José Antônio Daudt, deputado estadual pelo PMDB gaúcho. Jornalista muito conhecido no RS.

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José Antônio Daudt, deputado estadual pelo PMDB gaúcho, eleito em 1986. Jornalista muito conhecido no Rio Grande do Sul, ganhou projeção nacional no final do mês de maio de 1988, quando conseguiu aprovar um projeto que proíbe a comercialização, no Rio Grande do Sul, de aerosóis que contenham clorofluorcarbono – uma substância que destrói a camada de ozônio da Terra, responsável pela filtragem dos raios ultravioleta do Sol. A iniciativa de Daudt, inédita no Brasil, foi acompanhada, pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, que também proibiu a comercialização desse tipo de aerosol no Estado.

Ao voltar para sua residência, no edifício Cristine, no bairro de Moinhos de Vento, em Porto Alegre, na noite do sábado 4, o deputado estadual Daudt, do PMDB, cumpriu um ritual corriqueiro. Estacionou o carro num posto de gasolina em frente ao seu prédio e atravessou a rua. Ao chegar ao portão de entrada, porém, foi alvejado por dois tiros de uma espingarda, disparados por um homem que fugiu, em seguida, em um Monza cinza. Atingido, Daudt só teve forças para pronunciar uma frase diante de dois policiais que faziam a ronda do bairro e o socorreram imediatamente. “Olhem o que fizeram comigo”, disse. O deputado moreu ao chegar no Hospital Pronto-Socorro de Porto Alegre. Em Porto Alegre, cerca de 4 000 pessoas foram ao enterro de Daudt, a Assembleia permaneceu fechada por três dias e o governador Pedro Simon decretou luto oficial no Estado.

PAI SOLTEIRO – A morte do deputado, seguida de uma investigação, revelaria uma faceta até então pouco conhecida de sua personalidade. Jornalista polêmico e agressivo, Daudt costumava encerrar sua participação no programa Jornal do Almoço, da TV Gaúcha, com um murro na mesa. Em seu gabinete, na Assembleia Legislativa, recebia as pessoas estranhas com um revólver calibre 38 sobre a mesa, ao alcance da mão. Andava armado pela rua e parecia temer um ataque de surpresa, o que se poderia explicar pelo tom de seus programas, na TV e numa rádio, e pela facilidade com que atacava pessoas e fazia inimigos.

Revelou-se que, desde a campanha de 1986, Daudt tinha um romance com o modelo publicitário Antônio Eduardo Russo, de 23 anos. “Aos 48 anos, sou um pai solteiro com um filho que hoje tem 23 anos de idade”, escreveu o deputado, há três meses, num depoimento ao Serviço de Pesquisa do Museu da Assembleia Legislativa. “Nunca tive coragem de assumi-lo ao longo do tempo, mas procurei corrigir o erro a partir de uns três, quatro anos. Hoje, mantenho com este moço o melhor relacionamento”, relatou o deputado na ocasião, referindo-se a Russo. Não era verdade. “Ele gostou muito do meu filho e queria adotá-lo para poder viver com ele”, afirma o verdadeiro pai do rapaz, o garçom Leonardo Russo, que mora num bairro modesto de Porto Alegre, o Partenon.

JURAS DE AMOR – Russo contou à polícia que recebia uma mesada por mês do deputado e que, no início de 1988, Daudt deu-lhe um automóvel de presente. A polícia descobriu ainda que Daudt era assediado por uma mulher, Vera Mincarone Dexheimer, ex-mulher do deputado estadual Antônio Dexheimer, também do PMDB e vizinho de gabinete do deputado assassinado.

“Eu estava apaixonada por ele, mas não era correspondida”, contou Vera num depoimento à polícia. Segundo informou, um dia antes do crime teve sua bolsa roubada do gabinete do ex-marido, onde há expediente – e, dentro da bolsa, havia uma carta endereçada a Daudt, recheada de juras de amor.

Neste depoimento, a polícia pinçou um primeiro suspeito do crime. Segundo Vera, seu ex-marido possuía uma espingarda calibre 12 – do tipo da que foi usada pelo assassino de Daudt. O deputado Dexheimer é proprietário ainda de um Monza cinza, carro igual, segundo testemunhas, ao usado pelo assassino. A espingarda foi apreendida pela polícia, mas constatou-se numa perícia que não havia sido usada recentemente. “Não fuiu eu, estava bebendo com amigos”, afirma Dexheimer. Os amigos, no caso, são o artista plástico e médico anestesista, Marcos Arcoverde, e sua mulher, Maria Alice. Eles foram efetivamente à casa de Dexheimer na noite do crime e tiveram de esperá-lo até depois das 22 horas – Daudt morreu em torno de 22h30. Maria Alice não se recorda com exatidão da hora em que o deputado apareceu. “Sei que passava das 22 horas porque conversávamos com o pai do deputado na sala, onde tem um relógio grande que bateu às 10 horas da noite”, conta Maria Alice. Daudt morreu dia 4 de junho de 1988, aos 48 anos, assassinado a tiros de espingarda, em Porto Alegre.

(Fonte: Veja, 15 de junho, 1988 – Edição N° 1032 – DATAS – Pág; 91 – O Caso Daudt – Pág; 36)

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