Juan Carlos Paz, musicólogo e compositor argentino.

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O primeiro compositor latino-americano a adotar as técnicas dodecafônicas da Escola Vienense

Juan Carlos Paz (5 de agosto de 1901 – 25 de agosto de 1972), compositor [esteve]na vanguarda da música latino-americana. Ele é, provavelmente, o primeiro compositor [latino-americano] a adotar as técnicas dodecafônicas da Escola Vienense. Contudo, mesmo antes de sua total aceitação das técnicas dos doze sons, ele já representava o melhor do movimento anti-tonal. Em sua Tercera Sonatina , escrita em 1933, Paz fornece-nos um ótimo exemplo do seu anti-tonalismo.

Os três movimentos que constituem a obra devem ser tocados sem a pausa usual feita entre estas grandes seções. Desde o início, torna-se claro que Paz deseja criar uma atmosfera na qual os sons individuais adquiram real importância. Esta preocupação é demonstrada pelas suas indicações exatas e detalhadas de dinâmica, acentuação e toques.

A peça como um todo é concebida horizontalmente com a presença de apenas duas vozes no seu decorrer. O cromatismo permeia a escrita sem que qualquer som exerça controle sobre os demais. Cada som, cada figura tem importância própria, devido às forças controladoras da atonalidade.
Os compassos de abertura do 1 o movimento (c. 1-3) apresentam um material importante, a partir do qual a peça inteira será construída. Esta frase inicial não é desenvolvida da maneira tradicional, sendo que os intervalos ali identificados passam a ser sonoridades fundamentais, tonando-se a base para a maioria dos eventos posteriores da peça. Como uma invenção a duas vozes livre, a música torna-se envolvente por transformar os diferentes eventos. A métrica oscila constantemente entre unidades de dois, um e três tempos por compasso. Estas mudanças, acrescidas de indicações de fraseado que não correspondem à métrica convencional na maior parte das vezes, torna a música ainda mais imprevisível.
(Fonte: http://www.ufrgs.br/gppi/obras)

INTRODUÇÃO À MÚSICA DE NOSSO TEMPO
Juan Carlos Paz (Buenos Aires, 5 de agosto de 1901 – Buenos Aires, 25 de agosto de 1972), musicólogo e compositor argentino. Paz nasceu em Buenos Aires em agosto de 1901, onde estudou piano com Roberto Nery e composição com Constantino Gaito e Fornarini. Parece reservada à música a fatalidade de ser, sempre, a arte onde a tradição e o reacionarismo resistem mais vigorosamente, e por mais tempo. Quando Picasso, em 1908, inventou a pintura cubista, teve logo o apoio de intelectuais ilustres, de marchands de olho vivo, e de ricos (ou novos-ricos) dispostos a consumir sua extravagância. Já Igor Stravinsky, ao estrear em 1913 em Paris seu balé “A Sagração da Primavera” – marco de um novo idioma musical -, mereceu repolhos e tomates sobre o palco, ou pouco menos do que isso.

Pode ser que o fenômeno se relacione com a quantidade de público envolvido. Mas de qualquer forma não é novo. Em 1332, o papa João XXII bania da Igreja “certos discípulos de uma nova escola que substituem os antigos cantos por outros, cortam as melodias, confundem os tons, correm e não encontram descanso, embriagam os ouvidos e não curam as almas”. E talvez também aí esteja um pouco do segredo: a ideia de que cabe à música a tarefa de “curar as almas”, funcionando como uma espécie de terapia para o homem, ao fim de um dia exaustivo de trabalho.

Lenta aceitação – Esta é, de fato, uma das faculdades da música – mas está longe de explicá-la, esgotá-la ou legitimá-la como arte. Por isso, é natural que os compositores do século 20 – como todos os demais artistas de seu tempo – reflitam um universo onde há angústias, cisões e incertezas, metafísicas ou não.

Tudo isso justifica que, em 1955, o compositor Juan Carlos Paz tenha escrito sua apaixonada “Introdução à Música de Nosso Tempo”. E justifica também que a obra, traduzida no Brasil mais de vinte anos depois, continue a valer. Hoje, como naquela época, a música moderna permanece para a maioria como um monstro de sete cabeças, especificamente destinado a aterrar os ouvidos. É curioso como, neste campo, a adaptação das plateias se faça tão mais lenta. A pintura abstrata, frequenta qualquer casa burguesa, e complementa os sofás. Mas a música erudita, em termos de grande público, parou praticamente com a obra de Maurice Ravel (que morreu em 1937).

