José Pancetti, considerado um dos grandes paisagistas da pintura nacional

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A luz da Bahia

Pancetti: o amor por Itapoã

Importante artista brasileiro

José Pancetti (Campinas, 18 de junho de 1902 – Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1958), pintor modernista brasileiro. Considerado um dos grandes paisagistas da pintura nacional, destaca-se por suas numerosas e belas marinhas.

Pancetti foi um artista autodidata, pintor natural, que conseguiu captar tudo ao seu redor. Sem filiação a qualquer escola artística, o pintor inpirou-se nas paisagens litorâneas brasileiras, tema comum de sua obra, sendo famosas as suas marinhas.

Até hoje considerado o maior paisagista moderno do Brasil, o artista retratou em pinturas sua essência como indivíduo, registrando lugares e transmitindo suas sensações como se criasse inconscientemente uma biografia pictórica. Sua obra carrega suas experiências e um pouco de cada lugar que conheceu; e não foram poucos.

Em 1932, o pintor tem sua primeira marinha publicada no jornal A Noite Ilustrada, sob o título, “Um Amador da Pintura”. Ao ver seu desenho, o escultor Paulo Mazzuchelli, aconselha-o a ingressar no recém-criado Núcleo Bernardelli, um conselho repetido pelo pintor Giuseppe Gargaglione, a quem Pancetti conheceu passeando pelo Campo de Santana, no Rio de Janeiro.

Acatando a sugestão, ingressa no Núcleo Bernardelli em 1933, onde teve como principal orientador o pintor Bruno Lechowski. No Núcleo, uma escola livre que funcionava nas dependências do edifício da Escola de Belas Artes, Pancetti teria como companheiros pintores que, ao passar do tempo, viriam a ganhar notariedade como, entre outros, Edson Motta (1910-1981), José Rescala (1910-1986), Ado Malagoli (1906-1994), Bustamante Sá (1907-1988) e Silvio Pinto (1918-1997).

Quando aportou na Bahia, ex-marinheiro, reformado como segundo tenente, no início da década de 50, o artista literalmente trocava seus trabalhos por objetos, comida e bebida. Vendia uma pintura para gastar os lucros numa noitada. Era um hábito bem típico de Pancetti.

Cascos de navio – Nascido em 18 de junho de 1902 em Campinas (SP), com o nome de Giuseppe Giannini Pancetti, em seus 56 anos de vida esse artista de rosto talhado a faca, corpo miúdo, ombros desproporcionalmente largos, voz branda e temperamento excêntrico, chegou a fazer de tudo.

Foi operário em tecelagem, ourives, carregador de bagagem, grumete, pintor de cascos de navio. Nem mesmo depois de abandonar a Marinha de Guerra, que o empregou de 1922 a 1947, Pancetti conseguiu se fixar num costume ou num lugar.

Nos anos 40, pintor já conhecido e até mesmo premiado, mudou-se sucessivamente de Campos do Jordão (SP) para São João del Rei (MG), de Cabo Frio (RJ) para Mata de São João (BA). Ao pisar na Bahia, porém, jamais a abandonou, até morrer de câncer, definhado, “um feixe de ossos”, como diziam alguns amigos, em 10 de fevereiro de 1958.

Foi “a luz da Bahia”, aliás, que deu a Pancetti a mais importante de todas as musas que retratou – Itapoã. Da maioria dos quadros pintados, todos com a mesma luminosidade, as cores cruas, as pinceladas densas e as perspectivas ousadas que sempre marcaram sua obra, pelo menos quinze retratam seu amor pela praia que considerava “o princípio do mundo”.

Dos pintores que, em meados dos anos 30, se reuniram no núcleo Bernardelli, incluindo até Milton Dacosta e Sigaud, no Rio de Janeiro, José Pancetti foi quem alcançou maior notoriedade, de tal modo que, já no final da década de 40, estava entre os cinco grandes nomes da pintura brasileira.

Se até então o seu prestígio se limitava ao meio artístico, nos anos 50 ampliou-se e traduziu-se em termos de mercado: de 1955 a 1957, Pancetti vendeu 300 obras no valor de 2,84 milhões de cruzeiros, o que, na época, constituiu um recorde.

Já então surgiram os quadros falsos cujo número se ampliaria após a sua morte. Isso não impediu que a cotação dos seus quadros continuasse a subir, exemplo de sua obra “Campos de Jordão” (1943), que na época  obtiveram preço recorde. Desenhos datados de 1940 a 1954, cobre quase todo o período de maturidade do pintor, de nível de qualidade bem expressivo da arte desse pintor que trabalhava muito mais com o sentimento que com a cabeça.

Certamente por isso, quando o sentimento arrefece, sua pintura beira a banalidade, como é o caso de muitos dos seus quadros da fase final, quando apenas a habilidade e o bom gosto sustentam o trabalho. Isso também ocorreu mais vezes, ainda que com menos frequência, em outras épocas.

Era um risco implícito na arte de um pintor que, como Gauguin, queria fazer de sua pintura a expressão crua da experiência vivida. Foi nessa direção que ele caminhou, despojando-se dos recursos acadêmicos que aprendeu, depois de pintar dez anos como um ingênuo.

Os refinamentos impressionistas tampouco correspondiam a sua sensibilidade de homem afeito à vida rude de marinheiro. Essa “rudeza” está em sua pintura: na pincelada áspera e direta, na simplificação dos planos e das figuras.

FIEL AO MAR – Seu aprendizado consistiu em interiorizar de tal modo a técnica, que ela não interfere na elaboração do quadro, não distancia o pintor de seu objeto: o marinheiro-pintor continua marinheiro quando pinta. E marinheiro, de fato, ele foi durante toda a vida, mesmo depois que despiu a farda no posto de primeiro-tenente da Marinha de Guerra.

De cavalete às costas, prosseguiu perambulando pelas praias do Estado do Rio de Janeiro até fixar-se na Bahia. “Se pudesse recomeçar a vida”, escreveu dois anos antes de morrer, de câncer, “seria novamente marinheiro”. E quando minado pela doença, já lhe faltam as forças, recebe do mar o estímulo para continuar pintando: “O ar  vindo do oceano. Aquele ar, este ar, que me alimenta desde criança”, anotou em seu diário.

(Fonte: Veja, 2 de julho de 1975 – Edição 356 – ARTE – Pág: 84/85)

(Fonte: Veja, 16 de abril de 1980 – Edição 606 – ARTE/ Por Ferreira Gullar – Pág: 117)

 

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