Mário Alves, jornalista, líder e um dos principais fundadores do PCBR.

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Mário Alves (Sento Sé, 14 de junho de 1923 – Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 1970), líder e um dos fundadores do PCBR, morre no dia 16 de janeiro de 1970, sob tortura no primeiro Batalhão da Polícia do Exército.

Mário Alves foi um dos principais fundadores dirigentes da luta contra a ditadura militar. Nasceu na Bahia em 14 de junho de 1923 e morreu, sob tortura, em 16 de janeiro de 1970. Secretário-Geral do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR).

Nasceu em 14 de fevereiro de 1923 em Santa Sé, Estado da Bahia, filho de Romualdo Leal Vieira e Julieta Alves de Sousa Vieira.

Desaparecido aos 47 anos, no Rio de Janeiro.

Jornalista, tendo dirigido os jornais Novos Rumos e Voz Operária. Fez o curso secundário em Salvador e foi um dos fundadores da União dos Estudantes da Bahia. Participou da UNE. Ingressou no PCB e foi um dos líderes do movimento de massas de 1942 em Salvador, contra o nazi-fascismo.

Em 1945 passou a integrar o Comitê Estadual do PCB na Bahia e em 1957, foi eleito para o Comitê Central.

Com o golpe de 1964, tornou-se um dos líderes da corrente de esquerda dentro do PCB. Atuando nas difíceis condições de clandestinidade, foi preso, em julho de 1964, no Rio de Janeiro, sendo libertado somente um ano depois por concessão de habeas-corpus.

Por sua oposição à orientação predominante na direção do PCB, Mário Alves foi afastado da Comissão Executiva e deslocado para atuar em Belo Horizonte, onde permaneceu até 1967. Já, em 20 de maio de 1966, um ato do Presidente Castelo Branco cassa seus direitos políticos por 10 anos. Em 6 de junho do mesmo ano, foi julgado à revelia no chamado processo das “Cadernetas de Prestes” e condenado a 7 anos de prisão, pela 2ª Auditoria Militar de São Paulo.

A luta interna no PCB também se acirrava e, no VI Congresso, realizado em 1967, Mário Alves, juntamente com Carlos Marighella, Joaquim Câmara Ferreira, Jacob Gorender, Apolônio de Carvalho, Manuel Jover Telles e Miguel Batista dos Santos foram expulsos.

Em 1968, junto com Jacob Gorender, Apolônio de Carvalho e outros, Mário Alves fundou o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), continuando a militar clandestinamente.

Em 16 de janeiro de 1970, entre 19:30 e 20:00 horas, saiu de casa para voltar dentro de pouco tempo. Foi preso pelo DOI/CODI-RJ, para onde foi levado. Na madrugada do mesmo dia, Mário Alves morreu sob torturas.

Mário foi visto sangrando, abundantemente, na sala de tortura, por vários presos políticos que se encontravam no DOI/CODI, dentre os quais, René Carvalho, Antônio Carlos de Carvalho e o advogado Raimundo Teixeira Mendes .

Os soldados que serviam no PIC (Pelotão de lnvestigações Criminais), onde está situado o DOI-CODI, foram retirados do local, para que o corpo de Mário pudesse ser removido sem testemunhas.

Apesar das evidências, os órgãos de segurança negam a prisão de Mário.

Em 01 de dezembro de 1987 foi julgada a apelação civil n° 75.601 (RJ), registro 2678420, onde sua mulher e filha conseguiram da União a responsabilidade civil por sua prisão, morte e danos morais. Foi o 1° caso de desaparecido político em que a União reconheceu sua responsabilidade. Foram advogadas as Dras. Francisca Abigail Barreto Paranhos e Ana Maria Müller.

O Relatório do Ministério do Exército diz que “foi condenado em 06/06/66 a 7 anos de reclusão e em 17/11/73, a três anos, ambos a revelia.”

