Mary Gladys Smith, lendária atriz mais conhecida pelo nome artístico de Mary Pickford.

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1930 – a estrela Mary Pickford fez um procedimento estético que a impediu de sorrir na época.

Gladys Marie Smith, popularmente conhecida pelo nome artístico de Mary Pickford (Toronto, 8 de abril de 1893 – Santa Mônica, Califórnia, 29 de maio de 1979), lendária atriz de cinema mudo, lembrada como a namorada da América.
Em 1933, quando o monumental prestígio de Mary Pickford registrou os primeiros, discretos sinais de abalo, ela não teve dúvidas: encerrou sua carreira. Em meio a um clima de comoção geral, ela, então com quarenta anos de idade, justificou-se dizendo que não queria desfazer na memória dos fãs a terna imagem da mocinha de cachinhos dourados e olhar ingênuo que conquistara o coração das plateias cinematográficas do mundo todo desde sua primeira aparição nas telas, em 1909. E foi justamente em busca de registros dessa imagem tão querida que os jornais passaram a vasculhar seus arquivos desde o dia 29 de maio de 1979, quando Mary Pickford, até hoje lembrada como “a namorada da América”, morreu num hospital da Califórnia, aos 86 anos, de um ataque cardíaco.

Uma das primeiras figuras do cinema a se beneficiar do impulso promocional gerado pelo star system, Mary Pickford, na vida real e ao longo dos quase 200 filmes que fez, foi a própria materialização do “sonho americano”: alguém que, exclusivamente às custas do próprio talento e decisão, supera todos os obstáculos para ascender da adversidade à vitória, e da miséria à fortuna.

Em meio à gesticulação exacerbada que caracterizou o cinema mudo, ela conseguiu sobressair exibindo um estilo extremamente comedido: vinda de uma família paupérrima, foi a primeira estrela a receber salários acima dos 1 000 dólares – e, ao morrer, deixou ao marido Charles “Buddy” Rogers e a dois filhos adotivos uma herança avaliada em torno de 50 milhões de dólares.

TALENTO EM LEILÃO – Mary Pickford, cujo verdadeiro nome era Mary Gladys Smith, nasceu em Toronto, no Canadá, em abril de 1893, e já aos 5 anos estreava nos palcos, para ajudar a mãe que acabara de enviuvar. A peça era “The Silver King” e com ela Mary excursionou até os Estados Unidos. Lá, após um relativo sucesso na Broadway, e após adotar o sobrenome Pickford (de seu avô materno), a jovem Mary, instigada pela mãe, foi tentar a sorte no cinema – uma arte até então desprezada pelos atores teatrais. Por seu primeiro filme, “The Violin Maker of Cremona”, sob a direção de D. W. Griffith, recebeu modestos 10 dólares diários. Três anos e alguns filmes depois, porém, o sucesso que obteve daria origem a um verdadeiro leilão em torno de seu contrato.

O vencedor foi o produtor Carl Lemmle, com uma oferta de 175 dólares semanais – mas tanto ele como sua atriz tiveram que passar algum tempo em Cuba, até que esfriassem as reações dos poderosos rivais derrotados. Só então Mary fez seu primeiro filme para Lemmle – ao lado de Owen Moore, um ator alcoólatra, com quem se casaria em 1910, numa união tormentosa e de pouca duração. A separação foi um dos grandes abalos na vida de Mary, que inclusive só obteve o divórcio depois de pagar vultuosa soma ao seu perturbado marido.

Mas dinherio não era problema. Em 1912, Adolph Zukor reabria o leilão, obtendo a exclusividade do trabalho de Mary Pickford por 1 000 dólares semanais – quantia que, em 1916, já havia sido multiplicada por quatro.

Sem nada da ingenuidade que aparentava na tela, em 1919 Mary resolveu explorar melhor os frutos do seu sucesso. Fundou então sua própria produtora e distribuidora, a United Artists, associando-se a Griffith, Charles Chaplin e Doglas Fairbanks – ator com quem se casou no ano seguinte, em meio a pompas quase reais. O casal estabeleceu-se em Pickfair, uma suntuosa propriedade de 24 000 metros quadrados, e que foi frequentada pela nata da sociedade da época até 1936, quando o casal se separou.

ÚLTIMA IMAGEM – A essa altura, Mary Pickford já abandonara o trabalho à frente das câmaras. Ganhara um Oscar, em 1929, ao protagonizar “Coquette”, seu primeiro filme falado, mas percebera a progressiva reatração do público à medida que assumia papéis mais compatíveis com sua idade real. Não se afastou do cinema, porém.

Aproveitando sua longa experiência, ocupou com mão segura a vice-presidência da United entre 1935 e 1937, ano em que se casou com o ex-maestro e ex-ator Charles “Buddy” Rogers. Ao lado dele, sempre morando em Pickfair, Mary deu sequência a suas atividades empresariais produzindo com sucesso vários filmes, além de programas de rádio e televisão.

Nos últimos anos, no entanto, pouco se ouviu falar de Mary Pickford. E em 1976, quando Hollywood decidiu homenageá-la com um Oscar especial por sua contribuição à indústria cinematográfica, ela não tinha mais condições de comparecer à cerimônias. Então, ao ser anunciado o seu nome, exibiu-se uma reportagem filmada em Pickfair, na qual a ex-menina dos cachinhos dourados aparecia pela última vez aos olhos do público exatamente como não gostaria de ser lembrada: cabelos brancos, olhar distante, presa numa cadeira de rodas, as mãos trêmulas, mal conseguindo segurar a estatueta dourada que lhe entregavam.

(Fonte: Veja, 6 de junho de 1979 – Edição n° 561 – Pág; 120)

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