Lawrence Durrell, escritor de língua inglesa. Nascido em Julundun, no norte da Índia

0
Powered by Rock Convert

 

Durrell: artífice do amor moderno

Lawrence Durrell (Jalandhar, 27 de fevereiro de 1912 – Sommières, 7 de novembro de 1990), escritor de língua inglesa. Nascido em Julundun, no norte da Índia, foi para a Inglaterra aos 11 anos de idade. Tentou por quatro vezes ingressar na Universidade de Cambridge. O fracasso o levou à decisão de se tornar escritor. Estreou literalmente em 1931, com Fragmento Original, um volume de poemas. Embora insistisse que a poesia era sua melhor forma de expressão, foi como romancista que Durrell alcançou notoriedade. O seu Livro Negro, de 1938 – escrito na Grécia e publicado na Inglaterra – arrancou do exigente poeta e ensaísta inglês T.S. Eliot o seguinte elogio:
“Esta é a primeira obra que me faz ter alguma esperança na ficção moderna”.

A consagração definitiva de Durrell veio em 1957, com a publicação de Justine, primeiro volume do “Quarteto de Alexandria”, concluído em 1960. Na série, o escritor flertava com a teoria da relatividade de Einstein e a psicanálise de Sigmund Freud, cujas ideias usou para narrar a vida de um grupo de personagens, no Egito. O próprio Durrell vivia no Egito, na época, trabalhando como diplomata, carreira que o levaria a morar, ainda, na Argentina, na Iugoslávia e em Chipre.

Em O Quinteto de Avignon, escrito e publicado entre 1974 e 1986, o escritor leva às últimas consequências as conquistas de O Quarteto. Personagens que dão vida a outros personagens, fartas doses de erotismo e ironia, permitiram a Durrell construir um fascinante quebra-cabeças literário. Casado quatro vezes, pai de três filhos, pintor e praticante de ioga nas horas vagas, Durrell vivia na França desde 1960.

GEOMETRIA AMOROSA – Seu pouco brilho diante de Justine, entretanto, é fruto menos de suas diferentes personalidades e mais dos livros em que nescem: “Enterrada viva”, o segundo romance de uma série prometida como o “Quinteto de Avignon”, perde em limpidez e densidade para o “Quarteto de Alexandria”, obra já entronizada na literatura mundial.

Se em “Quarteto de Alexandria”, o cenário era Alexandria, em o “Quinteto de Avignon”, desta vez é Avignon, cidade ao sul da França e sede do papado na Idade Média, onde se acumularam e perderam os tesouros dos Templários – uma ordem religiosa de peregrinos do século XII, cujas riquezas esquecidas no tempo são a obsessão de dois personagens de  “Quinteto de Avignon”, Lord Galen, um ingênuo e emproado investidor inglês, e seu auxiliar esotérico Quatrefages.

Como em “Monsieur, ou o Príncipe das Trevas”, o primeiro desta série quíntupla, voltam os personagens Blanford e Stucliffe, um escritor e sua criação literária, também ela um homem das letras. Livia, a protagonista de seu romance “Livia, ou Enterrada Viva”, não repete o mesmo feito. Bela porém pouco afeita ao sexo oposto, de inteligência fulgurante mas malignamente propensa a causas indefensáveis, como o nazismo, Livia é ambivalente demais para suscitar o fascinio que fez famosa sua antecessora.

“Livia, ou Enterrada Viva”, repete a fórmula de outros livros seus, é a história de um triângulo amoroso, e de triângulos dentro de triângulos: Blanford, sua primeira esposa Livia e a irmã Constance, que tomará seu lugar; Blanford, sua primeira mulher e a martiniquense Trush, objeto do amor homossexual de Livia; o diplomata Felix, sua paixão Livia e Blanford.

Paralelo a estas combinações ternárias, háo diálogo entre Blanford e Stucliffe: digressões irônicas sobre a literatura, acertos de contas, alusões dentro de alusões completando este labirinto de figuras entrelaçadas, situações gêmeas e jogos de espelho que são o tecido mesmo do romance.

Lawrence Durrell foi, desde os anos 60, um cotado candidato ao Prêmio Nobel de Literatura, com seu “Quarteto de Alexandria”, épico da paixão moderna contado da perspectiva de quatro personagens, Baltazar, Clea, Mountlive e Justine – respectivamente, o título de cada volume. Não ter ganho jamais o prêmio, porém, foi praticamente irrelevante para este inglês, que foi ex-boxeur e pianista de night-clubs e amigo íntimo do escritor americano Henry Miller: nenhuma láurea acadêmica lhe daria tanta celebridade quanto a glória de ter criado, com Justine, o mito feminino da modernidade, misto de Mata-Hari, La Pasionaria e a própria heroína de Sade, a mulher fatal por quem suspirou toda uma geração.

Em uma de suas cartas a Henry Miller, Durrell confessa ter se inspirado em sua primeira esposa para moldar Justine. Durrell viveu no sul da França, com sua terceira esposa, Claude, morta em 1969 e com quem viveu, descansando de uma vida andarilha que o levara da Grécia – onde foi professor por vinte anos – ao Cairo, de lá a Argentina, Chipre e Belgrado, onde foi secretário de imprensa da embaixada inglesa em 1949.

Foi esta vida aventurosa – decalcada aos poucos em toda a sua ficção – que faz de Durrell não só um reinventor de suas memórias, mas um escritor verdadeiramente autofágico. Mas esta intensidade da matéria viva, da experiência, fica um tanto sufocada em “Livia” por uma certa prolixidade, por um recurso excessivo aos jogos de espelho que, em vez de explodirem num enriquecimento contínuo do enredo, acabou às vezes implodindo em cansaço.

Durrell morreu dia 7 de novembro de 1990, aos 78 anos, de embolia pulmonar, em Sommières, sul da França.

 

(Fonte: Veja, 2 de abril de 1980 – Edição 604 – LIVROS/ Por Marília Pacheco Fiorillo – Pág: 67)

(Fonte: Veja, 14 de novembro, 1990 – ANO 23 – Nº 45 – Edição 1156 – DATAS – Pág; 82)

Powered by Rock Convert
Share.