Dilma, companheira de Mário Alves, enviou uma carta à esposa do cônsul brasileiro, seqüestrado no Uruguai. Destacamos aqui alguns trechos:

“Todos conhecem seu sofrimento, sua angústia. A imprensa falada e escrita focaliza diariamente o seu drama. Mas do meu sofrimento, da minha angústia, ninguém fala. Choro sozinha. Não tenho os seus recursos para me fazer ouvir, para dizer também que “tenho o coração partido”, que quero meu marido de volta. O seu marido está vivo, bem tratado, vai voltar. O meu foi trucidado, morto sob tortura, pelo 1° Exército, foi executado sem processo, sem julgamento. Reclamo seu corpo. Nem a Comissão de Direitos da Pessoa Humana me atendeu. Não sei o que fizeram dele, onde o jogaram.

Ele era Mário Alves de Souza Vieira, jornalista. Foi preso no dia 16 de janeiro do corrente, na Guanabara, pela polícia do 1° Exército e levado para o quartel da P.E., sendo espancado barbaramente de noite, empalado com um cassetete dentado, o corpo todo esfolado por escova de arame, por se recusar a prestar informações exigidas pelos torturadores do 1° Exército e do DOPS. Alguns presos, levados à sala de torturas para limpar o chão sujo de sangue e de fezes, viram meu marido moribundo, sangrando pela boca e pelo nariz, nu, jogado no chão, arquejante, pedindo água, e os militares torturadores em volta, rindo, não permitindo que lhe fosse prestado nenhum socorro.

Sei que a sra. não tem condições de avaliar meu sofrimento, porque a dor de cada um é sempre maior que a dos outros. Mas espero que compreenda que as condições que levaram meu marido a ser torturado até a morte e o seu seqüestrado são as mesmas; que é importante saber que a violência-fome, violência-miséria, violência-opressão, violência-atraso, violência-terrorismo, violência-guerrilha; que é muito importante saber quem pratica a violência – os que criam a miséria ou os que lutam contra ela”.

Do livro “Desaparecidos Políticos”:

“– Não dormíamos, acompanhando os interrogatórios e sofrendo cada uma das torturas que sabíamos estarem sendo aplicadas – e que cada um de nós conhecia de perto – na cela ao lado. Não demorou muito para termos certeza que a vítima era Mário Alves…

– Diante da recusa de Mário a atender às exigências dos torturadores e das formas cada vez mais violentas de tortura a que foi submetido (afogamentos, empalamento etc.) temi por sua vida. Alguém por ali havia dito que ele já estava com 56 anos de idade e tinha pouca saúde.

– De manhã, bem cedo, o cabo da guarda chamou Manoel João, Augusto e eu para fazer a faxina da sala ao lado. A sala estava enlameada, cheia de água e , no chão, deitada, estava uma pessoa totalmente machucada, a pele bem ferida, cheia de hematomas… era um rosto magro com um pequeno bigode… era Mário Alves.”

Depoimento do advogado Raimundo Teixeira Mendes, também detido na época na P.E., do mesmo livro:

– Cerca de 20:30 horas do dia 16 de junho de 1970, sexta-feira… o DOI-CODI/RJ… acabava de prender o Jornalista Mário Alves de Sousa Vieira…conduzido para a cela que ficava ao lado…foi submetido a interrogatório, findo o qual iniciou-se a sessão de tortura que acabou às 5 horas.

– Depois de violentamente espancado… torturado com choques elétricos, no pau de arara, afogamentos, etc. Mário Alves manteve a posição de nada responder a seus torturadores… então introduziram um cassetete de madeira com estrias, que provocou a perfuração de seus intestinos e a hemorragia que determinou a sua morte.”

Mário Alves

(Fonte: www.cecac.org.br)
(Fonte: Zero Hora – ANO 46 – N.° 16.206 – 16/01/10 – Almanaque Gaúcho/ Por Olyr Zavaschi – Pág; 56)
(Fonte: www.torturanuncamais-rj.org.br)
(Fonte: www.imapelotas.blogspot.com/p/mario-alves.html)

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