Moniz Pereira, antigo treinador de Carlos Lopes, medalha de ouro em Los Angeles 1984

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Moniz Pereira, símbolo do atletismo português

Moniz Pereira (1921-2016), o homem que fez Portugal acreditar em “coisas impossíveis”

Moniz Pereira fotografado em Julho de 2012 (CARLA ROSADO/ARQUIVO)

Moniz Pereira fotografado em Julho de 2012 (CARLA ROSADO/ARQUIVO)

Moniz Pereira (Lisboa, 11 de fevereiro de 1921 – Lisboa, 31 de julho de 2016), antigo treinador de Carlos Lopes, medalha de ouro em Los Angeles 1984

Foi um dos maiores impulsionadores do atletismo nacional e treinador de grandes figuras como Carlos Lopes, Fernando Mamede, Francis Obikwelu ou Naide Gomes.

Chamaram-lhe maluco por acreditar que os atletas portugueses podiam ter resultados tão bons quanto os seus concorrentes. Mas ele nunca se desviou do objetivo de ver um português subir ao lugar mais alto do pódio nuns Jogos Olímpicos.

Demorou 39 anos, mas provou que a razão estava do seu lado quando Carlos Lopes conquistou a primeira medalha olímpica portuguesa de ouro, na maratona, em Los Angeles 1984. Mário Moniz Pereira, apaixonado pelo esporte e a quem chamavam “senhor atletismo”, moldou campeões e teve um papel inigualável na projeção internacional dos atletas portugueses. 

No Sporting, clube do qual era o sócio número 2 e que representou como dirigente, treinador e atleta do clube, e foi um pouco de tudo (até preparador físico da equipe de futebol em 1970 e 1971, sagrando-se campeão nacional e vencedor da Taça de Portugal), tornou-se um técnico de elite e forjou alguns dos nomes que hoje são referências do atletismo nacional. Carlos Lopes, Fernando Mamede, Domingos Castro e Dionísio Castro, Rui Silva, Francis Obikwelu ou Naide Gomes passaram-lhe pelas mãos e ajudaram a tornar o seu sonho realidade: ter atletas portugueses a ombrear com os melhores do mundo.

 

O título olímpico de Carlos Lopes foi um dos pontos altos da carreira de Moniz Pereira (DR)

O título olímpico de Carlos Lopes foi um dos pontos altos da carreira de Moniz Pereira (DR)

Licenciado em Educação Física pelo Instituto Nacional de Educação Física (INEF) em Lisboa, onde deu aulas durante 27 anos, Moniz Pereira participou em 12 Jogos Olímpicos entre 1948 e 2012.

Moniz Pereira aborrecia-se por Portugal ser um país concentrado no futebol. Mesmo que, por vezes, isso implicasse criticar o Sporting, clube de sempre: “O atletismo deu mais títulos e nome ao clube do que o futebol e, no entanto, só pensam no futebol. Quando foi a construção do novo estádio prometeram uma pista, ia acompanhando as obras e não via nada. Até que percebi — um estádio novo sem pista. É difícil manter dezenas de modalidades sem infra-estruturas”, queixava-se numa entrevista ao PÚBLICO, em 2012, antes do início dos Jogos Olímpicos de Londres.

Moniz Pereira deixou o comando direto do atletismo do Sporting após os Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992. 

Campeões em momento inesquecível com Moniz Pereira (Foto: www.dn.pt/Divulgação)

Campeões em momento inesquecível com Moniz Pereira (Foto: www.dn.pt/Divulgação)

“Para o atletismo representa um pilar fundamental. Moniz Pereira tem um lugar ímpar, foi efetivamente ele que lançou a nossa modalidade para os níveis que temos hoje. Tinha a convicção que os atletas portugueses, com os mesmos apoios, seriam tão bons quanto os outros. E conseguiu provar essa tese. Fez-nos acreditar que era possível”, notou o presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, Jorge Vieira, num testemunho ao PÚBLICO.

Moniz Pereira morreu em 31 de julho de 2016, aos 95 anos, de pneumonia, anunciou através do Facebook o Sporting, clube que representou como dirigente, treinador e atleta do clube.

“O professor Moniz Pereira tinha uma ideia que era mostrar aos portugueses que podiam ser tão bons como os outros. Destacava-se por essa ideia e pelo seu trabalho diário. Tinha uma capacidade de persuasão extraordinária, de elevar os nossos patamares de motivação”, recordou José Carvalho, ex-atleta olímpico.

Amigo íntimo do “senhor atletismo”, o fadista Carlos do Carmo define-o simplesmente como “o maior”. “Gostava que os mais jovens soubessem que, desportivamente falando, estamos perante talvez o mais ilustre português que tivemos. Fundou uma escola de atletismo e criou uma série de campeões do mundo”, sublinhou o fadista com quem Moniz Pereira partilhava a paixão pela música – o treinador compôs várias músicas cantadas por grandes nomes do fado português.

“O Sporting CP lamenta informar a morte do professor Mário Moniz Pereira, com 95 anos, pelo qual está de luto. O professor Mário Moniz Pereira é o símbolo máximo do ecletismo do Sporting CP e desporto nacional. O clube endereça as mais sentidas condolências à família e amigos”, revela a nota publicada pelo Sporting na sua página no Facebook.

A história da vida de Moniz Pereira, noventa e cinco anos “bem vividos”, confunde-se com a do atletismo, que amava como ninguém, e também com a do fado. Mesmo depois de fazer “quatro vezes vinte mais dez”, como gostava de dizer, manteve o sorriso de felicidade e citava o refrão do fado que o celebrizou: “Valeu a pena”.

Nos últimos anos, o ritmo de trabalho deixou de ser tão frenético e praticamente já não saia de casa, no bairro de São Miguel, em Lisboa. Quase se desligou do atletismo e teve tempo para voltar a ouvir música, como fado, de que era talentoso cultor. Um dos seus sucessos é o “Valeu a pena”, que Maria da Fé celebrizou.

“Sempre fiz o que gosto com muita felicidade”, assegurava aquele que Manuel Sérgio chamou de “maior treinador de todos os tempos”. E o caso não é para menos: ‘fez’ oito campeões de nível mundial e olímpico, a começar pelo lendário Carlos Lopes.

(Fonte: http://www.lux.iol.pt/nacional/31-07-2016 – NACIONAL – DESPORTO/ com Hugo Daniel Sousa, Pedro Guerreiro e Jorge Miguel Matias – Redação Lux  com Lusa em 31 de Julho de 2016)

 

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