Máximo Gorki, autor russo que retratou a sociedade do país em romances e peças de teatro

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Maxim Gorki, um escritor sem medo de palavras fortes

O autor russo que retratou a sociedade do país em romances e peças de teatro. No entanto, a amizade com Lênin e a nomeação como escritor do Estado arranharam sua reputação póstuma.

 

Máximo Gorki

Escritor Maxim Gorki num trem-leito em 1929 (Foto: Getty Images / AFP)

 

A mãeOs veranistas  ou A vida de Klim Samgin contam entre os romances mais famosos de Maxim Gorki; peças de teatro como O submundo, Pequeno-burgueses  ou Os filhos do Sol, são encenadas em palcos do mundo inteiro.

Alexei Maximovich Peshkov (1868-1936) era de origem pobre, autodidata e escrevia sob o pseudônimo que, em russo, significa “o amargo”. Suas incontáveis narrativas descrevem a vida na Rússia pré e pós-revolucionária.

Knigge não é apenas um conhecedor, mas um apaixonado por Gorki. O que o fascina em particular é a riqueza linguística do autor, cujo trabalho contempla como se fosse uma “galeria de retratos dos russos”. Gorki, o admirador do ser humano, o observador astuto e preciso, com um talento ficcional no mesmo nível de Thomas Mann: O Gorki desconhecido (Der unbekannte Gorki) é o nome do blog que Knigge dedica ao russo desde 2006.

 

Máximo Gorki

Objetos pessoais do autor no Museu Maxim Gorki, em Moscou (Foto: Picture Alliance / DIREITOS RESERVADOS)

 

Poeta da Revolução?

 

Os 150 anos de nascimento de Gorki e a recente eleição presidencial na Rússia coincidiram quase exatamente por estes dias. Para Knigge, não é coincidência, pois o “previsível resultado de 77% para Putin e a encenação eleitoral de caráter folclórico” desencadearam as velhas perguntas de sempre.

“Por que, um século após a queda dos czares, os russos ainda pensam e sentem de forma monarquista e patriarcal? Por que ‘liberdade’ e ‘democracia’ são, na Rússia de hoje, uma espécie de palavrão?”, indaga em seu blog.

Certo está que a verdadeira imagem de Gorki se forma nos olhos de quem vê. O autor de O canto do petrel, de 1901, escrito após uma demonstração estudantil brutalmente reprimida em São Petersburgo, seria mesmo o “Poeta da Revolução”? Seria coincidência o fato de a tempestade, anunciada pelo pássaro do título com “o poder da ira, a chama da paixão e a certeza da vitória”, ter sido recitada em reuniões revolucionárias?

 

 

Em 1932 a cidade de Nijny Novgorod foi rebatizada em homenagem a seu filho mais ilustre, Gorki (Foto: DIREITOS RESERVADOS)

 

Escritor proletário

 

A Maxim Gorki, nascido em 28 de março de 1868, nunca faltaram palavras fortes. Não em sua obra literária – quer nas primeiras peças teatrais de crítica social, que o tornaram tão popular, quer no romance A mãe, de 1907, que se tornaria um clássico da literatura soviética, pois o herói é um operário de fábrica e, portanto, um verdadeiro proletário. E tampouco em sua amizade com o herói da Revolução Russa Vladimir Lênin.

Apreciação literária e apropriação política se confundem no Império Soviético. Em 22 de outubro de 1927, quando a Academia Comunista decidiu reconhecer Gorki como “escritor proletário”, abriu-se para o autor uma era de honrarias: ele recebeu a Ordem de Lênin, maior honra da União Soviética, tornou-se membro do Comitê Central do Partido Comunista.

Seu aniversário de 60 anos foi festejado em todo o país, e numerosas instituições, batizadas em sua homenagem. Até sua cidade natal, Níjni Novgorod, mudou de nome para Gorki em 1932, permanecendo assim até 1990.

 

 

Papo entre revolucionários: ditador Josef Stalin (esq.) e escritor Maxim Gorki (Foto: DIREITOS RESERVADOS)

 

 

Honras estatais ambivalentes

 

As atenções se concentram sobretudo naqueles elementos da obra de Gorki que se enquadram nos cânones do realismo soviético. Será que A mãe  serve como modelo para a nova literatura soviética?

“A elevação ao posto de poeta do Estado soviético prejudicou terrivelmente Gorki e sua reputação “, avalia Knigge. “O estado soviético fez dele um soldado partidário. Maxim Gorki, porém, jamais foi stalinista!” Certo está que, após a Revolução, o relacionamento de Gorki com os poderosos fica cheio de contradições.

Em seus Pensamentos anacrônicos sobre cultura e revolução, publicados no jornal Novaia Jizn  entre 1917 e 1918, por exemplo, ele ainda se posiciona decididamente contra os horrores da Revolução de Outubro e critica Lênin. Mais tarde, porém, dá uma guinada em direção à linha bolchevique: com sua reportagem amenizada sobre o Gulag no Mar Branco, como lugar onde “vasos de flores são colocados nas janelas das barracas”, Gorki se revela ingênuo.

Ao fim, torna-se uma figura de proa de Josef Stalin e objeto de um desmedido culto à personalidade. Gorki teve que passar muitos anos no exterior, antes de morrer em Moscou em 18 de junho de 1936. Rumores sobre sua morte se proliferam até hoje: teria Stalin mandado assassiná-lo?

Seja como for, o Grande Terror – no qual, estima-se, cerca de 1,5 milhão morreram por ordens de Stalin – ele não presenciou. Quando a União Soviética entrou em colapso em 1991, o escritor do Estado também caiu do pedestal. E hoje não há dúvidas: há que se separar o escritor Gorki o máximo possível do político Gorki.

“Gorki é cheio de contradições e clichês”, afirma Armin Knigge, professor emérito de filologia eslava. “Não é um clássico como Dostoiévski, mas, ainda sim, um grande da literatura mundial.”

(Fonte: Deutsche Welle – NOTÍCIAS – LITERATURA / Por Stefan Dege – 28.03.2018)

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