Louise Weiss (1893-1983), escritora, jornalista, feminista e decana do Parlamento Europeu

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Presidiu a pioneira Associação de Defesa dos Direitos da Mulher

Louise Weiss (1893-1983), escritora, jornalista, feminista e decana do Parlamento Europeu, do qual foi eleita presidente quando tinha 86 anos. Como feminista, presidiu na década de 30 a pioneira Associação de Defesa dos Direitos da Mulher. Entre seus livros, destacam-se A Marselhesa e A Viagem Encantada. Louise morreu no dia 26 de maio de 1983, aos 90 anos, em Paris, França.
(Fonte: Veja, 1° de junho, 1983 – Edição n° 769 – Datas – Pág; 95)

Louise Weiss nasceu em Arras, a 25 de Janeiro de 1893, filha de uma família rica que contava na sua árvore genealógica com um prestigiado inventor de lentes e uma mãe que, embora conservadora nas tradições, se não coibira, em 1894, de chamar em público “assassino” a um general anti-Dreyfus.

Filha de um engenheiro de minas, Louise foi educada num meio republicano, laico, burguês e culto, tendo sido uma das primeiras alunas do liceu Molière, frequentado maioritariamente por rapazes. Os pais tiveram de se render à evidência de terem uma filha muito melhor aluna que os filhos, rapazes. e cedo perceberam que esta não tencionava, de modo algum ser dona de casa e mãe de família. O pai de Louise dizia que não queria ter uma filha “sábia”, mas teve de admitir a sua superior inteligência, qualidades de trabalho e precoce consciência política.

Para fazer a vontade ao pai, Louise frequentou durante um ano uma escola alemã destinada a educar futuras donas de casa, antes de ingressar na Sorbonne. Com apenas 21 anos, já licenciada em Letras, foi convidada para assistente universitária.

Estava-se nas vésperas da I Grande Guerra (1914-1918). Como muitíssimas outras raparigas, foi enfermeira durante a guerra, facto que a marcou profundamente, como relata nas suas “Memórias”. Era trágico ver massacrar e desaparecer amigos e colegas da sua idade.

Para obter independência económica e poder sair de casa dos pais, Louise estreia-se no jornalismo, aos 22 anos, escrevendo no “Radical”, onde assinou como pseudónimo de Louis Lefranc. Em 1918, criou o seu próprio jornal, “L’Europe Nouvelle”, que dirigiu até 1984.

Assistiu, em 1918, à assinatura do Tratado de Versalhes, que pôs fim 1ª Guerra Mundial, com a consciência de que os vencedores se iriam digladiar em breve, como aconteceu. Vai abraçar apaixonadamente a causa dos checos emigrados que se queriam libertar do jugo do império austro-húngaro e apaixona-se pelo checo Stéfanik.

Como jornalista do “Petit Parisien” faz reportagens pela Europa. Em 1919 está em Praga, segue para Viena e Budapeste e, dois anos depois, visita Moscovo, onde se encontra com Alexandra Kollontai (1872-1952), revolucionária e feminista russa. Critica os bolchevistas e a sua actuação, ao presenciar a fome, a miséria e a incoerência dos dirigentes comunistas.

Casa com trinta e nove anos “porque a sociedade da época não tolerava mulheres solteiras e sós”. O marido era um belo arquitecto e músico de talento, com antepassados franceses e mãe siberiana, que gostava muito da nora, mas Louise Weias depressa percebeu que o marido vivia num mundo imaginário, projectando catedrais, estádios e teatros que nunca ninguém lhe encomendou e, embora Louise reconheça ele a fez “passar agradáveis momentos”, acabou por pôr fim à relação. “O divórcio dava-me um estatuto civil que me facilitava a existência e me abria possibilidades sentimentais que sem ter passado por essa etapa eu não teria encontrado. Não paguei por isso um preço demasiado elevado”, diria mais tarde.