Os russos Serge Prokofieff (1891-1953) e Igor Stravinsky (1882-1971) também têm alguns ouvintes. Mas os verdadeiros revolucionários da linguagem – o austríaco Arnold Schoenberg (1874-1951), criador do dodecafonismo, seus seguidores Alban Berg (1885-1935) e Anton von Webern (1883-1945), e outros – permanecem um requinte de minorias. Para não falar em todo o experimentalismo que sucedeu às suas conquistas, na música eletrônica, na música concreta, nas invenções atrevidas do americano John Cage, e nas pesquisas recentes, com computador e composição aleatória.

Ataques apaixonados – Para um livro de História, o de Juan Carlos Paz possui um defeito imperdoável: não foi imparcial. Escrito num momento em que as disputas ainda eram mais acirradas, ao nível dos próprios músicos, e incluíam componentes ideológicos, revela a tomada de posição de um dodecafonista convicto (inclusive como compositor). Defende, por extensão, todas as formas voltadas à vanguarda. O tom se mostra, excessivamente polêmico e enfático, mas a verdade é que nada disso prejudica as grandes qualidades do estudo.

Primeiro, sua oportunidade inquestionável. Segundo, a capacidade de expor com clareza e didatismo o assunto, precisando movimentos, fontes, contribuições individuais, acertos e equívocos. Terceiro, a hábil dosagem ao combinar o inventário de fatos e a análise histórica mais o background estético que se esconde por trás de todos eles. Enfim, uma rara coragem (que vem da parcialidade mas é lúcida) para emitir juízos de valor.

Alguns deles seriam hoje revisáveis. O austríaco Arnold Schoenberg. Há uma certa tendência, a exagerar no julgamento de compositores (naturalmente vanguardistas) cuja obra se provou, com o tempo, mais importante do que rica. E há, é obvio, a tendência ao oposto. Mesmo grandes gênios – como Igor Stravinsky – que resvalaram por posições éticas ou estéticas conservadoras não merecem maiores transigências. Juan Carlos Paz explica a fase “neoclássica” de Stravinsky (de fato a mais pobre) como “cômodo cinismo de burguês decadente”, “último representante de uma classe social e de uma categoria de arte que já pertence, irremissivelmente, ao passado”. O que não o impede, contudo, de reconhecer, no Stravinsky de outras eras, algumas qualidades e grandes obras.

Igualmente radical – mas estimulante – é a opinião de Juan Carlos Paz sobre as tendências nacionalistas (onde se enquadra toda a música brasileira oficialmente consagrada). O único músico do país a merecer uma análise mais ampla é, evidentemente, Heitor Villa-Lobos: é o autor de uma obra “enorme, caótica”, esteticamente “oscilante entre um verismo pucciniano, um objetivismo à Stravinsky, um sentimento primário e um transbordamento habitual para o ruidoso, o desmesurado ou o incontrolado”. Pode-se discordar, em parte, ou mesmo explicar Villa-Lobos como uma das vertentes do “barroquismo” brasileiro. O que, de qualquer forma, só deve acender mais no Brasil o interesse em torno da pessoa e da obra de Juan Carlos Paz, o único a ter pensado e escrito palavras tão candentes sobre uma de nossas glórias nacionais.
(Fonte: Veja, 3 de maio de 1978 – Edição n° 504 – LITERATURA/ Por Olívio Tavares de Araújo – Introdução à Música de Nosso Tempo, de Juan Carlos Paz – Pág; 110/112 e 114)

Música Atonal, Pintura Abstrata – Wassily Kandinsky (1866-1944), artista russo que em 1939 adquiriu nacionalidade francesa, foi o introdutor da abstração nas artes visuais.

Arnold Schoenberg (1874-1951), compositor austríaco, foi o criador do dodecafonismo, um dos mais revolucionários e influentes estilos de composição do século XX. Em 1911, exatamente no momento em que o músico rompia com a tonalidade e o pintor começava com a pintura abstrata, Kandinsky foi assistir um concerto de Schoenberg, em Munique – no qual foram executadas as “Três peças para piano Op. 11” e o “Quarteto de Cordas Op. 7”, que são também as obras do programa desta apresentação do Quarteto Kandinsky que abre a série “Das notas que ouviam cores surgiam”. Kandinsky ficou fortemente impressionado pelo que ouviu. Aquela foi para ele uma experiência musical tão intensa em termos de pensamentos visuais que o inspirou a pintar “Impression III (Concert)”.

Começava ali uma grande amizade entre os dois artistas que tinham em comum a busca da evolução de suas linguagens. A relação intelectual entre os dois, marcada por frequente troca de correspondências e influências recíprocas, prosseguiu até a morte do pintor, mas o contato pessoal entre eles durou apenas três anos, até 1914 – ano em que Kandinsky deixou a Alemanha e voltou a Moscou.
(Fonte: http://www.concertino.com.br)

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