Lizabeth Scott, estrela de clássicos do gênero, foi uma das mais perigosas femme fatales do cinema noir, estrela de clássicos do gênero como “Confissão” (1947), “Estranha Fascinação” (1948) e “Cidade Negra” (1950)

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A atriz Lizabeth Scott, estrela de clássicos do gênero como “Confissão” (1947), “Estranha Fascinação” (1948) e “Cidade Negra” (1950).

A atriz Lizabeth Scott, estrela de clássicos do gênero como “Confissão” (1947), “Estranha Fascinação” (1948) e “Cidade Negra” (1950).

Lizabeth Virginia Scott (Scranton, Pensilvânia, 29 de setembro de 1922 – Los Angeles, Califórnia, 31 de janeiro de 2015), foi uma das mais perigosas femme fatales do cinema noir, estrela de clássicos do gênero como “Confissão” (1947), “Estranha Fascinação” (1948) e “Cidade Negra” (1950).

A atriz norte-americana Lizabeth Scott nasceu em 29 de setembro de 1922, na cidade de Scranton, Pensilvânia, com o nome de batismo Emma Matzo. Ela estudou atuação na escola Alvienne School of Drama em Nova York, mesmo contra a vontade dos pais. A jovem escolheu o nome artístico Elizabeth Scott e logo depois tirou a letra “E”, para ter um nome mais distinto em meio a tantas atrizes que tentavam a sorte como ela.

Amarga Ironia, com Robert Cummings, Don DeFore e Charles Drake

Amarga Ironia, com Robert Cummings, Don DeFore e Charles Drake

 

O começo da carreira foi difícil. Sem conseguir emplacar como atriz, Scott se tornou modelo da revista Harper’s Bazaar. “Eu sempre sonhei em ser uma atriz de teatro”, declarou ela, certa vez. “Nunca cogitei trabalhar no cinema. Mas como não encontrava oportunidades, percebi que seria uma boa experiência seguir em direção à Hollywood.”

Scott assinou um contrato com o produtor Hal B. Wallis (“Casablanca”) e estreou no drama romântico “Amarga Ironia” (You Came Along, 1945), no qual era disputada por nada menos que três amigos militares. Em seguida ela atou no seu primeiro filme noir, o clássico “O Tempo Não Apaga” (The Strange Love of Martha Ivers, 1946), ao lado de Barbara Stanwyck (“Pacto de Sangue”), Kirk Douglas (“Spartacus”) e Van Heflin (“Aeroporto”), verdadeiros ícones do gênero, vivendo uma mulher sedutora presa por engano.

O Tempo Não Apaga

O Tempo Não Apaga

 

A sua beleza chamava atenção. Loira, com sobrancelhas escuras, feições compenetradas e voz rouca, Scott lembrava uma combinação de duas divas do cinema noir, a provocante Lauren Bacall (“À Beira do Abismo”) e a loiraça Veronica Lake (“A Dália Azul”). Sua carreira foi marcada por essa comparação, arrastando-a para as sombras do gênero, vivendo mulheres perigosas demais para si mesmas.

Em “Confissão” (Dead Reckoning, 1947), a atriz trabalhou com o maior nome do noir, o astro Humphrey Bogart (“Relíquia Macabra”), marido de Bacall. Na trama, ele interpreta um militar veterano que investiga a morte de um amigo e acaba se envolvendo com a amante do falecido (Scott). Numa reviravolta, ela se prova mais fatal que a encomenda, tentando matá-lo num final trágico.

Confissão, com Humphrey Bogart

Confissão, com Humphrey Bogart

 

“A Filha da Pecadora” (Desert Fury, 1947) a apresentou como a filha rebelde do título, que se envolve com um ex-namorado gângster da mãe. Burt Lancaster (“A um Passo da Eternidade”) é o homem da lei apaixonado que tanta salvá-la.