Fundou em 1934 La Femme Nouvelle, associação para a igualdade dos direitos cívicos entre franceses e francesas com o fim de obter legislação para que as mulheres tivessem direito ao voto. A inauguração da sua sede foi um acontecimento social, apesar da chuva. Foi a 6 de Outubro de 1934, em plenos Campos Elísios, em Paris. Na montra da frente afixou o mapa do mundo, onde estavam a todos os países em que as mulheres já votavam, acompanhado de uma legenda bem visível: “As americanas votam, as inglesas votam, as alemãs votam, as austríacas votam, as checas, as húngaras, as chinesas votam. As francesas não votam.” À França, esse direito só chegará em 1944.

Quando Léon Blum (1872-1950), fundador com Jean Jaurès do Partido Socialista Francês, assumiu o poder, em 1936, como presidente do conselho de ministros do governo da Frente Popular convidou Louise Weiss para presidir a um dos ministérios. Ela recusou, dizendo: “Não aceito ser nomeada, quero ser eleita. O seu combate não era por um favor político. Desse mesmo ministério viriam a fazer parte três mulheres ligadas a movimentos partidários.

Louise Weiss convida várias mulheres dirigentes de outras organizações para se unirem na mesma jornada, como Cécile Brunschvicg, Maria Vérona e a sua inseparável amiga Jane Nemo, e começa a contar com apoio material de pequenos subscritores de ambos os sexos que enviam pelo correio donativos para apoiar a sua causa, a causa das mulheres.

Durante a II Guerra Mundial é secretária do comité de refugiados, desenvolvendo uma intensa actividade, sem nunca deixar de ser jornalista. De 1942 a 1944, dirige o jornal clandestino Nouvelle République.

São conhecidas as suas acções de rua em prol do voto das mulheres e a sua elegância a vestir-se, que ostentava como arma contra aqueles que confundiam feminismo com desalinho nas roupas e aspecto másculo, como acontecera com algumas sufragistas da primeira geração.

Para que o feminismo triunfasse, pensava Louise Weiss, era necessário “lançá-lo na arena da actualidade”, isto é, envolver em espectáculo as acções públicas de reivindicação pelo voto, para que não passasse despercebido dos meios de comunicação e para chegar ao conhecimento de todos os cidadãos. Invariavelmente, para as suas deslocações eram convocadas equipas que filmavas os comícios e, mais tarde, os passavam nas actualidades dos cinemas.

Com mais de cinquenta anos, resolveu ‘vagabundear’ pelo mundo, como conta em “Memórias de Uma Europeia”, para conhecer como viviam e pensavam as mulheres dos outras continentes. Durante vinte e cinco anos visita o Extremo Oriente, a Ásia Menor, a África, o Alasca, a China, etc., escrevendo e filmando. Fundou em 1970, com Gaston Bouthoul, o Instituto de Polemologia e, nesse ano, em Estrasburgo, criou também o Instituto das Ciências da Paz. Em 1975, é admitida na Academia Francesa. Em 1979, concorreu às eleições europeias e obteve um lugar no Parlamento Europeu em Estrasburgo, no Grupo de Democratas Europeus pelo Progresso, em 7 de Julho, na mesma data em que Simone Veil é eleita presidente desse Parlamento. Helmut Schmidt, então Chanceler, chamou-lhe “A avó da Europa”, expressão de que Louise Weiss não gostava nada, mas em que reconhecia a ternura e admiração que todos os europeus conscientes tinham por uma “senhora de idade”. Permaneceu no posto de deputada europeia até ao dia da sua morte.

Começou a escrever as suas extensas memórias em 1968, um total de oito volumes onde recorda, numa escrita tão cativante quanto acessível, toda a sua vida e luta pelos direitos das mulheres e pela unidade europeia.

Morreu, com 90 anos, a 26 de Maio de 1983, tendo-lhe sido prestada uma homenagem a nível europeu com toda a solenidade. Ficou conhecida como «A decana das feministas europeias” e, com o seu nome, foi criada posteriormente uma fundação que procura seguir e preservar os valores da unidade europeia.

(Fonte: www.leme.pt/biografias)

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