O presidente não era atrapalhado por conflitos regionais nem chamado a resolver contendas delicadíssimas e violentas entre candidatos a oligarcas.
Com essa política, São Paulo e Minas Gerais se revezavam, indicando presidentes, cabendo o papel de vice-presidente a figuras politicamente menores, fortes em outros Estados. Político hábil e conciliador, á época governador do Rio de Janeiro, Nilo foi eleito vice-presidente do mineiro Afonso Pena em 1906. Nilo não era bem-visto pela oligarquia cafeeira que apoiara Pena á presidência – e houve rápida menção de destruí-lo quando o presidente morreu em 1909. Nilo assumiu mesmo assim.
Seu período na Presidência não se destaca por posições duras.Ele não combateu o controle das eleições por coronéis e fazendeiros nem ficou conhecido por tentar dar mais direitos e benefícios a negros e pobres. Expressou apenas, apenas, a vontade – malsucedida – de redistribuir poder político a Estados, além de São Paulo e Minas Gerais. Criou o Ministério da Agricultura, tentativa de federalizar algumas decisões que cabiam a governadores, sobretudo paulistas e mineiros. Iniciou o repasse de recursos federais a Estados do Norte e Nordeste. Governou um ano e cinco meses com slogan “Paz e amor”. Nilo as usava para dizer que gostaria de evitar interferências federais em questões estaduais. Assistiu a rebeliões a Bahia, em Goiás, no Amazonas e Rio de Janeiro. Pouco influenciou a sucessão, embora tenha apoiado o militar Hermes da Fonseca contra o civil Rui Barbosa. Sua carreira política terminou em 1922. Como era comum em sua era, a troca de favores e clientelismo foram o tom da política de Nilo Peçanha. De acordo com com o estudo da historiadora Surama Conde Sá Pinto, de 702 cartas endereçadas a Nilo – desde quando era deputado até a sua Presidência -, 308 encaminhavam pedidos de favores políticos. Desses, 37% eram de nomeação para cargos públicos. José Pinto Ribeiro escreveu a Nilo, então vice – presidente, em 26/1/1906: ”A chuva incessante que cai há 48 horas tem transformado o Paraíba em um caudal medonho, estando de baixo d’água todo o baixo da Tijuca, bairro alto da cidade, e toda a Rua da Misericórdia. Fomos obrigados a remover os doentes da Santa Casa, invadida pela água…”. As cheias continuam a castigar várias regiões do Brasil, inclusive O Estado do Rio de Janeiro.

(Fonte: Época – Nº5501 – 1/12/2008 – Editora Globo – Por Sérgio Praça – Pág.65)

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