Joseph Roth, foi um jornalista e cronista, afiado do mundo instável do entreguerras

0
Powered by Rock Convert

Joseph Roth: crônica da dissolução europeia do entreguerras

O cronista da catástrofe

Joseph Roth (Brody, 2 de setembro de 1894 – Paris, 27 de maio de 1939), foi um jornalista e cronista, afiado do mundo instável do entreguerras – em particular, da dissolução do outrora gigantesco Império Austro-Húngaro.

O autor foi correspondente em Paris e Berlim durante anos) e romancista de pendor épico, Roth monta um grande painel do mundo austro-húngaro anterior à I Guerra Mundial.

Nos dois romances breves mas poderosos Hotel Savoy (1924) e A Lenda do Santo Beberrão, representam bem os dilemas morais e até religiosos de uma Europa colhida entre duas catástrofes.

Hotel Savoy tem como protagonista Gabriel Dan, “judeu russo egresso de um campo de concentração na Sibéria”. Judeu russo que, em uma cidade não nomeada, se hospeda no hotel do título, ambiente cosmopolita mas decadentista.

A lenda do santo beberrão é uma breve narrativa sobre Andreas, habitante miserável das ruas de Paris acostumado a adormecer sob as pontes do Sena. Procura viver um dia por vez aplicando seu escasso dinheiro naquilo que lhe é prioridade: a bebida.

Certa manhã entra em cena a figura do salvador, um indivíduo elegante que se encontra com Andreas ao acaso, crente de sua benevolente posição enquanto mensageiro de Deus. Ao mendigo ele concede um generoso empréstimo em dinheiro, que deverá ser pago a Santa Terezinha na capela de Sainte Marie des Batignolles – mais por insistência de Andreas do que pela vontade do elegante cavalheiro. Em seguida o salvador desaparece e a partir daí a sorte muda para o anti-herói, em uma sucessão de acontecimentos insólitos que preenchem de absurdos a prosa de Roth, sempre repleta de surpresas.

Roth: judeu cosmopolita, ele se preocupava com a bestialidade política representada por Hitler

Roth: judeu cosmopolita, ele se preocupava com a bestialidade política representada por Hitler

 

ABISMO DA EUROPA

Roth: judeu cosmopolita, ele se preocupava com a bestialidade política representada por Hitler

“Temos tantas obrigações para com Voltaire, Herder, Goethe e Nietzsche quanto as temos para com Moisés e seus pais judeus.” Assim escrevia o romancista e jornalista judeu Joseph Roth a seu amigo, o vienense e também ele escritor e judeu Stefan Zweig, em 1933, poucos meses depois da chegada ao poder de Adolf Hitler na Alemanha.

Na obra-prima de Marcha de Radetzky, Roth, reconstituiu, em tom melancólico, o fim do Império Austro-Húngaro. Alarmado com a crescente inclinação europeia à cegueira moral e à bestialidade política, Roth buscava expressar com essa frase poderosa não a idolatria intelectual do típico judeu culto e cosmopolita – coisa que ele era -, mas algo mais fundo na sua psicologia: o sentimento de pertencer a uma civilização em vias de desaparecer.

Nascido em Brody, na atual Ucrânia, em setembro de 1894, Joseph Roth seria para sempre um produto e um súdito leal do Império Austro-Húngaro, do imperador Francisco José I. E razões para tanto não lhe faltavam: a monarquia dos Habsburgo criou, ainda que precariamente, um vasto império multiétnico no qual gerações de judeus puderam viver em certa paz, apesar de toda a rigidez do império comandado por Francisco José. Sem aventuras típicas do épico – sensação de catástrofe iminente, de colapso antevisto. Ele viria, de fato, e Roth e seu amigo Stefan Zweig foram vítimas muito peculiares do desmoronamento do mundo a que pertenceram.

A história tem lugar em Paris, cidade onde o inquieto Roth morreu em maio de 1939.

(Fonte: Veja, 2 de outubro de 2013 – ANO 46 – N° 40 – Edição 2341 – Veja Recomenda – LIVROS – Pág: 136)
(Fonte: http://www.amalgama.blog.br/10/2013 – ATUALIDADE & CULTURA /por Douglas Marques (31/10/2013)

(Fonte: Veja, 11 de fevereiro de 2015 – ANO 48 – Nº 6 – Edição 2412 – Livros/ Por Eduardo Wolf – Pág: 95)

Powered by Rock Convert
Share.