Maria Helena Vieira da Silva, pintora e ilustradora, a maior artista plástica portuguesa do séc XX

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A maior artista plástica portuguesa do século XX

Vieira da Silva, a maior artista plástica portuguesa do século XX (Foto: experimentadesign/Divulgação)

Vieira da Silva, a maior artista plástica portuguesa do século XX (Foto: experimentadesign/Divulgação)

Maria Helena Vieira da Silva (Lisboa, 13 de junho de 1908 – Paris, 6 de março de 1992), pintora e ilustradora portuguesa radicada na França desde 1947. Considerada a maior artista plástica portuguesa do século XX, Vieira da Silva começou com o figurativismo, nos anos 40, passando para o construtivismo e o abstracionismo lírico pelo qual ficou conhecida.

Ela naturalizou-se francesa em 1956, mas seus ex-patrícios recusaram-se a retirar sua cidadania anterior, uma das grandes glórias da arte lusitana, uma pintora que, quer mergulhe na abstração lírica, quer navegue nas águas do construtivismo, jamais perdeu o rumo.

Foram raras as oportunidades de se ver no Brasil uma mostra significativa dos trabalhos da artista, exceto em 1961, quando recebeu o grande prêmio da VI Bienal Internacional de São Paulo.

PREOCUPAÇÃO CONSTRUTIVA – Dos trabalhos figurativos faz parte Lisbonne, de 1940, em que traços fortes limitam os prédios, sugerindo as grades que iriam aparecer em trabalhos posteriores. Os trechos de paisagens parecem estar guardados em compartimentos estanques cujo agrupamento recria a cidade retratada.

Em outra paisagem, Bahia Imaginée, de 1946, mostra o casario de Salvador organizado numa composição quase abstrata. A perspectiva é deformada e, no alto do quadro, o grupo central de casas já está reduzido a um conjunto de traços e cores, com ênfase no azul-caipira das casas coloniais. O que era detalhe em 1946 vai tomando um espaço cada vez maior na tela. Em New Amsterdam II, de 1970, a paisagem está concentrada na sua estrutura essencial.

Nessas experiências, fica evidente uma preocupação construtivista que a própria artista creditava à influência do pintor uruguaio Torres Garcia (1874-1949), cujas obras descobrira em Paris, em 1932. Essa admiração só aumentou quando, na década de 40, o pintor, já de volta ao Uruguai, recebeu fotos de pinturas de Vieira da Silva e escreveu um texto inspirado em uma das telas de sua admiradora.

O rigor construtivo é um dos eixos ao longo dos quais se desenvolve o trabalho da pintora. Nele, os espaços são delimitados por uma espécie de grade, já sugerida nas paisagens da década de 40. Marcante em alguns quadros, diluída em outros, ela está sempre presente. Preenchendo os espaços, massas de cores fortes. É ao redor desse eixo que se agrupa a série de bibliotecas criadas por Viera da Silva.

 

TRABALHO MINUCIOSO – O outro eixo ao longo da qual viaja a obra de Vieira da Silva é a abstração lírica. Massas de cor intercalam-se no espaço. Horizontes infinitos criam climas de poesia. A aparente informalidade desses trabalhos, como em Bataille des Rougues et des Bleus, de 1953, porém, é apenas um disfarce.

Atrás do ritmo festivo e das transparências vertiginosas está a mesma rigorosa construção. As perspectivas alucinantes e as estruturas arquitetônicas que sugerem labirintos são regidas pelas mesmas normas estritas. Essas características influenciaram pintores como o cearense Antonio Bandeira – em suas luminosas cidades abstratas – e formam a marca registrada do talento de Vieira da Silva.

Sua influência na arte brasileira não se limita a Bandeira. Em Paris, onde Vieira da Silva casou-se, em 1930, com o pintor, gravurista, ilustrador, desenhista e professor húngaro Árpád Szenes (1897-1985), que era judeu. Fugindo da perseguição nazista, o casal, depois de curta temporada lisboeta, aportou no Rio de Janeiro, onde viveu sete anos, a partir de 1940.

Arpad Szenes e Vieira da Silva (Foto: Jeanne Bucher Jaeger - Art Gallery Paris)

Arpad Szenes e Vieira da Silva (Foto: Jeanne Bucher Jaeger – Art Gallery Paris)

Logo os dois artistas se tornaram amigos de poetas como Murilo Mendes e Cecília Meireles, que apresentaram o casal ao meio intelectual carioca. Em sua temporada brasileira Vieira da Silva fez três exposições – duas no Rio de Janeiro e uma em Belo Horizonte -, capas de livro para Cecília Meireles e painéis de cerâmica de grandes dimensões.

Enquanto isso, Szenes fez retratos, ilustrou livros e, mais importante, abriu um estúdio que logo se tornaria um centro de discussão de arte. Por lá passaram quase 200 jovens artistas, entre eles o futuro diretor de teatro Martim Gonçalves (1919-1973) e o pintor Carlos Scliar.

A inquietação da artista, que tantos frutos produziu durante sua temporada brasileira, não lhe permitiu dedicação exclusiva à pintura. Desenhos, gravuras, projetos de vitrais e tapeçarias fluíram de suas mãos sempre ocupadas. Muitas das tapeçarias tecidas a partir dos seus projetos fazem parte do acervo do Estado francês.

Sua atividade no campo da ilustração é uma constante e vai desde gravuras para ilustrar uma série de poemas de René Char a retratos de André Malraux, para um livro sobre o grande intelectual francês. De passagem, em 1986, criou três gravuras sob encomenda do presidente Léopold Senghor (1906-2001), para um trabalho dedicado à memória de seu filho.

Recolhida ao seu estúdio, sozinha desde a morte de Szenes em janeiro de 1985, Vieira da Silva, protegida por amigos e admiradores fiéis, continuou seu trabalho minucioso, revendo o mundo através de seu talento.

Morou no Rio de Janeiro entre 1940 e 1947 e influenciou uma série de artistas nacionais.

Em 1989, durante XX Bienal de São Paulo, sua tela Biblioteca foi roubada e jamais recuperada.

Vieira da Silva morreu dia 6 de março de 1992, aos 83 anos, de câncer, em Paris.

(Fonte: Veja, 11 de março de 1992 -– ANO 25 – Nº 11 – Edição 1225 -– Datas -– Pág; 72)

(Fonte: Veja, 8 de abril de 1987 -– Edição 970 –- Arte/ Por João Candido Galvão -– Pág: 128/129)

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