Após breve respiro na comédia musical “Miragem Dourada” (Variety Girl, 1947), ela voltou ao universo sombrio em “Estranha Fascinação” (I Walk Alone, 1948), do especialista Byron Haskin, em que trabalhou novamente com Lancaster, desta vez na pele de uma cantora sensual de clube mal afamado, um tipo de personagem que reprisou em vários longas.

A Filha da Pecadora

A Filha da Pecadora

 

A atriz gostava de fazer filmes noir por representar uma transgressão em relação ao que era mostrado até então. “Eu cresci vendo filmes que eram sempre sobre um homem que se apaixona por uma mulher, eles se casam e vivem felizes para sempre”, afirmou ela. “Depois da 2ª Guerra Mundial, as produções passaram a destacar mais o lado psicológico dos personagens. Era um novo jeito de se contar uma história, o que deixava o público mais perto do realismo. O que as pessoas chamam de filme noir, eu chamo de drama psicológico. Esse tipo de longa mostra as várias facetas do ser humano.”

Em “Caminho da Tentação” (Pitfall, 1948), Scott viveu sua femme fatale mais clássica, uma modelo envolvente e perigosa que leva um pouco de excitação para a vida de um homem casado (John Powell). Mas ele não é o único que a quer. Um criminoso e um investigador de seguros também a disputam, resultado num banho de sangue.

Estranha Fascinação

Estranha Fascinação

 

Voltando a trabalhar com o diretor Byron Haskin, ela deu vida a uma mulher fria em “Lágrimas Tardias” (Too Late for Tears, 1949), que não se importa em matar dois maridos e um amante para ter uma vida financeira melhor. Sedutora e assassina, ela tem uma morte impactante, caindo da sacada de seu prédio.

Sua lista de mulheres detestáveis inclui ainda a esposa maria chuteira de Victor Mature (”O Manto Sagrado”), intérprete de um atleta em ascensão que descobre ter uma rara condição cardíaca em “Tormento de uma Glória” (Easy Living, 1949), do mestre Jacques Tourneur (“Sangue de Pantera”). E inclui até um triângulo amoroso com o marido (Robert Cummings) da própria irmã em “Amei até Morrer” (Paid in Full, 1950).

Caminho da Tentação, com Dick Powell e um ameaçador Raymond Burr

Caminho da Tentação, com Dick Powell e um ameaçador Raymond Burr

De volta ao papel de cantora sedutora, ela namorou Charlton Heston (“Ben-Hur”), que estreou como protagonista em “Cidade Negra” (Dark City, 1950), no papel de um vigarista que depena e leva um jogador de pôquer ao suicídio, apenas para atrair seu irmão vingador à Chicago.

Scott ainda estrelou o drama “A Carne e a Alma” (The Company She Keeps, 1951), como uma mulher que tenta reerguer sua vida após sair da prisão, mas logo voltou a seus hábitos, tentando enganar um milionário com o velho golpe de “O Filho Perdido” (Two of a Kind, 1951), contratando um vigarista (Edmond O’Brien) para se passar pelo filho desaparecido da vítima.

 

Lágrimas Tardias, com Arthur Kennedy

Lágrimas Tardias, com Arthur Kennedy

 

Cobiçada pelos diretores de casting, Lizabeth coestrelou “A Estrada dos Homens sem Lei” (The Racket, 1951), em que Robert Mitchum (“A Arte de Matar”) enfrentava o crime organizado, e o western “O Último Caudilho” (Red Mountain, 1951), em que Allan Ladd enfrentava índios e confederados renegados.

Mas apesar de ter marcado época em tramas tensas, ela confessou que a comédia “Morrendo de Medo” (Scared Stiff, 1953) foi um dos filmes que mais gostou de fazer. Na trama, Jerry Lewis e Dean Martin (ambos de “O Meninão”) são dois amigos que fogem após uma acusação de assassinato e vão parar numa ilha para ajudar uma mulher (Scott) a receber um castelo de herança. “Eu fiz tantos filmes noir, com temas pesados e, por isso, foi um grande prazer fazer essa comédia”, declarou ela. “Gostei de deixar o mundo sombrio e me divertir um pouco com Jerry Lewis e Dean Martin”.

