José de Anchieta, padre jesuíta espanhol, de imenso bem pastoral que proporcionou ao Brasil.

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Anchieta nos altares

Roma abriu mão da comprovação de milagres a fim de que o Brasil tivesse seu primeiro beato

José de Anchieta (Ilhas Canárias, Espanha, 19 de março de 1534 – Espírito Santo, 9 de julho de 1597), padre jesuíta espanhol, beato brasileiro de imenso bem pastoral que proporcionou ao Brasil. Sua fama de santo estava à espera de um definitivo reconhecimento oficial. O papa Clemente XII, no século XVIII, deu-lhe o título de Venerável Servo de Deus.

Quando o papa João Paulo II desembarcou no Brasil,no dia 13 de julho de 1980, o padre José de Anchieta foi oficialmente venerado como o primeiro brasileiro a ascender à glória dos altares. Seu processo de beatificação, primeiro passo rumo à canonização, iniciado no século XVII e praticamente parado desde 1910, recebeu em 29 de janeiro de 1980, o impulso decisivo para a conclusão.

Os 21 cardeais membros da Sagrada Congregação para a Causa dos Santos, após uma longa sessão plenária, em Roma, decidiram propor ao papa que, no caso de Anchieta, não seja necessária a comprovação documental dos dois milagres de primeira grandeza exigidos dos candidatos à beatificação.

Com isso, ficou removido o único obstáculo consistente para o encerramento do processo de beatificação, esperada por uma declaração do papa. Segundo o “Index Status Causarum Beatificationis Servorum Dei”, a última reunião plenária da Congregação dos Santos para estudar o caso Anchieta, no dia 15 de novembro de 1910, não ultrapassou a fase antepraeparatoria super miraculis por intransponíveis dificuldades em provar que, “graças a sua intercessão e da maneira mais documental possível, ocorreram pelo menos dois feitos extraordinários, que fogem às leis da natureza.”

Na longa história da Congregação dos Santos, fundada em 1588 pelo papa Sisto VI, com a bula “Immensa Aeterni Dei”, é a primeira vez que se contorna tal exigência. Normalmente, cada milagre deve, primeiro, ser examinado tecnicamente por duas comissões de médicos e cirurgiões. Ultrapassados esses crivos é que ele passa definitivamente a fazer parte do processo, em que mesmo assim poderá ser objeto de discussões entre o “postulador” (advogado da causa) e o “promotor da fé” ou “advogado do diabo”, meticuloso contestador de todas as provas trazidas pelos interessados na causa.

Mas a grande dificuldade da Congregação dos Santos foi sempre estabelecer uma divisão entre o que era sagrado e mítico na biografia anchietana, quando não teve ela mesma de esclarecer a verdade histórica em episódios deturpados pela política colonial.

Assim, em seu processo figuram do depoimento de um sacristão que o viu “alevantar-se do chão, durante a consagração” a episódios do tempo em que ele foi refém dos tamoios na praia de Iperoígue, quando escreveu na areia o clássico poema dedicado à Virgem Maria, após recusar as moças que os índios lhe ofereciam em prova de amizade; ou, ainda, a cena em que, aso gritos, Anchieta se pôs a pregar em tupi, depondo as armas de um grupo de índios que pretendiam executar a ele e a Manuel da Nóbrega.

Houve um episódio, que nocauteou a causa de beatificação de Anchieta. Ao que tudo indica, em 1567, durante a expulsão dos calvinistas franceses que haviam invadido o Rio de Janeiro, ele ensinou um carrasco a apressar o enforcamento de um anônimo soldado inimigo capturado durante a batalha. Mas a Congregação dos Santos cedeu ao argumento de que Anchieta agiu assim “diante da imperícia do verdugo, que expunha o réu, impaciente e violento como era, a sentimentos de desespero ou de ódio que aumentariam as penas a pagar no inferno.”

Embora nascido nas ilhas Canárias, Espanha foi no Brasil que Anchieta não só passou 47 de seus 63 anos de vida como também se habilitou para um dia figurar no painel de 2 500 santos católicos.

O movimento para transformá-lo em beato começou vinte anos após sua morte, em 1617, por iniciativa de seus confrades, os jesuítas, e sua causa foi aceita pelo papa Urbano VII, em 1627. Já enfrentou três “advogados do diabo”, entre os quais o exímio canonista Próspero de Lambertinis, futuro papa Bento XIV, e em seu favor depuseram até hoje 208 testemunhas. Vissitudes, como a expulsão dos jesuítas do Brasil e de Portugal, em 1759, por ordem do marquês de Pombal, são apontadas como causas de tanta demora.

(Fonte: Veja, 6 de fevereiro de 1980 – Edição n° 596 – Religião – Pág; 64/65)

Apesar de ter nascido nas Ilhas Canárias, Anchieta ficou conhecido como o “apóstolo do Brasil” por sua atuação no país.

Além de ter participado da fundação de São Paulo, em 1554, ele esteve também no Rio de Janeiro, no Espírito Santo e em cidades do Nordeste.

(Fonte: www1.folha.uol.com.br/poder/2014/03/1422767- PODER – BRUNO BENEVIDES – 09/03/2014)

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