Manuel do Nascimento Fernandes Távora, dos últimos políticos brasileiros notáveis na República Velha

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Manuel do Nascimento Fernandes Távora (1877-1973), médico, professor, farmacêutico e jornalista, um dos últimos políticos brasileiros notáveis surgidos na República Velha. Ex-deputado, ex-senador e ex-interventor estadual no Ceará. Durante sessenta anos, influenciou a política no Ceará, fundou partidos e jornais, conspirou para derrubar e erguer governos, e muitas vezes tornou-se vítima de circunstâncias que, na verdade, o fazem parecido com os políticos brasileiros de todos os tempos. Ao retirar-se da vida pública em 1963, depois de doze anos como senador, Fernandes Távora, pai do senador Virgílio Távora e irmão dos marechais Juarez e Fernando Távora, disse ao plenário do Senado: “Cedo ouvi o apelo da liberdade e a nenhum dos movimentos realizados no país, em sua defesa, deixei de emprestar meu apoio”. Távora nasceu em Jaguaribe, no dia 11 de março de 1877, no Ceará.

De fato, em 1903, recém-formado em medicina, depois de defender uma curiosa tese sobre telepatia, Fernandes Távora ajudou a mobilizar os 1 800 homens que tomaram parte na rebelião para derrubar o prefeito de Crato. Depois de trabalhar como médico no rio Amazonas, Távora viveria sua primeira aventura de político eleito e derrubado em menos de um ano. Em 1913, elegeu-se deputado estadual, mas a Assembleia Legislativa foi dissolvida quando o presidente do Estado, Franco Rabelo, foi deposto por uma rebelião.

Ao perder pela segunda vez um mandato que havia ganho pelo voto popular, em 1927, impugnado pela comissão que deveria reconhecer sua eleição para deputado federal, Fernandes Távora já tinha 50 anos e certamente poucas ilusões com as prendas da política. Dois anos antes, seu jornal “A Tribuna” faleceu sob o peso do estado de sítio, e em 1924 perdeu seu irmão Joaquim, morto na revolução em São Paulo.

Bandeiras políticas – Para seus três filhos e quatro irmãos vivos, o velho cacique deixa algumas propriedades e lições de comportamento político. Por ver nos municípios a base de toda carreira política, tornou-se conhecido por defender uma distribuição de renda própria para as cidades do interior. Para quem foi vítima tantas vezes das surpresas que a República Velha reservava para os que confiavam na honestidade das urnas, transformou um vago “aprimoramento eleitoral” numa vigorosa bandeira até hoje não reerguida. E de méritos reconhecidos parece ser a campanha que moveu junto com Artur Bernardes contra a Itabira Iron Co., que traria ao mundo uma festejada filha, a Companhia Vale do Rio Doce.

Contudo, nem sempre o velho médico, um dos fundadores da histórica UDN, pode ser vitorioso. Em seu próprio Estado enfrentava a oposição da família do atual governador César Cals e em 1958 seu filho Virgílio foi derrotado na campanha para o governo estadual com um lema maldoso de Parsifal Barroso, o vitorioso: “Meu avô já dizia, havendo outro, não vote em Távora”.

Mas, ao longo de sua carreira, nenhuma acusação de corrupção foi feita ao feiticeiro da UDN cearense, e seus oito meses como interventor da Revolução de 1930 estão detalhadamente documentados em livro de sua autoria. Por quarenta anos Távora morou no mesmo casarão na rua Conde d’Eu, em Fortaleza, sempre com as portas fechadas. Ultimamente, apenas trocava cartas com os irmãos Juarez e Fernando, e na véspera da morte, acabara de ler, com a ajuda de uma poderosa lupa, as memórias do general De Gaulle. Távora morreu em 23 de setembro de 1973, aos 96 anos, em Fortaleza.

(Fonte: Veja, 3 de outubro, 1973 – Edição n.° 265 – Memória – Ceará/ O primeiro Távora – Pág; 28)

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