Michel Henry, filósofo e novelista francês

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Michel Henry (Haïphong, Indochina, 10 de janeiro de 1922 – Albi, França, 3 de julho de 2002), filósofo e novelista francês

Michel Henry nasceu em 10 de janeiro de 1922 em Haïphong, Indochina, atual Vietnã. Segundo filho de um comandante naval e de uma pianista, ficou órfão de pai aos dez dias de vida, morto num acidente de carro. Sua mãe renunciou à sua carreira para se dedicar à educação dos dois filhos. Da infância, Henry mantém na memória os jogos em um grande jardim e as longas viagens no mar quando voltavam das férias de verão na França. Da vida no Oriente, traz o amor pelas antigas civilizações da Ásia, o estilo de seus monumentos e suas estátuas (Wondracek, 2010a).

A família mudou-se para a França em 1929. Após um período de aclimatação em Anjou e Lille, residência do avô materno, que era maestro e diretor do conservatório de música, a viúva Henry e seus dois filhos se instalam em Paris. Michel Henry estuda no Liceu Henri IV, e suas qualidades intelectuais chamam a atenção do professor de literatura francesa, Jean Guéhenno. Mas, nos anos finais, a filosofia ganha sua paixão e a escolha para a graduação. Nas aulas preparatórias para a universidade, marca-o o curso com o filósofo Jean Hyppolite, que se torna seu coorientador na graduação, ao lado de Jean Wahl. Estuda filosofia com Paul Ricoeur (que mais tarde esteve na sua banca de doutoramento), Ferdinand Alquié e Henri Gouhier. Durante o inverno de 1942-1943, escreve sua monografia de conclusão sobre Espinosa, intitulada Le bonheur de Spinoza [A felicidade de Espinosa]. O diretor Jean Grenier quer publicá-la pela Editora Gallimard, mas as restrições de papel e a censura nazista impossibilitam-no por longos anos (Wondracek, 2010a).

Em 1943, segue seu irmão à Inglaterra e ingressa na Resistência, numa divisão constituída por intelectuais. Seu codinome foi Kant, pois sempre carregava consigo o Crítica da Razão Pura. Atuou na região de Lyon, controlada por Klaus Barbie, de sinistra memória. A vida na clandestinidade e a necessidade de ocultar-se marcarão profundamente seu pensamento filosófico (Wondracek, 2010a).

Entre 1944 e 1946, procede à revisão de Metafísica e Moral. A guerra impede a possibilidade de aspirar a seguir carreira na filosofia e, em 1945, Michel Henry passa a considerá-la apenas para reflexão pessoal, enquanto ganha a vida ministrando aulas. Lê Sein und Zeit de Heidegger, ainda não traduzido ao francês, e pouco depois visita o filósofo alemão em sua reclusão no chalé de Todtnauberg, durante estadia na Floresta Negra com amigos (Wondracek, 2010a).

Apesar da longa entrevista, que o fascina, já expressa certo descontentamento com a ênfase fenomenológica na exterioridade, primícias de suas críticas posteriores ao rumo tomado pelo pensamento ocidental. (Wondracek, 2010a).

Casou-se com Anne Henry em 1958. Até 1960, as atribuições da Fundação Thiers impedem-no de se dedicar com mais afinco a suas próprias pesquisas. A partir de 1960, torna-se professor titular da Cadeira de Filosofia da Universidade de Paul Valéry em Montpellier, preferida à Sorbonne por ser distante da agitação cosmopolita com seus modismos filosóficos e de ideologias dominantes. Isso lhe dá condições de aprofundar suas próprias reflexões e escrever textos significativos que as explanem. Mantém-se nesse posto até sua aposentadoria, em 1982, apesar dos convites quase anuais de mudar-se para a Sorbonne. Lá, torna-se professor convidado, bem como da École Normale Supérieure de Paris, da Universidade Católica de Louvain, da Universidade de Washington (Seattle) e da Universidade de Tóquio.

A relação de Henry com sua história pessoal é resumida de forma emblemática na entrevista concedida a Roland Vaschalde, que também nos dá uma ideia do seu modo de pensar:

A história de um homem, as circunstâncias que o envolvem, é outra coisa que uma espécie de máscara, mais ou menos lisonjeira, que ele mesmo e os outros estão de acordo em colocar sobre o seu rosto – ele que, no fundo, não tem rosto algum. Você observa que eu nasci em um país distante. É o que me disseram. Mas este país não é mais longe do que a Índia e a China? Para mim, eu nasci na vida, da qual ninguém ainda encontrou a fonte em algum continente. Eu não conheci meu pai – mas não está nisso a condição de todos os seres vivos? O homem do qual minha mãe falou mais tarde era capitão de longo curso, eu o vejo como um personagem de Conrad ou de Claudel. Na verdade, eu nada sabia dele. Mas eu sabia algo a mais sobre a criança que passou seus primeiros anos ali? Nós vivemos em um eterno presente que nunca nos abandona. O que permanece fora dele está separado de nós por um abismo. E isso porque o tempo é um meio de irrealidade absoluta. Eu partilho da opinião do Mestre Eckhart: “O que se passou ontem está tão longe de mim quanto o que se passou há dez mil anos” (Henry, 2007).

Michel Henry morre de câncer, em Albi, França, a 3 de julho de 2002. Em 2006, sua esposa doa à Universidade Católica de Louvain seus arquivos filosóficos e literários. O Fonds d’archives Michel Henry, dirigido pelo Prof. Dr. Jean Leclercq, constitui-se em núcleo de investigação, publicação e divulgação de sua obra.

 

(Fonte: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1809-68672012000100002 – ISSN 1809-6867 – vol.18 no.1 Goiânia jun. 2012)

 

 

 

 

 

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