Cidade Negra, com Charlton Heston

Cidade Negra, com Charlton Heston

 

A pausa foi curta. Novamente ao lado de Heston, ela estrelou “Ambição que Mata” (Bad for Each Other, 1953), como uma milionária divorciada que deixava os homens sem direção. Mas a fama de durona foi abaixo com o western “Homens Indomáveis” (Silver Lode, 1954), em que ela era surpreendida no dia de seu casamento pela chegada de um grupo de forasteiros, que acusa seu futuro marido de roubo e assassinato.

O baque da ficção foi muito menor que o impacto sofrido com uma fofoca da revista Confidential, que divulgou em 1955, com grande estardalhaço, uma reportagem que a envolvia com um grupo de prostitutas de luxo em Hollywood, além de alegar que ela era lésbica, pelo fato de nunca ter se casado, usar perfume masculino e ter poucos vestidos. Lizabeth processou a revista em US$ 2,5 milhões, mas acabou perdendo o caso. O escândalo arruinou sua carreira, coincidindo com o fim da Era de Ouro do cinema noir.

Morrendo de Medo, com Jerry Lewis e Dean Martin

Morrendo de Medo, com Jerry Lewis e Dean Martin

 

Ela ainda tentou seguir na televisão, com participações em atrações como “The Eddie Cantor Comedy Theater” e “Studio 57”. Estrelou um último noir, “O Seu Primeiro Crime” (The Weapon, 1956), mas se tratava de uma produção britânica. Quando sua vida ficou parecida com a de suas personagens, Hollywood perdeu o interesse.

Com vários telefonemas, seu agente conseguiu incluí-la num filme que nada tinha a ver com sua filmografia até então, mas poderia devolver-lhe a popularidade. Lizbeth foi escalada para o romance musical “A Mulher que Eu Amo” (Loving You, 1957), segundo longa da carreira de Elvis Presley (“Feitiço Havaiano”). Scott interpreta uma empresária do ramo musical que descobre um grande talento (Presley). Aproveitando a visibilidade, no mesmo ano a atriz lançou o disco “Lizabeth”, usando sua experiência como cantora nos diversos filmes noir em atuou.

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A Mulher que Eu Amo, com Elvis Presley

Mas sua volta por cima não aconteceu. Com a reputação arruinada e a juventude perdida, Scott foi “aposentada” por Hollywood aos 35 anos de idade. Fez só mais três participações em séries, “Adventures in Paradise”, “A Lei de Burke” (Burke’s Law) e “O Terceiro Homem” (The Third Man), entre 1960 e 1965. Após longo hiato, ela retornou ao cinema apenas para um pequeno papel em “Diário de um Gângster” (Pulp, 1972), vivendo uma ninfomaníaca numa homenagem a suas femme fatales históricas, a convite do diretor britânico Mike Hodges (“Carter – O Vingador”).

Longe das telas, Scott ainda usou sua voz marcante como locutora de comerciais. Mas, para os fãs do cinema noir, será sempre a loira perigosa demais, que apesar de todos os avisos, deixava perdidamente apaixonados o mocinho e o público. Curioso como sua fama como pecadora nas telas foi confrontada pela denúncia de que era ainda mais pecadora fora delas, e o modo como isso a levou ao ostracismo, mesmo que se tratasse de fofoca, não deixa de ecoar como as histórias sórdidas do noir acabavam sempre em morte, sem direito à redenção. A femme fatale não podia ter final feliz.

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Lizabeth Scott faleceu em Los Angeles, Califórnia, em 31 de janeiro de 2015, de insuficiência cardíaca, aos 92 anos.

(Fonte: http://pipocamoderna.virgula.uol.com.br/lizabeth-scott-1922-2015 – por Chloé Monteiro – 17 de fevereiro de 2015)

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